quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O mais espantoso de tudo é...

«O que espanta não é o facto de haver gente que rouba, de haver quem faça greve; mas sim o facto de haver esfomeados que não roubam, de haver explorados que não fazem greve»

Wilhelm Reich

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Partiu Duarte Figueira

É com enorme pesar que vos reencaminho este e-mail em anexo, onde se dá conhecimento do falecimento do nosso sócio Duarte Figueira.

Cordiais saudações
Vasco Lourenço

Cumpro o dever, particularmente ingrato pelas relações de amizade que nos uniam, de participar o falecimento do sócio nº 1 da AOFA COR ART (REF) João António Duarte Figueira.
O corpo encontrar-se-á na Igreja Nova de Linda-a-Velha, a partir da tarde de hoje.
Amanhã, pelas 15H00, terá lugar a missa de corpo presente, seguindo-se o funeral para o cemitério de Carnaxide.
Os últimos meses do nosso camarada foram passados no meio de grande sofrimento, mas honrando até ao fim a única forma que ele conhecia de estar na vida: dando luta à doença impiedosa que o minava.
Em 1992, com centenas de outros oficiais, protagonizou a oposição declarada a um projecto de lei iníquo, que o Governo de então designava eufemísticamente por “racionalização de efectivos”, mas que visava, apenas e tão-somente, retirar das Forças Armadas, sem um mínimo de dignidade, oficiais e sargentos considerados excessivos face à reestruturação então operada.
O GEN Loureiro dos Santos, então CEME, demitiu-se inclusivamente das suas elevadas funções por discordar frontalmente do articulado originalmente proposto.
O processo desencadeado pelos nossos camaradas – que, é bom lembrá-lo, enfrentavam um quadro muito mais restritivo sob o ponto de vista do exercício de direitos de cidadania - passou, inclusivamente, por um abaixo-assinado depositado nas mãos do então Presidente da República, Dr. Mário Soares.
Por ser de justiça, devo recordar que o PR resistiu a todas as tentativas do Governo da época para que lhe fossem entregues as centenas de assinaturas constantes no abaixo-assinado.
O que é certo é que a luta dos nossos camaradas valeu a pena e o diploma que foi publicado, a Lei nº 15/92, de 5 de Agosto, que ficou conhecida como “Lei dos Coronéis”, era consideravelmente melhor que o projecto inicial.
Terminado o processo e por se terem apercebido que os oficiais tinham estado desamparados na defesa dos seus legítimos direitos e expectativas, doze camaradas, com o COR Figueira à cabeça, registaram notarialmente a AOFA em 12 de Outubro de 1992. Dos doze, quatro já desapareceram do nosso convívio.
“Para que nunca mais nos suceda o mesmo!”, era o seu lema.
De então para cá, o COR Figueira nunca deixou de estar ligado aos Órgãos Sociais da AOFA, de que foi Secretário-Geral, sendo agora membro do Conselho Deontológico.
E, mais do que isso, sempre acompanhou com muito interesse todas as actividades e iniciativas que a AOFA promoveu, mesmo fragilizado pela doença que o vitimou.
Em Junho deste ano, a AOFA prestou uma singela homenagem ao COR Duarte Figueira.
No entanto, sei que a homenagem que melhor receberia seria a de ter a certeza de que a AOFA continuaria o caminho iniciado em 1992.
Posso garantir que assim será!
Tasso de Figueiredo
COR TPAA/Secretário da AOFA/Sócio nº F-0064
Morreu vice-presidente da Liga dos Combatentes, major-general Carlos Camilo
Ontem às 14:06


Faleceu esta segunda-feira, em Lisboa, o vice-presidente da Liga dos Combatentes e capitão de Abril, o major-general do Exército português Carlos Camilo.
O corpo do major-general Carlos Manuel Costa Lopes Camilo, falecido esta segunda-feira, vai estar na igreja de São João de Brito, sendo o funeral na terça-feira, dia 30, no cemitério do Alto de São João.
Carlos Camilo nasceu em 1944 e esteve envolvido na «primeira grande reunião de capitães de Abril, a 9 de Setembro de 1973, em Alcáçovas, perto de Évora», como explicou o coronel e também capitão de Abril, Vasco Lourenço.
O major-general do Exército esteve na organização de um dos «principais batalhões que intervieram» na revolução dos cravos, que tomou o controlo da «zona do parque Eduardo VII e dos estúdios do Rádio Clube Português».
Recentemente, Carlos Camilo estava envolvido no processo de transladação de corpos de antigos militares da guerra ultramarina sepultados na Guiné para Portugal.
In TSF

Faleceu capitão de Abril Carlos Camilo
Faleceu, na madrugada desta segunda-feira, o vice-presidente da Liga dos Combatentes e capitão de Abril, o major-general do Exército português Carlos Camilo.
Carlos Camilo nasceu em 1944 e esteve envolvido na “primeira grande reunião de capitães de Abril, a 9 de Setembro de 1973, em Alcáçovas, perto de Évora”, de acordo com o capitão de Abril, Vasco Lourenço. A seu cargo ficaram as primeiras direcções da Associação 25 de Abril e a organização de um dos “principais batalhões que intervieram” na revolução dos cravos que e que tomou o controlo na “zona do parque Eduardo VII e dos estúdios do Rádio Clube Português”.
Nos últimos tempos de vida, Camilo envolveu-se no processo de transladação de corpos de antigos militares de guerra ultramarina da Guiné para Portugal. O corpo de Carlos Camilo estará esta segunda-feira na igreja de São João de Brito e o funeral realizar-se-á na terça-feira, dia 30, no cemitério do Alto de São João.
In Correio da Manhã

Também outros órgãos de comunicação social, incluindo estações de televisão noticiaram, desde ontem, a partida de Carlos Camilo.
Além de perder mais um Camarada, acompanhei hoje um Amigo e Companheiro de muitas lutas e combates, na despedida a que muitos de nós não faltaram.
Foram quatro décadas intensamente vividas da nossa História, em que a nossa relação se pode resumir a uma frase: a sã, fraterna e leal camaradagem em que sempre fomos capazes de saber que podíamos contar e confiar um no outro – mesmo quando divergimos de opinião.
Essa memória ninguém nos tira.
Até sempre, Carlos.

Álvaro Fernandes

Doutores ou ainda menos...

A propósito do generalizado tratamento de "doutor" em Coimbra, contava-se a história de um barbeiro que, enquanto escanhoava o cliente, metia conversa com ele: "O sr. dr. não é o engraxador que pára lá em baixo na Portagem?" Entretanto todo o país se "coimbrizou" (e o que não se "coimbrizou" está a "bolonhizar-se") e a piada perdeu-se.
Hoje, no supermercado, devemos dirigir-nos à menina da caixa dizendo: "Pago com Multibanco, sra. dra.", e à empregada doméstica: "Dra. Irene, sirva o leite-creme", do mesmo modo que não podemos esquecer-nos de que o lavador de carros pode ser engenheiro pela Moderna ou pela Internacional: "Lavagem completa, sr. engenheiro".
A revista "Sábado" conta a história de um atleta de "taekwendo" que, sem nunca ter feito o ensino secundário, em poucos meses conseguiu, como tantos outros, um diploma "simplex" do 12.º ano nas "Novas oportunidades" e já está a caminho da Faculdade de Medicina. Um dia destes, juntamente com um anestesista também "simplex", estará a operar o leitor num hospital público, os dois cheios de curiosidade sobre o que haverá dentro de uma barriga.
Manuel António Pina
in JN

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O currículo oculto dos manuais escolares

