Imagem da campanha alemã: «O esquecimento é contagioso».
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Mais um comentário sobre as polémicas declarações do Papa sobre o uso do preservativo. O que motiva o meu regresso ao assunto é o artigo publicado ontem na revista «Lancet» sobre o mesmo tema.
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É necessário lembrar, para que regressar ao mesmo assunto não pareça insistência especulativa , que as declarações do Papa sobre o preservativo não resumem toda a sua viagem a África. Houve outras declarações importantes como as exortações de luta dos angolanos contra a corrupção, contra a descriminação de género no trabalho e no salário (esta também é aplicável a quase todos os países europeus), contra os abusos do poder e a favor de igualdade de oportunidades e de generalização do saber e da escolaridade, para mencionar apenas estes exemplos. Mas estas declarações não são polémicas.
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A novidade, neste momento, é o artigo que a revista «Lancet» dedica ao mesmo assunto. A revista britânica «Lancet», uma das mais conceituadas publicações médicas do mundo, exigiu que Bento XVI se retracte das polémicas declarações proferidas durante a visita que fez a África na semana passada sobre o uso do preservativo na luta contra a SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).
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A «Lancet» acusa o Papa de ter distorcido «publicamente os dados científicos com o propósito de promover a doutrina da Igreja sobre este assunto» [...]. «Não é claro se o erro do Papa se deveu à ignorância ou a uma tentativa deliberada de manipular a ciência para apoiar a ideologia católica», lê-se na prestigiada revista, que acusou ainda o Vaticano de ter «alterado ainda mais a verdade» quando referiu as declarações de Bento XVI. «Quando uma pessoa com tal influência, seja uma figura religiosa ou política, faz uma declaração científica falsa que pode ter consequências devastadoras, deve retractar-se ou corrigir publicamente aquilo que foi dito. Menos do que isso vindo do Papa seria um péssimo serviço ao público».
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Note-se que, segundo informação recente veiculada pelos meios de comunicação social, o Vaticano teria pedido um estudo sobre o uso do preservativo para prevenir infecções pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) pouco depois de Bento XVI ter assumido a sua actual posição de líder da Igreja Católica. O estudo foi terminado e entregue em dois meses, mas as conclusões nunca foram divulgadas porque seriam contrárias à «doutrina» oficial da Igreja.
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Ao iniciar a visita ao continente africano, Bento XVI afirmou que «a tragédia [da SIDA] não pode ser vencida apenas com dinheiro, nem pode ser vencida com a distribuição de preservativos que podem até aumentar o problema».
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A SIDA já causou 25 milhões de mortos em todo o mundo. Cerca de 33 milhões vivem actualmente infectados e, apesar de a esperança de vida ter aumentado com a medicação mais recente, não há perspectiva de cura em futuro próximo. De acordo com o programa da ONU sobre a SIDA, o UNAIDS, só em 2007 foram infectados 1,7 milhões e pessoas na África subsariana, onde vivem com VIH mais de 22 milhões de pessoas.
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Por cá, o grupo de risco é constituído por todos os jovens e os homens com mais de 55 anos de idade, pois é nestes dois grupos etários que as estatísticas indicam maiores aumentos de novos infectados.
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Os formadores que percorrem as escolas até ao nível do ensino secundário para fazer palestras sobre a prevenção e defesa contra a SIDA constatam que, dez anos depois da primeira palestra, as dúvidas continuam as mesmas. Em grande parte, tal não deve causar estranheza dado que a população escolar se renova constantemente: cada geração é substituída por outra, mais jovem, porque é essa a própria essência e razão de ser das escolas.
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Mas há um outro aspecto preocupante: num país onde a educação sexual ainda não chegou a todos, os jovens ainda perguntam "como se transmite o vírus".
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No anfiteatro da Escola Secundária de Vila Nova de Santo André, perto de Sines, o ar despreocupado dos finalistas ali reunidos dá lugar a expressões de choque. Acabaram de ouvir que fazem parte do grupo etário de alto risco responsável por cerca de metade dos novos casos de infecção de VIH em Portugal. A informação apanha-os de surpresa e exprimem-na através de uma torrente de perguntas que se atropelam umas às outras: "Se for detectado no início pode ser tratado?"; "Como é que nos podemos proteger?"; “Onde é que podemos fazer um teste para saber se estamos infectados?".
