Sempre que faz uma alusão a Manuela Ferreira Leite, mistura alhos com bugalhos e não tem escrúpulos em distorcer o sentido de coisas que ela tinha dito. Não se pode contar com ele para um debate sério e muito menos para um combate político leal.
Isto, sem falar na falta de originalidade com que capricha em imitar servilmente as inanidades proferidas pelo seu homem de mão Augusto Santos Silva, apaniguado que passa a vida a acusar os adversários de um vazio de ideias do mesmo passo que demonstra que não está propriamente cheio delas.
O primeiro-ministro, rodeado por medíocres criaturas de indefectível servilismo, tem uma fatal vocação para desgovernar, duvidoso mérito emparelhado com medidas e promessas de "retorno absoluto garantido" sistematicamente furadas, entre mentirolas bombásticas e desculpas de mau pagador.
No último congresso do Partido Socialista, ele invocou matérias transcendentes, de suculenta e decisiva importância nacional, que o impediam de se deslocar a Bruxelas para participar na reunião informal de chefes de Estado e de Governo, retendo-o no meigo rebanho dos correligionários que tão acrisoladamente vai pastoreando. Pois aquelas matérias de coturno sublimado revelaram-se afinal tão obviamente "cagativas" que bastou um simples apagão para serem varridas de vez da ordem de trabalhos do conclave.
Sócrates proferiu então aquela frase estarrecedora e napoleónica, destinada a ser gravada a ouro nos manuais de ciência política do futuro ("a nossa legitimidade para estar na Europa começa aqui").
O mesmo sujeito enfático e verboso que se limitou a abordar o tempo de escolaridade e o ensino pré-primário como medidas salvíficas, largou ainda esta pérola requintada: "Aqui, reunidos em Congresso, o PS faz escolhas e toma decisões. É aqui que se discutem as ideias e as propostas políticas que apresentamos aos portugueses." E acrescentou, com aquela convicção feroz de quem se quer fazer passar por uma força da Natureza sem perceber que lhe falta o gabarito: "Nós debatemos, de forma aberta, franca e pública, os problemas do País e as respostas que são necessárias. E é disto que o País precisa e é isto que o País espera de nós."
Viu-se. Houve um debate copioso, aprofundado, fracturante e deveras ensurdecedor. Com tantas ideias e propostas discutidas, com tantas respostas lestas adoptadas, Portugal já não vai para o galheiro.
Faz dó. O PS tornou-se um partido cabisbaixo. E com o PS, o Estado português tornou-se calaceiro e caloteiro. O QREN vai com dois anos de atraso. O funcionamento da justiça pede meças à eternidade. O pagamento das dívidas do Estado às PME continua em ponto morto. Os nomes de amigalhaços e compadres surgem em constelação tentacular, ligados a negociatas e tranquibérnias. As iniciativas sérias, viáveis e eficazes, adequadamente dimensionadas para a natureza e gravidade dos problemas, continuam sem aparecer.
É o Portugal da meia bola e força no melhor das suas águas turvas: umas mediocridades absolutas, umas banalidades sem remédio, uma chocante falta de rigor, uma política trapalhona, uma manipulação permanente e videirinha, umas espertezas saloias, uma teia de rabos-de-palha ainda muito longe do esclarecimento necessário.
Sócrates está-se marimbando solenemente para tudo o que não seja a promoção desenfreada da sua enfatuada pessoa e a sua própria campanha eleitoral.
Incompetente para propor e desencadear quaisquer soluções sérias para o desemprego, a economia, a insegurança, a justiça, a educação, a saúde, etc., etc., é então que se lembra de introduzir o tema da campanha a que chama negra.
Ora quem tanto se autovitimiza com essa rábula da "campanha negra" fica reduzido a fazer, por sua vez, uma campanha cor de burro quando foge. Confere.
Vasco Graça Moura
in DN
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