Os manuais escolares constituem apenas uma parte do que se aprende nas escolas – uma vez que nelas também se aprendem coisas tão impregnantes como a obediência, a imobilidade, a forma competitiva de nos relacionarmos com os outros, quantas vezes sob a capa da cooperação etc – mas a verdade é que são uma boa ( e amarga ) amostra das categorias e dos esquemas mentais que se pretende socializar junto das gerações mais novas, esquemas e atitudes essas que vão estar, mais tarde, na origem das opiniões e da visão do mundo dos actuais jovens.
Apesar dos manuais serem apenas uma fonte, entre outras, de formação escolar e educativa, eles são bem representativos do que o Estado, e com ele, as ideias dominantes numa dada sociedade, pretende difundir e impor aos alunos. Para agravar mais as coisas, não é raro encontrarmos pessoas para as quais o conteúdo dos manuais escolares assume um carácter de verdade absoluta e inquestionável !!!
Encontramos, desde logo, em muitos senão mesmo todos manuais um rasgado e incondicional elogio à tecnologia, e pouca e mesmo nenhuma referência aos seus aspectos negativos. Pretende-se passar a ideia que será a tecnologia a resolver os problemas presentes e nunca se enfatiza a necessidade de transformação das estruturas sociais e dos convencionalismos dominantes.
Muitos grupos sociais tornam-se completamente invisíveis a quem leia a maior parte dos manuais escolares portugueses. Desde os homossexuais até às mulheres domésticas, passando pela terceira idade e pelos operários, muitos grupos sociais e profissionais são suprimidos ou é o mesmo que não existissem à face da terra, tudo isso numa estratégia discursiva que visa consagrar os grupos e elementos que sejam importantes para o mercado, os com papel activo segundo a retórica dominante.
Ignoram-se e desprezam-se igualmente as culturas e práticas locais que, como não se revestem de natureza depredatória, são encaradas as mais das vezes como …atrasadas.
A natureza, a terra e a vida mostram-se sempre como actividades subordinadas à economia e ao mercado. Prevalece uma lógica produtivista. A ecodependência das sociedades humanas é permanentemente uma ilustre desconhecida para os livros escolares, e passa-se ao lado da natureza insustentável dos actuais processos económico-sociais. Celebram-se, por exemplo, os transportes rápidos, e a longa distância, sublimando-se explícita e sub-repticiamente os valores ligados velocidade custe o que custar.
Pior ainda é o profundo e marcado etnocentrismo que todos ou quase todos os manuais dão mostras evidentes, qualquer que seja o nível escolar para que foram destinados.
A história é convertida numa história dos Estados e do poder, com mapas e fronteiras amiúde, relegando para um plano secundário as histórias das culturas e a dinâmica social.
Perpassa em todos esses livros uma noção linear da evolução que acaba por sublimar, invariavelmente, as virtudes da modernidade, esquecendo-se de referir o quanto de barbárie esta mesma modernidade tem engendrado.
As soluções políticas e individuais são sempre de natureza individualista. Parece que não há decisões estruturais a assumir. Fazem-se recomendações e conselhos para o indivíduos, mas não se denunciam as soluções tecnocráticas e lucrativas tomadas pelas autoridades para as sociedades capitalistas.
E passam em branco muitas das áreas fundamentais da nossa vida, desde a educação sexual até à realidade, muito bem escondida, do vil e rentável negócio de armas e do domínio do complexo militar-industrial., passando pela repressão e controle dos cidadãos, a exploração económica, as mentiras e a manipulação mediática, etc,etc.
No fundo, os manuais escolares não preparam nem para o presente, nem muito menos para o futuro. Ignoram ou fazem por ignorar as grandes linhas que movem o mundo e a civilização actual. Servem antes para legitimar um modo de vida adequado às realidades sociais do sistema económico dominante, mas insustentável a curto prazo.
Não falamos, obviamente, dos erros científicos e metodologias discutíveis que pululam nos vários livros de texto editados em concorrência por várias editoras a preços proibitivos, que custam os olhos da cara a muitas famílias. Tudo para bem da reprodução social do capitalismo depredatório.

http://pimentanegra.blogspot.com/

domingo, 28 de dezembro de 2008

A Explicação...

Acaba de me chegar às mão um estudo efectuado por cientistas portugueses que descodificaram o nome SOCRATES.
Eis as conclusões do estudo:
.
Salazar
Outrora
Caiu;
Regressou
Agora
Transformado
Em
Socialista
.
Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa.
(Victor Hugo)

por mail

2550 Euros de estupidez e narcisismo

Desde que tive o desprazer de o conhecer (e conviver umas horas pessoalmente com ele)nas comemorações do 25 de Abril realizadas na Biblioteca Bento de Jesus Caraça, na Moita,em Abril de 2003, fiquei com uma impressão: José Sócrates não é narcisista; é o verdadeiro "narciso".
Essa impressão veio, infelizmente, a confirmar-se desde que a criatura foi eleita primeiro-ministro.
Depois dos inúmeros tiques - demasiados fotografados, filmados e tratados pelos nossos humoristas, para requererem exemplos elucidativos - só faltava esta notícia (que transcrevo da Página 4 do "Expresso" de ontem, 27 de Dezembro:
"25550 Euros é o 'cheque-prenda' oferecido pelo Governo a José Sócrates. Será descontado numa loja de roupa, com o objectivo declarado de manter o primeiro-ministro elegante. Num ano de crise profunda, salvem-se as aparências."
Embora reconhecendo que o "Expresso" se limita, com tal notícia, a confirmar e fazer jus a uma característica pessoal do inquilino de São Bento, ainda mantenho uma esperança: que os membros da generosa colecta - membros do governo português - não tenham, nem por brincadeira de mau gosto, oferecido semelhante prenda.
Que a criatura a tenha aceitado...não me surpreende. Prefiro acreditar que o "Expresso" resolveu prendar-nos com uma peta antecipada do 1º de Abril.
É que existem outras formas mais baratas e eficazes de calçar uns patins novos a gente desta.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Em contagem decrescente

“O PR prepara-se para levantar obstáculos à promulgação do Orçamento de Estado, considerando que é uma ficção – dado que o próprio Governo já admitiu que não será cumprido nem nas receitas nem nas despesas” (Titulado na 1ª página do “Sol”, 27 Dezembro 2008), em destaque absoluto, antecedido por: “Conflito institucional com episódio inédito”, seguido por “Cavaco vai pôr em causa Orçamento”.
Haja Deus – pedirei eu, como agnóstico assumido – não vá este orçamento, “engenheirado” pelo governo de Sócrates, abrir a nossa falência absoluta, e mais: a completa e irremediável falência de Portugal.
Ainda estamos todos a tempo de impedir a catástrofe que podemos evitar. Basta unirmos forças; depois, bem: depois, obrigar a canalha que provocou tudo isto a ir cantar para a rua deles.
Acreditem que seremos capazes. E não se intimidem com a inevitável onda de violência e vandalismo que (também) nos vai bater à porta. Será nessa altura que teremos de saber, querer e poder mudar o sistema que nos tem governado. Tenho a certeza que conseguiremos dar conta do recado.

ÁRVORE DE NATAL

Clique nas imagens para ampliar.
A árvore de Natal construída no topo do Parque Eduardo VII em Lisboa, hoje, dia 26, às 17.00 horas, estava assim.
Às 17 horas, como é normal em Dezembro, a noite cobrira a cidade. Lisboa, iluminada, estava assim.
A estátua do Marquês de Pombal, com o leão por companhia, no alto do seu pedestal, estava inundada de luz.
Fotografias de Simões Valentim

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sócrates avisa



Numa mensagem natalícia focada na crise, o primeiro-ministro prometeu apoio às famílias e às empresas. (In DN de 26 Dezembro de 2008).
Até aqui - e habituados, como estamos, às mentiras e falta de palavra deste inquilino de São Bento - nada de novo: é como quando chove no molhado.
Mas atenção: há uma luz de esperança ao fundo do túnel.
Na mesma mensagem, afinal o aviso da criatura, é:
"2009 vai ser um ano difícil".
Ora bem, até que enfim: como a criatura não consegue dizer a verdade sobre o que quer que seja, ao "avisar" que 2009 vai ser um ano difícil, deve estar a querer dizer que, afinal, vai ser fácil.
Resta saber para quem...