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Os técnicos da associação Abraço têm uma colecção de perguntas que demonstra claramente que os procedimentos de defesa e prevenção estão longe de terem sido interiorizados pelos jovens, 10 anos depois de terem sido iniciadas estas visitas a escolas para informar a juventude contra os perigos de contágio pela SIDA. As perguntas "O que é que significa VIH?" e "Como se transmite o vírus?" são as mais frequentes, como no primeiro dia das visitas há dez anos. Perguntas difíceis de aceitar numa altura em que Portugal assinala precisamente 25 anos da detecção do primeiro caso de SIDA no país. "Ao contrário dos estudos e relatórios que vão sendo divulgados sobre o conhecimento desta matéria, todos os dias respondo às mesmas perguntas e dúvidas que respondia há dez anos", diz um dos técnicos.
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A experiência do técnico é confirmada pelas estatísticas que revelam um paradoxo aparente: a geração que nasceu num mundo com VIH, que tem acesso à Internet e a uma vasta informação sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis, é também uma das mais atingidas pelo vírus. E é também responsável por Portugal estar em segundo lugar na tabela dos países europeus com a maior taxa de mães adolescentes.
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"Acredito que se todas as escolas tivessem programas de educação sexual consistentes, a situação seria muito melhor", defende Duarte Vilar, director da Associação para o Planeamento da Família, que promove educação sexual há mais de 30 anos.»
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Contudo, as ideias fundamentais da mensagem anti-SIDA podem ser resumidas em frases curtas, facilmente assimiláveis. Vejamos o essencial dessas ideias que qualquer adulto pode passar para os jovens:
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O vírus da SIDA transmite-se através:
- de sangue infectado;
- de fluídos sexuais (esperma e fluidos vaginais);
- da via placentária (da grávida para o filho);
- do leite materno.
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Mais do que isto é inventar, mas menos é correr riscos.
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Os preservativos são muito efectivos a impedir o contágio por via sexual - SÓ OS PRESERVATIVOS CORRECTAMENTE USADOS PREVINEM A INFECÇÃO E NÃO OUTRAS COISAS.
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O sexo oral não está isento de riscos e não deve ser praticado com desconhecidos(as) em encontros casuais. Não é raro sermos portadores de aftas, infecções orais, infecções na laringe, amigdalites ou outros ferimentos, por insignificantes que sejam. Quantos de nós já não se magoaram, por exemplo, a lavar os dentes? Quantos de nós não mordeu a própria língua por acidente durante a mastigação de alimentos?
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O preservativo existe e deve ser usado EM TODOS OS TIPOS DE ACTOS SEXUAIS.
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As seringas e objectos cortantes NÃO SÃO PARA PARTILHAR. Como é óbvio, uma injecção com uma seringa previamente usada tem altíssima probabilidade de causar infecção. O mesmo se aplica a lâminas de barbear, agulhas de tatuagem (que devem ser descartáveis ou esterilizadas), aparelhos para fazer piercings, etc.
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A informação é fácil de conseguir através da internet, nas escolas ou através das instituições de saúde.
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COMO NÃO SE TRANSMITE O VÍRUS?
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NÃO SE CONTAGIA:
- através de beijos;
- através de suor ou lágrimas;
- através da picada de insectos (a SIDA não é a malária!!);
- através de contacto corporal (aperto de mão, abraço, carícias...);
- através da partilha de copos e talheres (desde que não se esfaqueiem mutuamente, claro);
- através do uso da mesma roupa, da mesma toalha, do mesmo sabonete, dos mesmos lençóis;
- através do uso do mesmo espaço (A SIDA NÃO SE TRANSMITE NO AR, POR ESPIRROS OU TOSSE);
- através da masturbação (SIM podem brincar à vontade sozinhos);
- através da preparação de alimentos (deixem que o vosso familiar ou amigo(a) seropositivo(a) vos prepare o jantar e não reajam como pessoas do Terceiro Mundo).
BBC News, Público,
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