segunda-feira, 2 de março de 2009

UM PARTIDO PORTUGUÊS

"Cartoon sem Manuela Ferreira Leite", por António (Expresso).
A dra. Manuela Ferreira Leite declarou “inaceitável” e “verdadeiramente escandaloso” o facto de Sócrates faltar à “cimeira” da “Europa” de Domingo, dia 1 de Março, por causa da “festa do PS”, que ele “põe à frente do país”. Para a dra. Ferreira Leite a dita “cimeira” é tão importante que não há “nenhum primeiro-ministro que não tenha a obrigação de estar presente”, “mesmo com 40 graus de febre”.
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Não se percebe o que a levou a levantar esta tempestade num copo de água. Primeiro, o reunião de Bruxelas não vai decidir nada de urgente, nem a influência de Portugal nela (com ou sem 40 graus de febre) é, de longe ou de perto, decisiva. Segundo, Sócrates não falta por causa de uma “festa” do PS, falta por causa do congresso do PS, ou, mais precisamente, por causa do lançamento solene da campanha eleitoral para as legislativas. Terceiro, tanto o CDS, como o PCP e o Bloco não se indignaram muito com a coisa. E, para acabar, o cidadão comum ficou indiferente.
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A dra. Manuela Ferreira Leite costuma intervir mal, a despropósito e fora de tom. E já se tornou claro que à volta dela não há ninguém com senso que a dirija e aconselhe. Não por acaso, chegou ao fundo da impopularidade e arrastou o PSD com ela. Alexandre Relvas, que recebeu (só Deus sabe porquê) a alcunha deprimente de “Mourinho de Cavaco”, não lhe recomenda melhor do que a “unidade”. E Pedro Passos Coelho num debate sobre o duvidoso futuro do PSD, depois de se queixar do autoritarismo interno, preveniu, como num filme de terror, que o partido já andava a perder votos para o Bloco. Mas também, por acaso ou percalço, resolveu revelar a seguir o segredo da casa, quando claramente disse aos militantes: “Deixem de pensar na eleição, pensem no futuro além (da) eleição”, porque o resultado talvez não seja “tão mau” como “isso”. Mau para ele, evidentemente.
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Estranho? De maneira nenhuma. Tirando a dra. Manuela Ferreira Leite (MFL) e alguns milhares de ingénuos de província, o PSD não quer ganhar a eleição de Outubro. Meia dúzia de notáveis, a começar por Passos Coelho, querem suceder a Manuela. Dezenas de caciques [locais] querem as câmaras [municipais]. Marcelo quer (presumivelmente) a presidência. E muita gente (mais do que se julga) quer a desforra. E, para chegar a esses nobres fins, quem se importa de abrir a porta ao PS de Sócrates? Quanto ao país, ele que se arranje como puder. E se puder.
Vasco Pulido Valente, Público.
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Comentário meu: Tudo o que VPV aqui diz é mais do que óbvio: é evidente que MFL é uma figura provisória posta no lugar apenas para fazer a travessia do deserto de mais um mandato do PS; é evidente que MFL está, por isso mesmo, isolada, sem alguém que a acompanhe e aconselhe; é evidente que os barões do PSD estão em recato à espera da sua oportunidade que só acontecerá nas próximas eleições; é evidente que Passos Coelho já começou a campanha eleitoral interna para se candidatar a líder do PSD. É evidente que, no meio desta feira de vaidades que é o ambiente político do Portugalete, o que menos conta é o futuro do país, ou seja, nenhum “político” profissional está preocupado com o futuro do país mas apenas com o seu próprio.
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É evidente também que todos os políticos desta fornada são desastrosos e medíocres e não têm competência para exercerem cargos de governação. Sócrates é apenas o menos mau porque tem algumas qualidades, apesar dos fortes defeitos que o tornam pouco fiável e até perigoso pela superficialidade com que analisa os problemas. Além disso, é “surdo” e, por consequência, sem capacidade de diálogo.

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