quinta-feira, 19 de março de 2009

FESTIVAL INTERCÉLTICO DO PORTO

.... Todos nós lamentamos o que está a acontecer ao Porto que, do ponto de vista cultural, não é nada. Uma lacuna que está a ser sistematicamente camuflada através de coisas episódicas, com alguma monumentalidade: o festival aéreo, as corridas de automóveis, fogos de artificio….

Mário Cláudio in revista “Tripeiro”, Janeiro de 2008



Tudo começou em 19 de Dezembro de 1969, com a edição de uma revista dedicada à divulgação das músicas do nosso (des)contentamento, num tempo de resistência e de cantos teimosos e militantes, que ousaram desafiar o silêncio oficial, recusando barreiras e mordaças em nome da dignidade e da liberdade. Nas suas páginas a mundo da canção assumiu a força da palavra, com naturais limitações, mas sempre firme no desejo e vontade de contribuir para a denúncia de tudo quanto compunha o quadro de mentira e alienação cultural.

A partir de Julho de 1985, já depois do 25 de Abril, a revista MC deixou as bancas e passamos então à organização, produção e divulgação de concertos e festivais, numa dinâmica cultural sobretudo ligada à cidade do Porto.

Durante este período realizamos 8 Festivais de Jazz do Porto (Paolo Conte, Dave Holland, Leroy Jones, Enrico Rava, Michel Petrucciani, Tete Montoliu, Charles Lloyd, Daniel Humair, Kenny Garrett, Antonio Hart, Brad Mehldau) e 17 edições do Festival Intercéltico do Porto e muitas dezenas de concertos, trazendo à Invicta nomes fundamentais como Léo Ferre, Georges Moustaki, Astor Piazolla, Miles Davis, Paco de Lucia, Egberto Gismonti, Atahualpa Yupanqui, Nara Leão, Gal Costa, Gilberto Gil, Pablo Milanés, B.B. King, Milton Nascimento, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Cesária Évora, entre tantos e tantos outros, mas também os portugueses José Afonso, Sérgio Godinho, Carlos Paredes, José Mário Branco, Trovante, Maria João Pires, Rui Veloso, etc., etc.


FESTIVAL INTERCÉLTICO DO PORTO


A primeira edição aconteceu em Abril de 1986, tendo passado pelas várias salas da cidade: Rivoli, Coliseu, Cinema do Terço (que acaba de ser desmantelado), Cinema Carlos Alberto e nos últimos anos no Cinema Batalha.

Ao longo destas 17 edições a cidade recebeu alguns dos nomes mais relevantes da chamada música celta, entre os quais se destacam irlandeses como The Chieftains, Dervish, Andy Irvine, Four Men and a Dog, Lunasa, Maddy Prior, De Dannan, Fairport Convention, Patrick Street, Altan, Kíla e Solas, mas também grupos de outras nacionalidades como os portugueses Fausto, Brigada Vítor Jara, Júlio Pereira, Amélia Muge, Vai de Roda, Gaiteiros de Lisboa, ou os galegos Emílio Cao, Na Lua, Luar na Lubre, Carlos Nuñez, Berroguetto, La Musgaña, Xosé Manuel Budiño, Mercedes Péon, Susana Seivane, entre muitos outros, ou ainda Márta Sebestyen e os Muzsikás, Värtinä, Gwendal, Kepa Junkera, Alan Stivell, Skolvan, Garmarna, Celtas Cortos, Kornog e tantos outros. Ao longo dos anos a elite da música folk/celta visitou esta cidade do Porto, dando a conhecer o seu trabalho.

Em 17 de Setembro do ano passado demos início à preparação daquela que seria a 18ª edição do FIP e apresentamos, à estrutura camarária para a Cultura e Desporto (Porto Lazer) um pedido de apoio (€ 20.000) para um projecto especialmente dedicado à Irlanda e que incluía, para além dos habituais concertos, animação de rua na Praça da Batalha e na Rua de Stª Catarina. Como a resposta tardava, em 12 de Dezembro enviamos novo ofício à “Porto Lazer”. Em 27 de Janeiro e uma vez que ainda não tínhamos tido qualquer noticia, renovamos o nosso pedido por email até que atingida a data limite, no inicio de Março, e mantendo-se o silêncio por parte da “Porto Lazer” fomos forçados a abandonar o projecto, uma vez que a 18ª edição do FIP estava agendada para os dias 17 e 18 de Abril, sendo que num mês não é possível concretizar um projecto desta envergadura.



“CAÇADORES DE SUBSÍDIOS”

No dia 4 do corrente mês, numa pequena nota, demos conta à Comunicação Social desta situação, o que provocou uma onda de interesse e curiosidade sobre o futuro do Intercéltico, tendo sido contactados por inúmeros jornalistas que nos questionaram sobre o que se passava, aos quais relatamos a verdade e os factos, lamentando a falta de respeito com que fomos tratados, uma vez que a “Porto Lazer”, revelando um profundo desprezo pelos cidadãos desta cidade, nem sequer se dignou responder à correspondência que lhe foi enviada.
Toda esta movimentação teve eco nos diversos media pelo que os responsáveis da Autarquia sentiram necessidade de se justificar e não tendo quaisquer argumentos honestos que pudessem apresentar, usaram da mais baixa ignomínia, distribuindo um comunicado no qual acusam os responsáveis pela organização do FIP de “caçadores de subsídios”, revelando assim a falta de ética e toda a mesquinhez que tem caracterizado a sua actuação.

Todos conhecemos o deserto cultural que a governação autárquica destes últimos 8 anos trouxe à nossa cidade, o qual contrasta flagrantemente com o incremento de actividade que se verifica nas cidades vizinhas, transformando o Porto numa coutada daqueles que sempre que ouvem falar de cultura, seja música, teatro, dança ou artes plásticas puxam logo da pistola e medem o interesse das realizações pelo numero de votos que estas lhes podem render, com vista à manutenção dos lugares que tão ciosamente tentam manter, desprezando, do alto da sua ignorância, os interesses dos cidadãos e o desenvolvimento da cidade, assim se compreendendo o especial empenho com que privilegiam eventos como as corridas de automóveis da Boavista e os aviões no Douro, que lhes permitem pavonearem-se nas televisões, mas que custam milhões ao erário público, como acontece com as referidas corridas da Boavista que custam aos contribuintes portugueses 3 milhões de euros.

A nós não nos impressionam os fogos de artifício e os megafones. Há 40 anos que alimentamos um projecto e prosseguimos o nosso trabalho, com coerência e determinação e não serão acusações mesquinhas e falsas de quem despreza a cultura que nos vai fazer recuar ou interromper a nossa luta.

Assim, já em Abril apresentaremos, na Casa das Artes dos Arcos de Valdevez, as “Noites Intercélticas” e em Maio vamos trazer a Portugal, um dos grandes cantautores de Espanha – PATXI ANDIÓN – que vai realizar uma série de quatro concertos: Figueira da Foz, dia 13. Lisboa, dia 14. Porto (Casa da Música) dia 15 e no Teatro Municipal da Guarda a 16 de Maio.


Esperamos que o próximo Outono traga ventos de mudança aos destinos desta cidade e que finalmente seja possível inverter o rumo e iniciar a recuperação do tempo perdido nestes anos sombrios de estagnação.


Nota: para conhecer a história dos “Caçadores de subsídios” deve consultar o site www.discantus.pt assim como o blog http://festivalintercelticoporto.blogspot.com


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