O consumismo como nova forma de exploração

As formas clássicas de exploração do homem pelo homem já denunciadas pelos principais pensadores do socialismo desde o século dezanove, ainda que perduram, uma vezes maquilhadas outras na sua expressão mais cruel, estão a ser complementadas por outras formas de exploração que se vêm desenvolvendo e se impõem fundamentalmente nas chamadas sociedades desenvolvidas.
Refiro-me a essa nova forma de exploração do indivíduo e da sociedade que é representada pelo consumismo. Um nova forma de exploração que aparece no século XX e cujas consequências vão para além dos efeitos negativos e dolorosos que sempre teve e continua a ter a exploração dos trabalhadores sob o sistema capitalista de produção.
A Cimeira do Rio de Janeiro de 1992 alertou para que a modificação dos actuais níveis de consumo no mundo industrializado, isto é, a eliminação do consumismo, deveria ser uma das tarefas principais da humanidade para o próximo século, pois só assim se poderia salvar o planeta da catástrofe que se avizinha. Já se passaram catorze anos desde a realização daquela cimeira convocada pelas Nações Unidas, e descontando as centenas de discursos, o incumprimento de compromissos e as mil promessas dos governantes dos países ricos e industrializados, a verdade é que muito pouco se fez. Enquanto isso, a consciência do perigo mortal vai crescendo e os efeitos da deterioração ambiental multiplicam-se.
Ninguém duvida que as principais vítimas a sofrer com as consequências da grave deterioração do meio ambiente são os habitantes pobres dos países menos desenvolvidos. São os que não têm automóveis, nem aparelhos de ar condicionado, provavelmente nem sequer frigoríficos, ou seja, não são eles que contaminam a terra e, não obstante, é sobre eles que recai mais directamente os efeitos das emissões de dióxido de carbono causadoras do aquecimento do planeta e do efeito-estufa. Também são eles que, quando estão doentes, não têm hospitais, médicos nem medicamentos suficientes como os que existem na outra parte do planeta.
Tão pouco podemos esquecer que a população mundial demorou dezenas de anos a atingir a soma de 1.000 milhões de habitantes, soma essa que foi alcançada por volta do ano de 1800. Acontece que só nos últimos 200 anos a população mundial atingiu a cifra superior aos 6.300 milhões de habitantes, e que as previsões apontam para que no ano 2050 se chegue aos 9.000 milhões.
Esta grande explosão demográfica, junto à acelerada degradação das condições naturais básicas para a sobrevivência da humanidade está a provocar uma enorme preocupação em muitos países, sobretudo nos menos desenvolvidos já que é nestes que se regista um maior crescimento da população.
.Há que perguntar aos dirigentes políticos dos países mais ricos e industrializados se vão continuar a mentir aos habitantes da Terra. Há que interrogá-los para saber se vão continuar a dizer que é necessário consumir cada vez mais a fim de garantir o nosso desenvolvimento e bem estar e, com isso, ajudar ao desenvolvimento dos países pobres.
Até quando esta mentira será repetida, uma vez que todos os estudos realizados por instituições prestigiadas demonstram que não é possível que todos ao habitantes do nosso planeta possam alcançar algum dia o nível do bem estar e de desenvolvimento que os habitantes dos países desenvolvidos usufruem, pois o planeta Terra não tem recursos suficientes para os 6.000 milhões de habitantes, quanto mais para os futuros 9.000 milhões poderem consumir e desperdiçar da mesma maneira como fazem os que vivem actualmente na parte privilegiada do planeta. Seriam precisos 3 planetas Terra para dispor de recursos necessários a 6.000 milhões de habitantes poderem viver com o mesmo nível de consumismo insustentável.
Esta é que a verdade, ainda que cruel, e por isso, os indivíduos, os consumidores dos países ricos e industrializados não podem fechar os olhos face a esta realidade, pois o certo é que para nós, os tais 20% da população mundial, podermos continuar a viver com este nível de consumismo e de desperdício de recursos naturais será necessário que os outros 80% continue a viver nas condições de pobreza que todos conhecemos. Ou seja, o funcionamento da economia dos países ricos apoia-se no consumismo e na existência dessas grandes desigualdades.
Globalizou-se a desigualdade e por isso é que há cada vez maiores diferenças entre os países ricos e pobres. Mas isto não é inevitável e há que afirmar que esta situação pode ser mudada, pois outro mundo é possível, outros sistemas são possíveis, e que é possível globalizar a cultura, a saúde, o respeito pelo meio ambiente, e sobretudo que é possível globalizar uma alimentação justa para todos os habitantes do planeta chamado Terra, mas isso só será possível se travarmos a corrida armamentista, o domínio de uns países sobre outros e a destruição dos recursos naturais.
Há que apostar por um consumo racional e sustentável numa sociedade justa e sustentável, e esses dois objectivos devem estar unidos.
.
O consumo sustentável significa a mudança do sistema
Há que dizer não a este novo sistema de exploração da humanidade que é representado pelo consumismo actual e contrapor a essa exploração um consumo sustentável.
O consumo sustentável ou consumo racional supõe muito mais que trocar um produto prejudicial para o meio ambiente ou para os seres humanos por outro menos nocivo. Nem significa apenas seleccionar os resíduos urbanos das nossas casas. Implica, acima de tudo, questionar o nosso sistema social, examinar o nosso papel face às desigualdades da economia mundial e exigir políticas que favoreçam uma real mudança no actual sistema de produção e consumo.
Mas significa principalmente assumir que a manutenção do actual modo de vida das sociedades consumistas só poderá acontecer à custa da manutenção do actual modo de vida das populações dos países pobres, além de justificar guerras e invasões a fim dos recursos naturais dos países pobres serem apropriados por aqueles outros.
Podemos pois afirmar que o consumismo afecta de maneira negativa todos os cidadãos do mundo, independentemente do local onde habitem. Além disso, afecta-nos porque somos vítimas de uma dupla exploração.
A que sofremos como trabalhadores e a que sofremos como consumidores, provocando comportamentos generalizados de consumo irracional, quase compulsivo, com a ilusão de que quanto mais consumirmos mais felizes seremos, e mais nos aproximaremos dos patrões e dos conceitos de vida que nos impõem os poderosos que governam a terra.
Por outro lado, há a exploração dos habitantes dos países pobres que, em consequência do consumismo e da sobre exploração dos recursos do planeta, não podem sair da pobreza e do subdesenvolvimento em que vivem e que permitem o consumismo e o desperdício no mundo dos ricos.
Para além dos efeitos que o consumismo está a provocar com a destruição do meio ambiente pondo em causa a própria sobrevivência do planeta, há que assinalar os efeitos desse modelo de comportamento consumista para a qualidade de vida e para a própria situação económica.
Este aspecto é objecto de um manto de silêncio, o que não surpreende uma vez que se o conseguirmos romper a sociedade começara a interrogar-se sobre o estilo de vida que tem adoptado, para além de começar a colocar em questão a noção de que ter mais significa ser mais feliz e gozar de maior qualidade de vida.
Verificamos que os consumidores das economias industrializadas empenham-se em consumir cada vez mais bens de consumo. Sofrem quase que uma dependência paranóica deste tipo de bens e que servem de estímulo externo para compensar o défice interior, para além de servir para constituir um símbolo de estatuto social. As classes dominantes incarnam uma imagem de realização das possibilidades humanas: poder, segurança, comodidade, refinamento e cultura. As demais pessoas, ao quererem imitá-las, perdem a sua capacidade autónoma de definir aquilo que é digno de se possuir. A formação dos gostos e preferência fica subordinado aos valores de uns poucos de privilegiados. Toda esta análise constitui a chave para conhecermos a ideologia do consumismo.
O consumo de bens satisfaz necessidades físico objectivas e, por consequência, tem sempre um ponto de saturação. O bem-estar ou a satisfação de bens relacionais ou de posição mede-se através da comparação com outros consumidores e outros momentos históricos, sem limites, já que a vontade de diferenciação é infinita.
Esta situação está a levar os consumidores dos países com economias desenvolvidas a um sobre endividamento, isto é, a gastar acima do seu rendimento e, com isso, a tornarem-se reféns do sistema.
Sempre que pensamos em evitar ou limitar os danos ambientais gerados pela produção, distribuição e consumo de bens, aceitamos a necessidade de produtos e técnicas menos prejudiciais. O que não é fácil de aceitar é a redução da produção e do consumo.
Nesse sentido, a promoção do consumismo através da publicidade, da televisão e dos centros comerciais deve ser objecto de contestação dos consumidores. Uma forma de fazer com que o consumo seja a simples satisfação de necessidades passa por nos libertarmos dos automatismos que nos impõem o hábito de um consumismo exacerbado. No fundo, são automatismos que fazem infelizes por nunca conseguirmos imitar os padrões de felicidade que a publicidade nos vende.
Terminamos com uma afirmação sobre o futuro da sociedade de consumo: esta não é mais que uma etapa da história que será ultrapassada. O que não se pode ainda prever é quando é que tal se dará por via de uma mudança de mentalidades ou então por via de uma situação apocalíptica do capitalismo em consequência do esgotamento dos recursos e da destruição do meio ambiente.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Menino



