domingo, 15 de março de 2009

A Fisga


De um prezado camarada e amigo, leitor deste blogue, recebi um email em que me pedia para continuar a escrever o que aqui vou publicando mas confessava:

“Continua a escrever, mesmo que eu discorde de algumas ideias, gosto de determinação e, por isso, apoio o P.M.

As pessoas boas são rejeitadas e condenadas - Guterres.

Não vivo de ilusões mas de realidades mesmo que eu e tu sejamos afectados.”

Aqui está um exemplo sintomático. Este meu camarada e amigo passou pela guerra colonial ao meu lado, esteve no 25 de Abril ao meu lado mas basta lermos o que me confessou para se entender o seguinte:

Como gosta de determinação apoia o P.M. E mais: ‘as pessoas boas são rejeitadas e condenadas’ e termina com a espantosa afirmação: ‘Não vivo de ilusões mas de realidades mesmo que eu e tu sejamos afectados.

Em particular, esta última frase citada explica muito da idiossincrasia do nosso Povo:

Obrigados durante mais de oito séculos de História a vivermos sob o jugo de um poder absoluto – passem de barato algumas tentativas frustradas de impor algo parecido com a Democracia ( 1820, 1870, 1910 e mais algumas ‘intentonas’) chegamos ao 25 de Abril e, durante o PREC, houve quem acreditasse ‘nas conquistas irreversíveis da Revolução’. Como todos sabemos e a História já regista, as tais conquistas foram sol de pouca dura. Bastou Novembro para acabar com elas.

Por tudo isso, não me surpreende a camaradagem e as fraternas palavras deste meu amigo. E não me surpreendeu por:

Além da nossa efémera (espero eu) discordância, haver uma realidade, essa sim, incontornável:

Portugal e os portugueses habituaram-se de tal maneira a viverem à rédea curta que já não se sentem capazes de tomar o destino nas suas próprias mãos.

Preferem ser governados por um Pinócrates do que exigirem um governo decente que acabe com a bandalheira na Justiça, Saúde, Ensino, Segurança, etc., do que exercerem o direito à Cidadania que, por enquanto, formal e constitucionalmente ainda lhes é facultado.

Mas é bom e saudável ainda haver camaradas com coragem para, frontalmente, discordarem de mim.

Como optou por não o fazer publicamente em O Cacimbo, também eu respeito e respeitarei e a nossa troca pessoal de ideias e opções.

Mas ela aqui fica pedagogicamente, na esperança de ser útil a quem não tem prestado a atenção devida ao que se vai passando.

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