domingo, 8 de março de 2009

A Língua de Camões tratada por "Bestas Quadradas"...

Lê-se e não se acredita. "Neste processador podes escrever o texto que quiseres, gravar-lo e continuar-lo mais tarde", lê-se nas instruções do processador de texto - isso mesmo: "gravar-lo e continuar-lo". "Dirije o guindaste e copía o modelo", explicam as instruções de um puzzle - "dirije" com "j" e "copía" com acento no "i". "Quando acabas-te, carrega no botão OK" - "acabas-te", em vez de "acabaste". Tudo isto se pode ler nas instruções dos jogos que vêm instalados de origem no computador "Magalhães", o orgulho do Governo de Sócrates.
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Se tem em casa um "Magalhães", confirme: ao iniciar o computador, escolha o ambiente de trabalho Linux (Caixa Mágica 12 Mag). No menu, vá aos jogos - por ironia, estão no ícone "Aprender". Em cada jogo, leia as instruções (o ícone é um ponto de interrogação). Foi isso que fez esta semana o deputado José Paulo Carvalho - o que descobriu deixou-o perplexo.
Os erros são às dezenas (o Expresso encontrou mais de 80, e a certa altura deixámos de contabilizar erros repetidos) e para todos os gostos. Há gralhas evidentes ("attentamente") e erros imperdoáveis. "Encontra-las" e "encontras-te", em vez de "encontra-as" e "encontraste"; "contar-los" em vez de "contá-los"; "caêm" em vez de "caem"; "contéem" em vez de "contêm"; ou ainda a incrível conjugação do verbo fazer - "fês" em vez de "fez". Num jogo somos instruídos a mover "um disco de cada vês", noutro devemos "carregar outra vês no chapéu" (no "Magalhães", "vez" tem relação com o verbo ver). No xadrez, a vez das peças brancas é o "torno dos brancos".
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Ao pé destes casos, é quase pecado venial o desprezo por vírgulas e acentos. Há acentos que faltam ("historia", "sitio", "agua"...), outros estão onde não deviam (sobretudo nos advérbios de modo: "básicamente", "fácilmente"), há acentos graves onde deviam ser agudos ("á direita", "ás actividades").
Numa língua aparentada com o português, encontramos frases como esta: "O objectivo do quebra-cabeças é de entrar cifres entre 1 e 9 em cada quadrado da grelha" (nas instruções do sudoku). Ou esta, na explicação do tangram, um quebra-cabeças chinês: "Quando o tangram for dito frequentemente ser antigo, sua existência foi somente verificada em 1800". E ainda esta pérola: "Carrega em qualquer elemento que tem uma zona livre ao lado dele, ele vai ir para ela."
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Este português macarrónico está nos computadores pessoais que já foram entregues a mais de 200 mil crianças do primeiro ciclo (ainda estão 150 mil à espera) e até foram oferecidos por Sócrates aos chefes de Estado e de Governo dos 22 países presentes na última cimeira ibero-americana. A 23 de Setembro, ao entregar os primeiros "Magalhães", Sócrates não escondia o orgulho: "O dever de um Governo é proporcionar uma boa educação. Foi por isso que avançámos com este projecto".
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O deputado José Paulo Carvalho denuncia estes "erros grosseiros de ortografia, gramática e sintaxe" num requerimento que entregou ontem na Assembleia da República. No documento, a que o Expresso teve acesso, o ex-parlamentar do CDS (actualmente deputado não inscrito) questiona Maria de Lurdes Rodrigues sobre o que chama o "novo idioma oficioso do Ministério da Educação (ME): o 'magalhanês'".
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José Paulo Carvalho deixa muitas questões ao ME. Vão ser substituídos os programas informáticos instalados nos computadores já entregues às crianças? Quando? Como? Quem suportará os custos dessa operação? O Ministério considera que esta situação é da sua responsabilidade? Se não, quem é responsável? "O Ministério da Educação efectuou alguma avaliação dos conteúdos do 'Magalhães', ou limitou-se a distribuí-lo e promovê-lo sem mais? Se fez essa avaliação aos conteúdos, como é possível que erros tão grosseiros e repetidos não tenham sido detectados?" E pede uma auto-avaliação ao ME: de 0 a 20, que nota daria a estes textos?
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Os linguistas acham inconcebível o sucedido e denunciam a precipitação e negligência com que o Ministério vem trabalhando
A Sociedade de Língua Portuguesa diz que os erros no Magalhães são "o espelho da desorganização e negligência de um órgão com grandes responsabilidades na educação dos jovens". Ao Expresso, a presidente da direcção, Elsa Rodrigues dos Santos, afirmou que "o tratamento destes textos foi feito por quem não conhece minimamente a língua portuguesa. Incumbia ao Ministério da Educação a tarefa de rever e dar a redacção correcta. Não o fez, colocando-se numa posição inadmissível".
in Expresso
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É uma vergonha...a "menina dos olhos" do Pinócrates, o qual andou a distribuir Magalhães por tudo o que era sítio, incluindo a países estrangeiros, está cheio de erros de "palmatória"...
Não me digam que a culpa é de quem fabricou o software...A culpa está sim no Ministério da Educação e na balofa da Lurdes, que na sua cruzada contra os professores, não tiveram tempo nem vontade de verificar os computadores que com pompa e circunstância andaram por aí a espalhar...Alguém tratar mal a língua portugues é péssimo, mas quando é o próprio Ministério a não se preocupar com ela, não há palavras...
Mas também de um Ministério dirigido e composto por uma corja de imbecis incompetentes que podemos esperar??? ...

1 comentário:

zigoto disse...

Pois.
Acontece que a tradução foi feita no célebre inglês técnico que o Zézito considera ter-lhe atribuído o grau de engenheiro.
Perguntem à Ordem dos Engenheiros se o conhecem; verão que não está lá inscrito por uma razão simples mas suficiente: não o é.