segunda-feira, 16 de março de 2009

Natália Correia...Foi Poetisa, Escritora e Activista Social...XVI aniversario da sua morte...

Natália de Oliveira Correia (Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923Lisboa, 16 de Março de 1993) foi uma intelectual, poeta e activista social de origem açoriana.
Personalidade intelectual versátil, dedicou-se a vários géneros, além de marcar a sua presença na política e na imprensa.
Sua produção abrange a poesia, o romance, o teatro, o ensaio, memórias, relatos de viagem, organização de antologias e colaboração em vários jornais e revistas.
Embora tenha começado pela literatura infantil (A Grande Aventura de um Pequeno Herói, 1945) e pelo romance (Anoiteceu no Bairro, 1946) foi na poesia que encontrou a expressão mais depurada de seu temperamento a um só tempo lírico e irónico, características acentuadas a partir de Dimensão Encontrada (1957) e em suas obras dramáticas.
Dentro dessa linha, que a tendência surrealista da poesia portuguesa pós-1950 vem sublinhar, compôs grande parte de sua obra poética, revelando um discurso lírico insólito e singular a oscilar entre a linguagem alegórica e a voz interventora.
Estão neste caso, por exemplo, Passaporte (1958), o longo poema Cântico do País Emerso (1961) e mais tarde Mátria e Maçãs de Orestes (1970). Em seu livro Poemas a Rebate, publicado em 1975, chama, na introdução, ao conjunto de seus “poemas indóceis” de “pentagrama de indignação”.
Indignação constante é o que não falta á obra de Natália Correia seja motivada pela censura que a amordaçou por longo tempo, seja por uma insurreição natural a todos os engodos ideológicos da organização social.
A capacidade de abranger, contudo, várias expressões líricas, bem como sentimentos e visões aparentemente opostos, entre a subjectividade romântica e a objectividade realista, levaram-na à composição, nos dois últimos anos, de Sonetos Românticos (1991, Grande prémio da Poesia APE/CTT), na poesia, e ao romance As Núpcias (1992).
No primeiro, parece voltar à primeira fase de sua expressão em virtude da abstraccão do objecto lírico, não obstante, agora, mais intelectualizada, beirando certo misticismo da criação poética, da escrita, da expressão verbal. Por isso, define o soneto como “misterioso nó que em sacra escrita / cimos e abismos une”.
Abismos, que enfim, de onde sempre procurou garimpar a sua “aurífera” poesia.
Foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita.
A sua obra está traduzida em várias línguas.
Índice
1 Biografia
2 Notas
3 Bibliografia activa
4 Ligações externas
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Um poema de Natália Correia a João Morgado (CDS)
«O acto sexual é para ter filhos» - disse, com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate sobre legalização do aborto. A resposta em poema, que fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia.
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Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão sexual
petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração!
- uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
.
III
E fez-se luz e a luz o touro fez:
Os cornos eram estrofes de soldados.
Foi no tempo do pólen foi no mês
Do sémen, dos sabor, dos deslumbrados.
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De salmo e de solário era a nudez
De amor, os animais demasiados.
Era a revolução. Era uma vez...
Eram na fábula os dias colocados.
.
Ó liberdade cruel como a beleza!
Fúria de trevos que só é acesa
Pelas áspides que no fundo se devoram!
.
És mais dócil ao fogo que a madeira
E só és mariposa verdadeira
Porque os ébrios de Abril te comemoram.
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'in Epistola aos Lamitas'

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