quarta-feira, 17 de setembro de 2008

POESIA PORTUGUESA ERÓTICA E SATÍRICA - #1

DÓRDIO GUIMARÃES (Porto 1938 - Lisboa 1997)

Nos seus poemas reverberam cintilações que o tornam inconfundível e lhe contornam um pecúlio de singular destaque na sua geração.
O desejo carnal ora é convertido no êxtase espiritual da contemplação, ora é acto puramente contemplativo que aspira a consumar-se no vértice da sensualidade
.

DIAMOR I

É de cravo. Toque de pétala em minha boca
a tua língua redonda. Talo cálido
macio de ponta subtil de tamanho.
Olhos para cima ardendo incessante de cabelos
girassóis gémeos maduros no corpo do meio.
Punhal de luz de permeio
e no cabo de lâmina a pérola do umbigo
algas escorrendo ausência de Tejo nos dedos.
Cabo do mundo dos meus fascínios
dos meus delírios bem fundo que digo?
E o lugar dos joelhos hangares paralelos
insuspeitos de viagens rotuladas.
Ó gulas que as zonas do apetite jogam os dados
com pazes e êxtases estudados.

Outrora disseste rei terei
Ó se minha arte tal fosse
porque leal e amor sou
homoalma inscrever-te no cosmos.
Minha mulher. O teu sexo de colher.
De saber torrencialmente minha.

Beber-te moderno sumo do fruto.
Abundante por espasmos
de enorme segredos menstruados.
Sorver a plenos pulmões teu hálito mais secreto.
Esvair-me de concreto.
Ajoelho-me semeador ante a ternura
do cálice por ti aberto.
Desfoca ao longe a bebida.
de já não vê-la de tão perto …
E o talhe dos teus rins muita de Florença.

Pés de mármore de si rotativos a Sirius.
Ventre que em movimentos flutua.
Fartura de lua.
Nádegas porcelares, carnagens lótus.
Aprumo de haste bambu ao Sol e a Marte.
Sexo de mim cação em teu sexo tubarão …
e o teu clito perdoa que não aparece!

Ó dor! Eis-te amor. Meu amor.
Nem Vénus. Nem de Cnido nem de Milo.
Muito branca muito morena e quente.
Muito querida e nua viva de frente.

DIAMOR II

É nesta indecisão de folhas caindo caindo
decisão de altas artes plantas plantas
a boca me ardendo nas tuas mamas tantas
soltando-se em alces fugindo fugindo

As horas sendo em nossos cabelos.
Uma a uma. Uma um. Do tempo a Tagus.
Meus olhos égides tristezas minhas
que as não desejo aos relâmpagos.

Aqui a solução é não sabermos nadar
me chamas irmã dos espaços morenos.
Entre ondas de carne e unhas seremos
medo, cisma, orgasmo de podermos voar.

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