quarta-feira, 18 de março de 2009

Censura

Porque é que o The New York Times eliminou esta imagem de Henry Kissinger? (Não por causa das suas nádegas nuas)

A imagem de Kissinger abaixo (de David Levine) é uma das 320 ilustrações – de 142 de alguns dos artistas contemporâneos mais aclamados do mundo – que o próprio The New York Times tinha encomendado originalmente para as suas páginas de opinião editorial, mas depois teve receio de publicar, acabando por pagar mais de 1 milhão de dólares em “honorários de anulação” para ocultar da vista do público (por vezes durante até 38 anos).

Que é o que o Times não queria que vocês visse?

Podeis imaginar ilustrações tão “blasfemas”, tão “politicamente embaraçosas”, tão sexualmente “para lá da linha” que o The New York Times pagasse de boa vontade uma fortuna só para proteger os vossos delicados olhos de serem expostos a elas?

Encontrareis centenas de tais ilustrações supostamente “não aptas para ser publicadas” – juntamente com as razões bizarras e por vezes risíveis para as suprimir – num astuto e deliciosamente divertido novo livro chamado All The Art That’s Fit to Print (And Some That Wasn’t), de Jerelle Kraus, antiga editora de Arte das páginas de opinião editorial do Times, que após 13 anos deixou relutantemente o seu “trabalho de sonho” no Times para o publicar.

E temos sorte que o tenha feito. O seu livro (publicado pela Columbia University Press) resgata 320 impressionantes ilustrações por 142 dos artistas gráficos mais provocativos do mundo, incluindo David Levine, Jules Feiffer, Ronald Searle, Milton Glaser, Charles Addams, Maurice Sendak, Edward Gorey, Ralph Steadman, Larry Rivers, Saul Steinberg, Ben Shahn, Art Speigelman, Andy Warhol, Garry Trudeau, e muitos mais.

A publicação dessas ilustrações deveria ter sido uma ocasião de orgulho e regozijo no Times. Em vez disso, muitas foram excluídas por editores assustadiços – frequentemente apenas minutos antes do fecho da edição.

O que assustou esses mundanos editores do Times?

Kraus, que é o director artístico com mais antiguidade da página de opinião editorial do Times (houve 27), diz que os editores do Times estavam convencidos de que os ilustradores estavam sempre a tentar passar-lhes a perna, sempre a conspirar para fazer passar declarações sexuais ou políticas ocultas. De maneira que frequentemente atenuavam a arte editorial até quase esvaziá-la – ainda que, ironicamente, os artigos que ilustravam fossem com frequência audazes e impactantes.

Ainda que a administração do Times acreditasse que a pena era mais poderosa que a espada, tinha uma suspeita desconfortável de que a arte poderia ser mais brutal que a pena. Isso resultou em estranhas censuras de último minuto – especialmente de caricaturas de gente famosa, contra as quais existia uma proibição antiga e enigmática. «Podia-se escrevê-lo, e ser-se tão destruidor quanto se quisesse», diz Kraus, «mas não se podia desenhá-lo».

Por exemplo, esta ilustração bastante temperada de Bill Clinton como cruzado, de 1994 (de que Clinton provavelmente teria gostado), por Robert Grossman, foi recusada pelo antigo Editor Executivo do Times, Howell Raines, porque «é uma caricatura indecente de um presidente em exercício» – embora o editorial que ilustrava fosse bem mais indecente.
Todo o texto aqui.

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