Muita tinta correu esta semana sobre as abomináveis declarações do papa Bento XVI acerca do preservativo e da SIDA. França, Bélgica, Espanha e Alemanha criticaram correctamente, estas declarações. Mas há coisas simples que têm de ser ditas.
África é o local do mundo onde se localizam 67% dos infectados com o HIV. Só em 2008, quase 2 milhões de Africanos foram infectados de novo. Há países na África sub-sahariana onde a percentagem de infectados ascende aos 45% da população total. Para além da transmissão sexual, a transmissão materno-fetal atinge números elevadíssimos, nascendo, todos os anos, crianças já infectadas.
África é um continente devastado pela miséria, onde trabalham várias ONG's, distribuindo preservativos e procurando apoios institucionais no mundo dito desenvolvido para o fornecimento de medicação gratuita para o HIV (em quase todos os casos com sucesso reduzido...).
Existem muitos ocidentais que há vários anos fazem campanhas de promoção do uso do preservativo, não só distribuindo-os gratuitamente, como também intervindo na comunidade, explicando os riscos do HIV e de que forma o preservativo o pode evitar. Mas é claro que as condições sociais e políticas em que vivem as populações Africanas desde sempre dificultaram este trabalho e, por isso, a infecção continua a alastrar, a dizimar milhões de vidas e a diminuir a esperança e a qualidade de vida dos jovens e das jovens Africanas.
A SIDA em África é hoje um flagelo, uma pandemia, uma realidade aterradora e um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento deste continente.
Desde cedo (início da década de 80), com a descoberta do HIV como causa de SIDA, se percebeu que o sexo é a forma mais comum de contágio deste vírus. E foi também muito cedo que a ciência demonstrou a elevada eficácia do uso do preservativo masculino na prevenção da transmissão do HIV. Até hoje, nenhum caso de transmissão foi registado com o uso correcto do preservativo, seja em relação heterossexuais ou homossexuais, seja em sexo vaginal, anal ou oral. Estima-se que hoje, com todas as campanhas de prevenção que foram realizadas em todo o mundo, se tenha impedido uma pandemia global.
Na maioria dos países Europeus, com o virar do milénio, a incidência de novas infecções por HIV começou a descer - o uso disseminado do preservativo e as campanhas públicas dirigidas à população começaram a surtir efeito.
E é perante estes dados tão simples, que as declarações do papa se resumem ao ridículo de uma fantasia alienígena que toma o inverso do mundo como a sua verdade. Entre afirmar que os preservativos complicam o problema da SIDA em África ou dizer que a queda de um 59º andar para o cimento duro melhora a digestão, não há diferença nenhuma. O papa é ridículo e diz coisas que, aos olhos da realidade, são ridículas e fantasiosas.
Mas para além de ridículo o papa tem uma visão maléfica do mundo, pois quando condena uma menina de 9 anos à excomungação por ter sido violada e nada tem a dizer sobre o seu violador... Há algo de errado na ordem de valores deste senhor!
Essa é a razão porque escreverei a minha carta de apostasia brevemente, porque não posso estar vinculado a uma religião em que o seu líder máximo convida à violação de menores e à infecção pelo HIV.
Convido todos e todas os/as que foram baptizado/as a escreverem a sua carta de apostasia como protesto e envio um link de um modelo desta carta em castelhano: http://ateus.org/docs/ImpresoApostasiaReducidoACCas.pdf
Bruno Maia
in Esquerda.net
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2 comentários:
Não quero alongar-me mais, uma vez que já disse o que tinha a dizer sobre este assunto num artigo que eu escrevi publicado neste blog.
Apraz-me reconhecer grande identidade de opiniões entre o meu "escrito" e este artigo publicado pelo jornal Globo. Mais uma vez, o que ressalta é uma prevalência da ideologia (os teóricos das religiões chamam-lhe teologia) sobre as necessidades humanas (há quem lhe chame Humanismo). Esta anomalia é, infelizmente, comum a todas as religiões, nomeadamente as monoteístas.
Congratulo-me por os autores de O Cacimbo não terem deixado passar "em Branco" mais esta asneira de quem de branco se veste para branquear posições nefastas- para não dizer mais - da Igreja que representa.
Como aqui já escrevi, urge que os Católicos exijam que este cardeal abdique das funções em que foi investido como Papa.
De outra forma, prejudicam a sua Igreja e ofendem a Humanidade.
E, tal como o Abacaxi, espero não ter de voltar a este assunto.
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