O menino dorme, cómodo e confortável, deitadinho à margem dos poéticos discursos natalícios, das mesuras decrépitas, dos votos fingidos e das forçadas reverências. Longe dos nervosos afazeres da época, o menino ainda pequenino nada entende de desgostos e vaidades, de novas ou antigas hostilidades e muito menos de dedos que ficam para sempre marcados em duas faces. Nunca provou do sangue violento que escorre dos olhos tristes que tentam ver respostas aos porquês impossíveis de responder. O menino ainda não sabe o que quer dizer esta vida são dois dias e por isso não devemos alimentar desgostos e desavenças. Pois o menino, à medida que for medrando, vai ver que a vida não passa mesmo de dois dias e que é por isso que deve ser vivida com nobreza e dignidade. A dignidade, porém, é um conceito de difícil explicação, uma forma concreta de estar na vida, mas cujos contornos não são possíveis de identificar senão ao nível dos sentidos. No entanto, aqui para o menino podemos falar dela como uma mercê que vem impregnada nas saliências e concavidades de algumas essências.
Conversa enredada esta! Que descuido! O menino ali deitado intacto, num berço de madeira macia, já sabe tudo o que vale a pena. Na verdade, o menino começa agora a esquecer-se e quando este violino expirar já ele terá desaprendido o valor do legado contido na massa de que foi feito. No momento dos primeiros passos vai tropeçar nas pedras da calçada, vai levantar-se do chão, vai cair nas poças das águas doentes, vai lavar feridas nas nascentes, vai sujar o bibe na lama do mundo, vai sentar-se à mesa de jogo, vai baralhar as cartas e voltar a dar.
Agora vou fazer replay e embalar o menino mais um pouco antes dele sair do berço. Deixo a porta do coração escancarada pois sei que vai precisar de ajuda nesse acto violento a que chamamos crescer.



Eliyahu Hanavi (Elijah the Prophet) - Jewish Lullabies

No momento da minha estreia aqui, deixo ainda, o meu agradecimento pelo convite que me foi enviado pelo Zigoto. Espero poder merecer tamanha gentileza e confiança. Muito obrigada.
Bom Natal e Feliz Ano Novo para todos.

___________________________
Imagem: William Bouguereau, La Berceuse

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Boas-novas

Dentro de pouco tempo, este blogue contará com a valiosa colaboração de dois novos autores:
Graça Brites e Victor Camiler.
Com votos de que (pelo menos o nosso blogue) tenha um ano de 2009 melhor, aqui fica um exemplo

Turbilhão



Foto de Graça Brites


No meu sonho desfilam as visões,
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
arrebatado em vastos turbillhões...

Num espiral, de estranhas contorções,
E donde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições...

-Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,
Que me fitais com formidável calma,
Levados na onda turva do escarcéu,

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?
Quem sois, visões misérrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

Antero de Quental

NÃO DESISITIR!!!

O capitalismo propõe um mundo imoral

Há uma interpretação inconsistente de textos de Kant para fundamentar moralmente o capitalismo. Apresentaremos num primeiro momento, os elementos básicos da posição de Kant sobre a moralidade para, em seguida, julgarmos moralmente as práticas propagadas em nome do capitalismo. Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant deduz a partir do estudo transcendental dos juízos morais a sua forma necessária como imperativo categórico: " Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal" . O imperativo categórico nos obriga à acção moral pela força de sua própria necessidade racional; é em razão de tal necessidade que ele pode e deve ser universalizado. O imperativo hipotético faz isso para obter vantagem naquilo, é por outro lado, imoral, pois a acção não é determinada pela lei objectiva da razão prática, mas por alguma inclinação ou tendência particular. Cabe ao homem dever seguir a sua própria vontade determinada pela razão que se torna, assim, boa-vontade. Só há, pois, moralidade quando há autonomia. A heteronomia, cumprir a lei ou a norma para evitar a sanção ou para obter vantagens, é imoral pois a torna meio para uma outra coisa. A autonomia é a condição de quem elabora a sua própria norma e o faz de modo racional universalizando-a como um fim em si mesma para a conduta moral. Ora, como todos os homens participam da mesma razão -- se todos raciocinarem de modo correcto, cada qual elaborará normas válidas para todos. Assim, o exercício da liberdade supõe uma consciência esclarecida e a determinação da vontade a partir da lei moral, comportando-se cada homem como legislador e membro no Reino dos Fins, nunca podendo tomar como meio aquilo que deve ser um fim. A segunda formulação do imperativo categórico, considerando a sua matéria ou o seu fim diz, portanto, o seguinte: " Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa quanto na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como um fim e nunca simplesmente como meio". Analisando a diferença entre coisas e pessoas, meios e fins, Kant conclui que: " No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se por em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade. O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço...; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um valor íntimo, isto é, dignidade. (...) Portanto, a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade". A conclusão final a que chega Kant é esta: " Assim eu devo, por exemplo, procurar fomentar a felicidade alheia, não como se eu tivesse qualquer interesse na sua existência quer por inclinação imediata, quer, indirectamente, por qualquer satisfação obtida pela razão, mas somente porque a máxima que exclua essa felicidade não pode estar incluída num só e mesmo querer como lei universal". Para garantir o exercício da liberdade individual é necessária a constituição de um Estado, a manutenção da ordem formulada sob leis, e sua imposição aos que não vivem a liberdade segundo os princípios acima expostos. Do mesmo modo o estabelecimento das leis deve respeitar também tais princípios. Assim, afirma Kant que " A pedra de toque para o estabelecimento do que devem ser as leis de um povo está em saber se o próprio povo poderia ter-se imposto as leis em questão (...). O que o povo não pode decretar para si próprio muito menos pode ser decretado por um monarca, pois a autoridade legislativa deste último baseia-se em que ele une a vontade pública geral na sua própria.". Ora, considerando a moral kantiana, a maior parte das práticas preconizadas pelo capitalismo é imoral. Destaquemos apenas alguns exemplos do que resulta objectivamente das práticas capitalistas.
As pessoas são tratadas como meio quando o valor de propriedade é colocado acima da dignidade humana dos que moram pelas ruas, em barracas ou não têm terra para plantar porque estão privados da propriedade privada. Entre considerar a propriedade como meio para a realização da dignidade humana do conjunto dos sujeitos que constituem o povo de um país, ou considerá-la como privada ao uso colectivo para a realização da dignidade humana, a fim de atender somente aos interesses de seu dono particular, o liberalismo escolheu a defesa da propriedade privada, independentemente do estatuto imoral no trato dessa propriedade. As pessoas são tratadas apenas como meio quando são descartadas do processo produtivo ou têm os seus proventos diminuídos para resguardar ou ampliar a competitividade da empresa, operando com tecnologias mais sofisticadas a fim de manter ou ampliar lucros aos seus proprietários e accionistas. O desemprego em todo o mundo é alarmante, sendo que no Brasil atinge actualmente muitos milhões de trabalhadores; sem condições de trabalhar com dignidade e mais de 32 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza absoluta. As pessoas são tratadas apenas como meio quando o Estado é privatizado transformando a saúde, educação e a cultura em objecto de comércio para o enriquecimento e o lucro de grupos em troca da prestação desses serviços por algum preço que a maioria da população só poderá pagar com duras penas.
As pessoas são tratadas como meio quando têm de se submeter a leis que elas próprias nunca imporiam a elas mesmas no correcto exercício da sua razão respeitando a sua própria dignidade e tomando-se simultaneamente como um fim. Que pai ou mãe se imporia respeitar a cerca de um latifúndio que nada produz ou de um terreno baldio há dezenas de anos no espaço urbano quando vê os seus filhos passando fome porque sendo agricultor não tem terra para plantar, ou sendo um desempregado que apanha papelão ainda tem de pagar um aluguer exorbitante, o que lhe impede de alimentar minimamente os filhos e a si mesmo?
O capitalismo é imoral porque é surdo ao sofrimento e à miséria dos milhões de excluídos do processo produtivo, porque justifica essa exclusão em nome da racionalização dos custos e da competitividade entre os agentes privados, defendendo a utilização egoísta da propriedade privada acima da função social que toda propriedade deve cumprir, desconsiderando como objectivo a realização, da felicidade alheia.

