segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Mentira Autoritária da “Liberdade Absoluta”

A ideia de liberdade absoluta acarreta na redução da sociedade em estágio de selvageria e caos. Nenhuma sociedade, em quaisquer orientações políticas, inclusive a anárquica, pode admitir a liberdade absoluta, sendo que esta é mais uma ideia difamatória de inspiração burguesa. Liberdade Absoluta implica no direito de liberdade até mesmo para aqueles que querem suprimi-la. Resulta em dar o direito aos fascistas, ou partidários da monarquia, de existirem e de promoverem suas acções contra uma ordem estabelecida, sem que sofram represálias por isso. Aos inimigos da Liberdade não se pode conceder nenhum direito, nem o direito de viver. A “Liberdade Absoluta” implica na negação da organização social, nos seus meios de produção e de direitos políticos. Ou seja, implica na negação da própria ideia de liberdade, de direitos de decisão iguais para todos. A sociedade necessita de normas para que sua funcionalidade e harmonia existam, como, por exemplo, a organização do ensino, dos correios, da produção de bens de consumo, etc. Imaginemos se cada indivíduo ou organização que desempenha certa função social resolvesse fazer o que bem entendesse. Se, por exemplo, os responsáveis pelos correios resolvessem queimar todas as cartas de envelope branco ao invés de encaminha-las aos seus destinatários, pelo simples fato de que preferem os envelopes azuis. Se indivíduos de certa região resolvessem destruir as cidades, sem dar satisfações a ninguém, por acreditarem que as cabanas de palha são mais agradáveis. Certamente, este seria o caos, não só numa ordem capitalista ou socialista, mas também na ordem anarquista. Se nós podemos dizer que preferimos o caos ao invés do capitalismo, é porque temos a ideia de que o capitalismo é o verdadeiro caos, com suas injustiças e mazelas, que possibilita a existência do bandidismo e crueldades, e em contrapartida, o que chamam de “caos anárquico”, é a verdadeira ordem, é a organização promovida pela própria sociedade em benefício de todos. O Caos proclamado pelos anarquistas nada mais é do que a negação da ordem capitalista e a defesa de uma nova ordem, radicalmente contrária a esta, que promove a autogestão, a liberdade e igualdade dos indivíduos na sociedade. Penso que no momento em que as forças populares estiverem suficientemente organizadas e com condições reais de suprimir a actual ordem capitalista para pôr em prática a ordem que acreditamos ser a mais justa e harmoniosa entre os homens, a anarquista, a organização insurreccional, a nível nacional, deve propor seus novos métodos de organização social, de modo que a produção seja feita com as visões nas necessidades económicas nacionais, e que cada comuna, cada federação de comunas, deve construir suas próprias normas sociais, de acordo com as necessidades regionais. As normas não são limitações da liberdade, e sim meios para as quais sejam constituídas da melhor forma possível as relações sociais, e com a fundamental diferença de que a própria sociedade construirá suas normas, não como as leis do Estado, feitas pelas classes dominantes com o fim de manter sua hegemonia e subjugação. A consciência da democracia directa, do altruísmo, é a peça fundamental para manter a sociedade livre e igualitária num regime anárquico. E a desobediência ao bem geral, por uma simples questão de ego, deve ser punida como atentado às liberdades colectivas pela própria sociedade através de suas normas livremente constituídas e aceitas. As punições, longe dos métodos canibais e coercivos utilizados pelos Estados hoje, serão feitas das formas mais eficazes e humanas possíveis, com métodos de regeneração social. Hoje em dia, também devido às difamações burguesas-liberais, se rotula “Autoritário” em tudo que se trata de normas de convivência. Penso que autoritário é deixar que os meios de mídia, usufruindo e sua “liberdade de pensamento e expressão”, exibam seus filmes e novelas pornos ao meio-dia, incentivando o sexismo e fazendo sua apologia sobre as drogas e violência. Igualmente autoritário seria se o indivíduo, usufruindo de sua “liberdade absoluta”, resolvesse subjugar toda uma sociedade por seu bel-prazer, chantageando pessoas ou destruindo vidas em nome de uma “liberdade” psicótica que manda as pessoas fazerem o que quiserem. Para isso, não seria necessário destruir o sistema actual, nem pregar a “liberdade absoluta”, pois essas barbáries já existem e ditam a convivência social no capitalismo.


«As populações têm na não-violência uma arma que permite a uma criança, a uma mulher ou mesmo a um velho sem forças resistir e derrubar o mais poderoso dos governos» Gandhi

A VIOLÊNCIA

– é um desperdício estúpido de vidas humanas, de muitos recursos da inteligência, e muitas vezes, da enorme riqueza da vida vegetal e mineral que deveriam ser conservadas•
– é elitista, pois gera hierarquias disciplinadas de especialistas, que seguem um lógica própria, difícil de controlar. Além disso, a violência privilegia os jovens e os saudáveis (normalmente, os homens)•
– é mistificante, porque normalmente manipula as emoções, utilizando expedientes, truques, mentiras, hinos, bandeiras, medalhas, uniformes, veneração de heróis, tendo quase sempre uma veneração reverencial à arma, supremo símbolo da violência.•
- É perturbadora da personalidade, uma vez que encoraja atitudes de agressão, levando as pessoas a tratar dos outros como objectos a remover ou eliminar, tal como num jogo se tratasse•
– é corruptora e auto-perpetua-se, originando a sua própria espiral de paranóia, fugindo a qualquer controle político•
– é sexista, já que tem sido praticada, historicamente, pelos homens•
-é injusta, porquanto tende à vitória do mais forte, e não do mais justo•


A NÃO-VIOLÊNCIA

– é humana, porque utiliza sobretudo as qualidades que só a espécie humana possui•
– é subversiva, porque mina a legitimidade das instituições vigentes que se mantêm pela força (por definição, o Estado tem o monopólio da violência), ataca as fontes de poder, não respeitando as normas sociais impostas, e permite a mobilização de outros valores sociais, estranhos a todas as formas de dominação•
– é um método civilista, uma vez que pressupõe a politização e a consciencialização da população, baseando-se na bravura física e na força de vontade das pessoas, permitindo a participação popular de todos, e não só dos mais aptos, nem apenas dos especialistas•
– é voluntária, já que nos métodos de não-violência as pessoas não são recrutadas obrigatoriamente, nem pela pura propaganda, nem a disciplina é mantida pelo medo•
– é radical, porquanto os seus métodos envolvem incentivos à consulta e participação da maior parte da população, constituindo uma prefiguração das sociedades mais livres.•
- Ajusta-se a todas as comunidades, não sendo necessário o recurso e o investimento a tecnologias, a máquinas nem a indústrias que são característica da civilização ocidental tecno-burocrática•
– restringe e inibe a violência descontrolada e a fuga dos conflitos para fora do controle político das populações•
– é dignificante, já que só depende da vontade de afirmação das pessoas e da sua recusa em abdicar dos seus argumentos, considerados os mais justos
Conclusão: A não-violência é, portanto, muito mais do que uma táctica útil e pragmática. Na realidade, a não-violência promove activamente a participação popular e a criação de estruturas descentralizadas. Para além disso, supõe a mobilização das consciências e das energias individuais e colectivas para novas formas de relacionamento, opostas às relações de dominação, à violência e à exploração, típicas das sociedades hierarquizadas e estratificadas como é a actual sociedade capitalista.

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