quarta-feira, 18 de março de 2009

DUAS GALÁXIAS EM COLISÃO

O telescópio europeu gigante no Chile fez a melhor imagem alguma vez obtida de duas galáxias em movimento "lento" de colisão, informaram os astrónomos responsáveis pelo interessante trabalho. A imagem também deu aos astrónomos a oportunidade rara de surpreender a explosão de uma estrela que, por mero acaso, aconteceu na mesma área do firmamento.
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As duas galáxias em colisão são conhecidas colectivamente pela designação Arp 261, designação derivada da classificação que lhe coube no catálogo de Halton Arp para Galáxias Especiais. Com o separador de frequências montado no telescópio conseguiram várias fotografias, uma para cada frequência de radiação que, após sobreposição, produziu esta imagem aqui reproduzida. É o que se chama uma imagem composta (composite image) porque faz a integração de várias imagens, sendo cada uma resultante de um tipo de radiação. Assim, os astrónomos foram capazes de fotografar o inusitado acontecimento com maior detalhe como nunca antes.
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As galáxias Arp 261 estão localizadas a cerca de 70 milhões de anos-luz de distância na constelação de Libra, num local específico chamado Escalas. Observa-se com muita facilidade que uma delas está deformada devido à interacção gravítica. A sua estrutura caótica, muito invulgar, é o resultado da proximidade das galáxias e da atracção gravítica mútua. Embora seja muito improvável que as estrelas (e os planetas) de cada uma colidam com os da outra, as enormes nuvens de gás e poeira (manchas brancas visíveis na fotografia), que se deslocam a alta velocidade, têm tendência a aglomerar-se e a formar uma nova nuvem, muito maior, levando à formação de novos núcleos de aglomeração de material que, por sua vez, formam novas estrelas muito quentes e muito brilhantes que se vêem claramente na imagem (pontos luminosos disseminados pela nuvem branca).
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As trajectórias das estrelas em cada uma das galáxias existentes podem ser dramaticamente perturbadas, fazendo desaparecer os raios em espiral de cada uma, como se pode ver na parte superior esquerda e inferior direita da imagem. As duas galáxias em interacção serão, provavelmente, galáxias anãs não muito diferentes das Nuvens de Magalhães [de poeira e gases] que orbitam a nossa própria galáxia.
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As imagens usadas para criar esta imagem não foram realmente tomadas para o estudo da interacção gravítica entre galáxias mas para investigar as propriedades do objecto pouco definido, um pouco para cima e para a direita da parte mais brilhante de Arp 261 e muito próximo do centro geométrico da imagem. Este ponto luminoso é um objecto resultante da explosão de uma estrela, chamada SN 1995N, que se pensa ser o resultado do recente colapso de uma estrela gigante no fim da sua vida, portanto uma supernova.
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A supernova SN 1995N é invulgar porque, após alguns anos de observações cuidadosas, se verifica que o brilho tem tido um fraco declínio mais de sete anos depois da explosão ter ocorrido.
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Por outro lado, é uma supernova típica devido à forte emissão de Raios X. Pensa-se que a emissão de Raios X é produzida pela forte densidade de material compactado pela gravidade da própria estrela, a qual reduz muito o seu tamanho devido à forte compressão do material que a constitui, transformando-se num corpo de neutrões produtores de radiação X.
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A imagem também captou dois pequenos asteróides do nosso Sistema Solar, que estão entre as órbitas de Marte e Júpiter e que atravessaram as imagens quando estas estavam a ser tomadas. Eles aparecem com o rasto vermelho, verde e azul, à esquerda e na parte superior da imagem. O asteróide no topo é o número 14670 e o da esquerda é o número 9735. Eles têm provavelmente menos de 5 km de diâmetro.
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Existe também uma estrela localizada na parte inferior da imagem. Embora pareça enorme e muito brilhante na fotografia, na verdade a sua luz é cerca de cem vezes menor que o nosso limiar de sensibilidade, o que impossibilita vê-la a olho nu. É, provavelmente, uma estrela do tamanho do Sol a cerca de 500 anos-luz de nós.
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Arp 261 e a supernova estão a cerca de 140.000 vezes mais longe do que esta estrela. Muito mais distante ainda, talvez a cerca de cinquenta a cem vezes mais longe do que Arp 261, está um “pequeno” aglomerado de galáxias visíveis à direita da foto. Verifique: trata-se de um grupo de quatro pontos amarelos perto do bordo direito da fotografia.
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É de realçar que o que vemos nesta fotografia aconteceu há 70 milhões de anos, dada a distância que nos separa das galáxias Arp 261. Como estão agora estes objectos? Não sabemos. Só saberemos daqui a 70 milhões de anos.

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