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sábado, 20 de dezembro de 2008

Votos de Feliz Natal e Ano novo

Era uma vez
Uma vez em que…
a Humanidade começou a olhar para si própria e, observando o comportamento de muitos dos seus membros, decidiu tentar que a espécie humana vivesse racionalmente em inter-ajuda e harmonia com o planeta que lhe coube como a Terra privilegiada em que nasceu, se desenvolveu e (ainda) habita.
Desde muito cedo – ainda os seres humanos todos eram em número inferior ao de qualquer das cidades com muito mais habitantes do que os dez milhões+três da nossa diáspora – e já houve quem escrevesse textos Sagrados (para os Crentes, e : refiro-me à Bíblia e aos Evangelhos, que respeito , como agnóstico assumido , tanto ou mais do que algumas “verdades” científicas que vão mudando à medida em que os meios à disposição da experimentação e dos meios de diagnóstico ficam disponíveis (em velocidade vertiginosa).
Também, desde muito jovem me interessei em conhecer e tentar interpretar o Evangelho Social da Igreja; e, pouco mais tarde, em ler todas “as candongas” de Hegel, Engels, e Marx que alguns livreiros amigos me iam vendendo debaixo do balcão.
Confesso que, entre “O Capital “, de Marx e a doutrina social da Igreja, não encontrei diferenças que ultrapassem o método e nível de intervenção. As preocupações sociais são semelhantes… para não dizer idênticas. A ética e a moral, lá estão, sem tirar ou acrescentar ponto e vírgula.
Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo. Marx abriu caminho aos bolcheviques para assaltarem Palácio de Inverno. Nenhum deles foi, é, ou será responsável pelo que arrivistas, parasitas e outros que, em seu nome, desvirtuaram a doutrina e teoria, em proveito próprio.
Mas, qualquer desses vendilhões, mafiosos, ladrões e criminosos, a História vai-se encarregando de tratar como merecem; com mais ou menos dificuldade… em mais ou menos tempo: a Justiça há-de triunfar. E, à medida que todos vamos compreendendo melhor quem nos tem explorado…cá fico eu a pedir-vos que leiam O Evangelho, e Marx.
Infelizmente – e neste início do novo milénio – somos diariamente violentados por “novidades” de descobertas policiais, judiciais e jornalísticas – com “nomes” filtrados a conta-gotas da elite mafiosa que nos tem explorado e conduzido Portugal à ruína, ensacando à ganância, tudo o que têm conseguido roubar.
Até agora – e com o velho hábito dos chamados “brandos costumes” – lá se têm safado: mudando as leis. Prorrogando os prazos, conseguindo que, afinal, todos os escândalos investigados e provados acabassem por prescrever. E já são tantos, tantos, que me abstenho de os enumerar.
Até agora… eles eram os maiores! Só lá fora aconteciam coisas condenáveis… com as quais… nada tínhamos a ver: pois!
Finalmente, a castanha rebentou-lhes na boca: afinal, o tal sistema que sempre defenderam e a que se diziam imunes, era EXACTAMENTE o deles.
Portugal, o nosso País, está falido; tal e qual como o resto do sistema que a cambada que nos governa preferiu, apoiou e nos obrigou a suportar.
Já estamos na cauda da Europa. Mas como já há europeus a reagir, lá chegará a nossa vez.
Só peço e agradeço que, desta vez, não voltem a transformar as amas à disposição, para condenar os responsáveis pela situação dramática em que nos encontramos, em jarras de cravos.

Álvaro Fernandes
No Natal de 20008, agradecendo as leituras referidas, e com esperança, sempre esperança no discernimento e capacidade humana de lutarmos pela existência e justiça a que nos foi dado o privilégio de usufruir, a todos desejo um Natal em Paz e um Ano Novo com vontade de lutarmos, todos juntos, pelos Direitos Humanos a que temos direito.

Embrulhada cor-de-laranja...

Elias, o sem-abrigo, personagem principal do cartoon que o JN publica nas páginas de Opinião, dizia ontem, parafraseando Luís Filipe Menezes, que o seu combate (de Menezes) no seio do PSD é "estruturado e a mais longo prazo", coisa que, ainda segundo Elias, "no caso do PSD, pode querer dizer para a semana, amanhã ou daqui a pouco". Eis como o humor ajuda a retratar - e de forma tão certeira - o estado do principal partido da Oposição.
O presidente da Câmara de Gaia usou as palavras citadas por Elias num artigo de opinião publicado no JN, a propósito da escolha de Pedro Santana Lopes para a corrida à Câmara de Lisboa.
O artigo lembra o óbvio: Manuela Ferreira Leite e os seus mais afectos companheiros ergueram várias vezes a cruz em direcção ao "diabo" Santana; fizeram-lhe a vida negra quando foi primeiro-ministro e depois candidato contra Sócrates; a actual líder do PSD assumiu que nunca votaria em Santana numa eleição uninominal; e, consequentemente, lutou ao lado dos que desejaram ardentemente atirar Santana, de uma vez e para todo o sempre, para as calendas… Santana, político de sete vidas, a tudo resistiu.
E obriga agora Manuela Ferreira Leite a engolir um sapo de tamanho gigante.
Por que razão é isto importante? Porque mostra à saciedade como a conversa de Manuela Ferreira Leite sobre o regresso à pureza dos princípios na vida política, sobre a obrigatoriedade de servir a verdade e nada mais do que a verdade aos portugueses, sobre a necessidade de romper com passado recente do partido (isto é: com o modo de fazer política de Menezes e Santana Lopes), não passa disso mesmo: de mera conversa.
Não apenas por isto, mas também por isto, o PSD está como está nas sondagens: a cair a pique, como mostram os resultados do estudo de opinião publicado na edição de ontem do JN. Nada que não fosse possível prever desde que Manuela Ferreira Leite começou a mostrar o jeito pela coisa. Melhor: a falta de jeito para reavivar a alma de um partido que gosta de sentir o cheirinho a Poder, que vive mal sem esse cheirinho.
Com o destino da actual líder do PSD devidamente traçado, resta saber como sairá o partido desta embrulhada. Magno problema: as divisões dos últimos anos acentuaram a criação de grupos e grupinhos, todos na disposição de se aniquilarem uns aos outros ao mínimo sinal de tentativa de controlo do poder interno por uns ou por outros.
Drama máximo: não se vê no horizonte quem possa desatar este nó que estrangula o principal partido da Oposição.
De modo que, venha quem vier, o espectáculo estará seguramente garantido nos próximos tempos…
Paulo Ferreira
in JN

