domingo, 22 de março de 2009

Guilherme Braga...Foi Poeta...Nasceu há 164 anos...

Guilherme da Silva Braga (Porto, 22 de Março de 1845 – Porto, 26 de Julho de 1874) foi um tribuno e poeta português.
Nascido na
Rua de Sant'Ana, no bairro da Sé do Porto, Guilherme Braga era irmão de Alexandre José da Silva Braga, tio de Alexandre Braga, filho e amigo de infância de Alberto Pimentel. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, Guilherme Braga foi redactor-chefe da Gazeta Democrática, tendo-se correspondido com Victor Hugo.
Traduziu o Atala de François-René de Chateaubriand, colaborou em diversas revistas e jornais, tais como Giralda, Diário da Tarde, Nacional e Luta.
A sua obra poética mostra constantemente o tema obsessivo da morte, pressentida dia-a-dia, expressa de forma tão coloquial que chega a lembrar
Cesário Verde. Cultivou, também, a temática social e humanitária, de inspiração victor-huguana, e o lirismo amoroso, de tonalidade parnasiana.
Nos seus versos, Guilherme Braga era violento contra os falsos ministros da religião, entusiasta apaixonado pela liberdade, de grande sensibilidade e ternura ao descrever as alegrias do lar.
Era casado com Maria Adelaide Braga, que sucumbiu dois meses depois do falecimento do marido.

Alberto Pimentel, no livro intitulado Homens e datas, consagra um saudoso artigo biográfico à memória do desditoso poeta portuense, que morreu contando apenas 29 anos de idade, vítima de tuberculose, já depois de ter sofrido a perda de quatro filhos

Obras
Ecos de Aljubarrota, 1868
Heras e Violetas, Porto, 1869
O mal da Delfina, 1869
Os Falsos Apóstolos, 1871
O Bispo, 1874
Poesias, postumamente, 1898
.
9 DE JULHO
.
Troa um férvido rebate
Como signal de combate
Dentro dos muros sagrados!
Sejamos dignos herdeiros
Dos indomáveis guerreiros
Dos nossos dias passados!
Rindo, affrontemos os crimes,
Como apóstolos, sublimes!
Valentes, como soldados!
Saudemos a ideia santa
Que aos pés dos livres supplanta,
Quebra, esmaga as gargalheiras!
A ideia que n’estes muros
Acossa os corvos escuros,
Ergue as sagradas bandeiras,
E, ante um deus mentido e falso,
Riu do algoz no cadafalso,
Riu das ballas nas trincheiras!
Sim! d’essa ideia aos impulsos
Que o Porto desprenda os pulsos
Dos ferros da iniquidade!
Entremos na lucta ardente,
Filhos da raça valente,
Filhos da heróica cidade!
Com phrenetico delírio
Entre a gloria, entre o martyrio,
Saudemos a liberdade!
A liberdade! a estrella redemptora,
Cheia de imensa luz,
Que fulgia, serena como a aurora,
Na fronte de Jesus!
A liberdade! a ideia tormentosa,
Mil vezes n’um só,
Que rugia, tremenda e clamorosa,
Na voz de Mirabeau!
Se, á luz de mil granadas coruscantes,
Lh’ergueram novo altar
Nossos pães, ao saudal-a agonisantes,
Na serra do Pilar,
Sem medo aos sabres nus entre as espadas
Que ferem nossa mãe
Sobre estas velhas aras derrubadas
Saudemol-a também!
Mas ah! Porque a seus pés a nova guarda assoma,
E altiva lhe consagra os hynnos do futuro,
Tem nas veias o arder o torvo filtro impuro,
Dos Borgias e veneno! O bálsamo de Roma!
O escuro umbra et nihil, que Roma tinha á porta,
Negreja agora aqui nas armas da cidade!
O altar é mausuléo ! Filhos da Liberdade,
Enramae de laureis a campa d’essa morta!
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In “Poesias” – Ed. R.V. – Barcelos – 1898

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