O capitalismo não garante condições para o exercício da liberdade

O exercício da liberdade supõe certas condições, sem as quais ela não se realiza a não ser num nível precário e mínimo. O primeiro filósofo contemporâneo a reflectir profundamente sobre as condições subjectivas para o exercício da liberdade foi Kant. Humanamente livre é, para Kant, aquele homem que realiza a sua própria autonomia, seguindo os ditames da sua própria razão esclarecida. Cada homem, seguindo os procedimentos racionais que sendo transcendentais, são universais a toda espécie humana define as normas morais universais obedecendo unicamente a si próprio. O Estado tem o papel objectivo de reprimir aqueles que, agindo de modo contrário às exigências da razão, obliteram o exercício da liberdade alheia. Cabe a cada homem ter a coragem de usar o seu próprio entendimento e sair da condição de menoridade, na qual é tutelado por outro que lhe diz o que fazer. Conforme Kant, os guardiões de rebanho se encarregam de tutelar os que tem medo de pensar por conta própria. Assim, para o fundador do idealismo transcendental, o esclarecimento, que no campo da convivência social exige ao homem seguir os imperativos categóricos da razão, levaria à superação da menoridade e a uma vivência ética emancipada. Não tardou, entretanto, para que as teses de Kant sobre o exercício da liberdade fossem superadas dialecticamente isto é, incorporadas e transformadas em uma nova construção filosófica. Hegel desdobrará a análise sobre as condições objectivas para o exercício da liberdade, ou, para que a ideia de liberdade possa efectivar-se objectivamente, o que somente ocorre na mediação do Estado. Se para Kant é possível que o público se esclareça a si mesmo se lhe for assegurada a liberdade, a pergunta torna-se agora como assegurar objectivamente a liberdade ao público, a todo o povo? Hegel compreende claramente que a liberdade é exercida por um processo histórico, dinâmico, em conflito, cheio de interesses e tensões. Não há, portanto, uma razão que possa esclarecer-se a si mesma independentemente de um conjunto de mediações históricas subjectivas e objectivas. Sendo assim, a liberdade somente pode realizar-se publicamente se forem garantidas as sua condições de possibilidade. A moralidade privada como bem analisa Hegel, afirma condutas que alguém, em particular, pode pretender que sejam universais, mas que sendo determinadas por interesses económicos privados, não possibilitam a realização universal da liberdade dos seres humanos de modo ético. A sociedade civil burguesa é a esfera dos interesses privados, económicos, particulares do cidadão, leia-se burguês, que se afirmam a partir de sua moralidade sem preocupar-se com a realização dos interesses públicos. Frente a isso, a mediação objectiva necessária para a efectivação da ideia de liberdade é a esfera política do Estado. O Estado é a esfera dos interesses públicos do cidadão afirmados a partir de uma eticidade que, voltada para a realização do bem público, determina um outro carácter para o exercício da liberdade privada. Se em Kant o direito deve ser uma garantia à liberdade privada vivida sob os imperativos da moralidade, em Hegel ele é expressão da eticidade e substrato próprio da cidadania. Em ambos é uma mediação política para assegurar a liberdade de todos os homens. Contudo, a posição de Hegel, que inaugurou um idealismo histórico, não tardou muito a ser criticada; em meio a tal crítica foram destacadas, então, as condições objectivas económicas para o exercício da liberdade. Conforme Proudhon seguido de muito perto por Marx a realização da liberdade supõe condições objectivas não apenas políticas mas também económicas. A liberdade exige propriedades materiais para o seu exercício, que lhe são, também, condições reais de possibilidade. Embora o Estado pareça assegurar a liberdade de todos com a formal igualdade jurídica, na verdade assegura apenas a liberdade dos que tem propriedades materiais para exercê-la, na própria extensão possibilitada por tais posses. Assim, o Estado sob o capitalismo, fundamentalmente, não é uma mediação ética para assegurar a universalidade da liberdade mas para assegurar a uma parcela de proprietários o contínuo domínio e possibilidade de dispor de sua propriedade privada, condição material objectiva do exercício de sua liberdade. Como para o exercício efectivo da liberdade desta pequena parcela cindida da realização da liberdade pública, se destina a maior parte da riqueza económica que se converte nas mediações materiais de tal liberdade, mediações essas que não podem ser utilizadas para o exercício da liberdade das maiorias que não tem sobre elas o direito de propriedade, isto é, de apropriar-se delas com autonomia, a realização da liberdade de tal parcela minoritária, deste modo, é simultaneamente a negação da realização universal da liberdade do conjunto dos indivíduos daquela sociedade. A propriedade é privada porque todos os demais estão privados de usufruí-la. Deste modo, a propriedade privada que possibilita o exercício caprichoso da liberdade de alguns é o que impede o exercício das liberdades mais elementares dos outros e até mesmo a satisfação adequada de suas necessidades básicas humanas como trabalhar, morar, comer, educar-se, desfrutar de um lazer mais criativo…Ora, sendo a propriedade privada, colocada acima do interesse público, a mediação básica que mantém as privações materiais das maiorias para a realização elementar de sua humanidade e sendo os bens materiais condições objectivas indispensáveis para a realização do exercício da liberdade, conclui-se que para a realização da liberdade de todos e do desenvolvimento humano de cada um é necessário que a posse dos bens económicos seja universalizada, o que exige o estabelecimento de um controle público sobre a riqueza produzida na sociedade, modificando-se o modo de apropriação dessa riqueza superando-se as privações sociais. Tal a proposta proudhoniana. Podemos concluir que para a realização da liberdade são necessárias, portanto, condições subjectivas e objectivas. Não basta, entretanto, que um indivíduo possua autonomia, condições políticas e económicas para o exercício de suas escolhas se não dispuser, entretanto, da informação qualitativa e suficiente para a tomada de decisão. Privado da informação qualitativa e suficiente o indivíduo escolhe, toma decisões em seus juízos autónomos, de acordo com os interesses daqueles que lhes fornecem as informações insuficientes ou parciais. De tudo isso podemos concluir que, por não assegurar universalmente, nas sociedades em que se implanta as condições objectivas ou seja, económicas, políticas e culturais para o exercício da liberdade de cada pessoa o capitalismo deve ser liminarmente rejeitado como modelo de realização da liberdade e da cidadania.

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Dias Loureiro...Um "Santarrão"...

Dias Loureiro fotografado quando se dirigia ao encontro com Cavaco para explicar que nas negociatas do BCP, ele até nem estava lá...

John Steinbeck...Escritor e Prémio Nobel de Literatura...40º aniversário da sua morte...

John Steinbeck (27 de fevereiro de 1902, Salinas, Califórnia20 de dezembro de 1968, Nova Iorque) foi um escritor estadunidense.
As suas obras principais são A Leste do Paraíso (East of Eden,
1952) e As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1939). Foi membro, quando jovem, da Ordem DeMolay. Recebeu o Prêmio Nobel em Literatura em 1962.
Biografia
Ainda muito jovem, por influência dos pais, leu
Dostoiévski, Milton, Flaubert, George Elliot e Thomas Hardy, cuja Morte de Arthur mais tarde apontou como uma se suas primeiras influências literárias. Terminou o curso secundário no Salinas High School, em 1919. No ano seguinte, ingressou na Universidade de Stanford, exercendo várias profissões para custear os estudos.
Em 1925, empregou-se no jornal American de Nova York, e vasculhou a cidade em busca de um editor para seus livros ainda não escritos. Estreou na literatura com A Taça de Ouro (1929), biografia romanceada do bucaneiro Henry Morgan, já marcada por seu característico estilo alegórico.
Publicou em seguida
Pastagens do céu (1932) e A Um Deus Desconhecido (1939). Esses primeiros livros não lhe asseguraram a profissionalização como escritor. Em 1935 firmou-se como autor de prestígio com Boêmios Errantes, que recebeu a medalha de ouro do Commonwealth Club de São Francisco como melhor livro californiano do ano.
Os três mais importantes romances de Steinbeck foram escritos entre 1936 e 1938: Luta Incerta (1936), descreve uma greve de trabalhadores agrícolas na Califórnia; Ratos e Homens (1937), que seria transportado para o cinema e para o teatro, analisa as complexas relações entre dois trabalhadores migrantes; As Vinhas da Ira (1939), considerado sua obra-prima, conta a exploração a que são submetidos os trabalhadores itinerantes e sazonais, através da história da família Joad, que migra para a Califórnia, atraída pela ilusória fartura da região.
Essa trágica odisséia recebeu o prêmio Pulitzer e foi levada à tela por John Ford em 1940.
A obra de Steinbeck inclui ainda
Caravana de Destinos (1944), A Pérola (1945/47), O Destino Viaja de Ônibus (1947),Doce Quinta-feira (1954), O Inverno de Nossa Desesperança (1961), Viagens com Charley (1962).

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Vendilhões do Templo...

Com os encargos de todas as obras públicas anunciadas, boa parte do nosso futuro está hipotecada; pelo presente já ninguém dá nada; resta o passado.
Não se estranhará, pois, que o Governo prepare um novo regime para o património histórico e cultural que abre portas à venda mais ou menos indiscriminada de monumentos históricos. "O mote é alienar", denunciam, alarmadas, as associações de defesa do património.
Se a coisa, congeminada no Ministério das Finanças, for avante, depois do Forte de Peniche transformado em pousada, veremos um dia destes uma loja Ikea na Torre de Belém e um hotel de charme no Mosteiro de Alcobaça (e porque não no da Batalha?); Rui Rio poderá, finalmente, vender a Torre dos Clérigos em "time-sharing"; e António Costa, em Lisboa, fazer dos Jerónimos um centro comercial.
Governados por mercadores sem memória e sem outra cultura que não a do dinheiro, faltava-nos ver a nossa própria História à venda.
Em breve, nem Cristo (quanto mais nós) terá poderes para expulsar os vendilhões do Templo porque eles já terão comprado o Templo e já lhe terão dado ordem de expulsão a Ele.
Manuel António Pina
in JN

Feliz Natal...

Alexandre O'Neill...Poeta Surrealista...

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões (Lisboa, 19 de Dezembro de 192421 de Agosto de 1986), ou simplemente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista em Portugal fundador do Movimento Surrealista de Lisboa.
Foi várias vezes preso pela polícia política, a
PIDE.
Biografia
As suas primeiras influências surrealistas surgem no ano de
1947, quando contacta com Mário Cesariny. Em 1948, fundam o Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com José Augusto França, António Pedro e Vespeira.
Publica em 1948, dentro desta corrente, o volume de colagens A Ampola Miraculosa, integrado na colecção dos Cadernos Surrealistas.
Este grupo depressa se divide em dois e dá origem ao
Grupo Surrealista Dissidente, com personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom.
Também este grupo se dissolve poucos anos depois, mas as influências surrealistas permanecem visíveis nas obras de Alexandre O'Neill.
Alexandre O'Neill, não conseguindo viver apenas da sua arte, alargou a sua acção à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar».
Publicou as antologias poéticas de
Gomes Leal, de Teixeira de Pascoaes (em colaboração com F. Cunha Leão), de Carl Sandburg e de João Cabral de Melo Neto.
Gravou o disco «Alexandre O'Neill Diz Poemas de Sua Autoria».
Em
1966, foi traduzido e publicado na Itália, pela Editora Einaudi, um volume da sua poesia, Portogall'o Mio Rimorso.
Em
1982 recebeu o prémio da Associação de Críticos Literários.
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Poema
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Há palavras que nos beijam
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Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
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Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
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Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Édith Piaf...Foi uma Cantora Francesa...

Édith Piaf (Édith Giovanna Gassion) nasceu em Paris, França no dia 19 de dezembro de 1915 e faleceu em Grasse, França no dia 10 de outubro de 1963.
Foi uma cantora francesa de música de salão e variedades, mas foi reconhecida internacionalmente pelo seu talento no estilo francês da chanson. Seu canto expressava claramente sua trágica história de vida.
Entre seus maiores sucessos estão "La vie en rose" (1946), "Hymne à l'amour" (1949), "Milord" (1959), "Non, je ne regrette rien" (1960). Participou de peças teatrais e filmes.
Em junho de 2007 foi lançado um filme biográfico sobre ela, chegando ao cinemas brasileiros em agosto do mesmo ano com o título "Piaf - Um Hino Ao Amor" (originalmente "La Môme", em inglês "La Vie En Rose"), direção de Olivier Dahan.
Édith Piaf está enterrada na mais célebre
necrópole parisiense, o cemitério do Père-Lachaise. Seu sepultamento foi acompanhado por uma multidão poucas vezes vista na capital francesa. Hoje, seu túmulo é um dos mais visitados por turistas do mundo inteiro.
Índice
1 Infância
2 Cantora de cabaré
3 Vedete de music-hall
4 La Vie en Rose
5 Vida amorosa
6 Chez Édith Piaf - Ses grandes amitiés: (Casa de Édith Piaf - Suas grandes amizades)
7 Música “L'accordéoniste”, por Édith Piaf
8 As grandes canções de Édith Piaf
9 Canções interpretadas por Édith Piaf
10 Os filmes
11 Ligações externas
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Edith Piaf : " L'Hymne à l'amour "

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Manuela F. Leite...Ah, as palavras!...

As palavras são seres pouco fiáveis. A uns dizem uma coisa, a outros outra, e, a muitos, não dizem coisa absolutamente nenhuma. Depois, têm uma perigosa tendência para a autogestão e para falarem por sua conta e risco.
Acho que Manuela Ferreira Leite não quis dizer o que há meses disse numa entrevista e que foram as suas palavras que o disseram contra a sua vontade: "Quando fui votar, no boletim de voto não estava o nome de Santana Lopes (...) Se lá estivesse o nome de Santana Lopes, não votava".
Ou então foram as palavras do seu vice-presidente, Castro Almeida, que falaram de mais quando há dias anunciou a candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa por proposta de… Manuela Ferreira Leite.
Talvez Manuela Ferreira Leite fosse propor outro nome mas as suas palavras tivessem dito: "Santana Lopes". Talvez Manuela Ferreira Leite sofra de síndrome de Tourette e "Santana Lopes" seja o palavrão que lhe sai sempre que abre a boca (na tal entrevista, em duas frases saiu-lhe duas vezes).
Talvez a liderança de Manuela Ferreira Leite no PSD seja um problema clínico e não um problema político.
Manuel António Pina
in JN

Bush...O Adeus ao Iraque...

Afrânio Peixoto...Escritor e Político Brasileiro...

Júlio Afrânio Peixoto (Lençóis, 17 de dezembro de 1876Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1947) foi um médico, político, professor, crítico literário, ensaísta, romancista e historiador brasileiro.
Ocupou a Cadeira nº 7 da
Academia Brasileira de Letras, onde foi eleito em 7 de maio de 1910, e a Cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Filologia, da qual foi fundador.
Índice
1 Educação
2 Médico, professor e político
3 Literatura
4 Obras
5 Bibliografia

O capitalismo do medo

Ao contrário do que perspectivaram os arautos do capitalismo como o fim da História, ao olhar­mos para a realidade comprova­mos que o capitalismo não só não é capaz de resolver os pro­blemas do ser humano, como os agrava. O mundo está hoje mais injusto e desigual. A face mais vi­sível do capitalismo, aliada às suas mais significantes caracte­rísticas - exploração, agressão, guerra - conduz a humanidade para uma situação preocupante. Os incautos pregadores deste atroz sistema convencionaram que o mundo assim é e assim se­rá sempre, que sempre houve exploração, ricos e pobres, que a miséria e a opulência são banais. Que é aceitável fomentar guer­ras, agressões ou ocupações que vitimam milhares de seres. O medo é hoje a arma de destrui­ção maciça mais terrível. Tem-se medo de perder o emprego, da subida das taxas de juro, da gripe das aves, de um atentado, dos ali­mentos, da camada de ozono, medo até do próprio medo. En­quanto isso, o sistema capitalista blinda-se, criando barreiras de exclusão e implementando me­didas securitárias que cada vez mais amordaçam os nossos di­reitos e sufocam a nossa liberda­de. A sociedade tem de se organi­zar de outra forma.
josé Manuel Fernandes Rio Tinto
(leitor da imprensa escrita standard)

COISAS ...

O resultado é aceitável? Porquê?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O FANTASMA DA RECESSÃO

A recessão assusta os EUA. Desenho de Lacoste.

A POESIA DE ANTÓNIO GEDEÃO

ANTÓNIO GEDEÃO (1906 – 1997)

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906 na freguesia da Sé, em Lisboa. Ai cresceu num ambiente familiar tranquilo, marcado profundamente pela figura materna, que muito o influenciou ao longo da sua vida.
Sua mãe, apesar de ter somente a instrução primária, tinha como grande paixão a literatura. Esse sentimento transmitiu-o ao filho Rómulo, assim baptizado em honra do protagonista de um drama lido num folhetim de jornal. Incentivado por ela toma contacto com os mestres: Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde. Ao ler a obra “As Mil e Uma Noites” passou a considerá-la uma das suas bíblias.
Aos cinco anos de idade começou a escrever os primeiros poemas, nunca mais deixando de o fazer. Ao entrar para o Liceu Gil Vicente interessa-se vivamente pelas ciências o que se vai intensificando ao longo dos anos. A literatura continua a acompanhá-lo mas, dado que era extremamente pragmático, procura uma certa estabilidade uma vez que continua a sentir-se atraído por essa área. Forma-se em Ciências Físico-Químicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Em 1932, um ano depois da sua licenciatura, forma-se em Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras do Porto. Comunicar e ensinar foram as suas paixões, usando a palavra mas também a escrita. Dedicou-se à ciência e à sua divulgação, deixando imensos trabalhos publicados e outros ainda por publicar.
Rómulo de Carvalho foi professor, pedagogo e autor de manuais escolares, historiador da ciência e da educação, divulgador científico e poeta. Desenvolveu uma actividade de divulgação científica que marcou gerações em Portugal. Os seus livros de divulgação em Ciência e Tecnologia e os seus artigos em jornais revelavam a sua preocupação com o despertar do interesse dos portugueses pelo conhecimento científico. Na “Gazeta de Física” publicou, até 1974, 22 artigos de divulgação científica, actualização didáctica e orientação pedagógica.
Mas a escrita, a poesia continuam a marcar a sua vida. Foi um poeta lúcido, com um sentido de humor nato e de uma sensibilidade abrangente a todos os níveis, mas dizia que não sentia, mesmo escrevendo sempre, que a sua poesia fosse de qualidade e tivesse utilidade...
Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas “Movimento Perpétuo”. Esse livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato.
Sendo este livro muito bem recebido pelos críticos António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro, no ensaio e na ficção.
A obra de Gedeão é um mistério para os críticos e as interrogações surgem: Porque aparece para a luz este poeta, já com 50 anos, não se enquadrando em qualquer movimento literário? Gedeão escreve poesia real que nos agrada, preocupa-se com os problemas comuns, pela época em que vive. Nos seus poemas exprime-se numa comunhão perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. É genuíno, simples, realista, sensível. A sua originalidade talvez tenha sido devida a ter amado, com paixão, dois interesses distintos que ele soube complementar. Gedeão comunica mostrando uma geração reprimida sem futuro adivinhado. A sua poesia é um caminho de esperança para a liberdade possível. Abre-se ao sonho ao escrever "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, que se torna num hino à liberdade. Em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e edita-se o álbum "Fala do Homem Nascido".
O professor Rómulo de Carvalho em 1974, desmotivado pela falta de autoridade que depois do 25 de Abril tomou conta do ensino em Portugal, decide reformar-se. Não se conforma com a desorganização do país. É convidado para leccionar na Universidade mas declina o convite.
Posteriormente dedica-se por inteiro à investigação publicando livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Mas Gedeão também continua a sonhar... e o homem, o ser humano que existe nele aproxima-o do desejo de morrer e em 1984 publica “Poemas Póstumos”.

“...Dorme, criança, dorme.
Não deixes ficar mal os que acreditam
no mito da inocência.

Dorme, e espera que os homens se aniquilem
enquanto dormes.
Reduz-te a imaginar como serão as flores,
os insectos, as pedras, as estrelas,
tudo quanto é belo e se reflecte
nos olhos das crianças.
Imagina o luar que cresce e aquece
e faz da tua carne flor de loiça,
orquídea branca que o calor não cresta.
Imagina, imagina.
Mas, sobretudo, dorme.”

Em 1990, com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, função que desempenhará até ao fim da sua vida.
Ao completar 90 anos de idade, é homenageado a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, é reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música.
A 19 de Fevereiro de 1997 parte para sempre Rómulo de Carvalho. Gedeão já tinha morrido alguns anos antes, quando da publicação de “Poemas Póstumos” e “Novos Poemas Póstumos”.

“...Já não me cansa o que lá vai no tempo.
Já não me cansa o que há-de vir depois.

A sombra existe sempre
mas quando o Sol me banha do seu alto,
ó alegria das alegrias!
Eu canto, eu rio, eu sonho, eu estendo os braços,
eu com os dedos afago.”

Homem de muito saber, discreto mas que em vida tanto fez por todos que tiveram o privilégio de o conhecer, de o ler, de aprender com ele. Para as futuras gerações será um marco de modernidade. Deixou uma saudade imensa pela sua integridade, pela sua subtileza, pela sua filosofia de vida.
Aida Nuno
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver quem é,
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas
Despertas;

Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
Órfãos de pais e mães,
Andarem acossados pelas ruas
Como matilhas de cães;

Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espantoRasgado pelo grito da sereia estridente;

Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;

Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA


António Gedeão, Linhas de Força

DECLARAÇÃO DE AMOR

Excita-me a tua presença, ó Arvore – ó Arvores todas!
Desejo-te (desejo-vos) como se fosses Carne, e eu Desejo.
Como se eu fosse o vento que preside às tuas bodas,
e te cicia em redor, e te fecunda num aliciante beijo.

Ponho os olhos em ti e entretenho-me a pensar que sou mãos,
todo mãos que te envolvem o tronco e te sacodem convulsivamente.
Requebras-te com volúpia, e os teus emaranhados cabelos louçãos
fustigam o ar como látegos com toda a força que este amor me consente.

Ó Arvore minha débil! Ó prazer dos meus olhos extáticos!
Ó filtro da luz do Sol! Ó refresco dos sedentos!
Destila nos meus lábios as gotas dos teus ésteres aromáticos,
unge a minha epiderme com teus macios unguentos.

Desnuda-me a tua intimidade, ó Arvore. Diz-me a que segredos recorrer