domingo, 1 de março de 2009

Grau zero...

As campanhas eleitorais que se aproximam começam a desnudar o que de pior, de mais perverso, de mais repugnante existe no debate político. Costa, o eterno delfim sem futuro, subiu ao púlpito do Congresso do seu partido para chamar ao Bloco de Esquerda, entre outros mimos, de ‘parasita’, ao que Louçã respondeu que o outro militava num partido de ‘ratices e ratazanas’. É apenas um exemplo.
Multiplicam-se os discursos deste teor, carregado de insultos, de intenções malévolas, denunciando a morte rápida daquilo que há muito estava doente: o debate ideológico foi pelo esgoto e o esgoto devolveu, agoniado, a enxúndia dos insultos.
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Não é por este caminho que sairemos deste lodo onde voluntariamente chafurdamos. A renovação política, de que tanto se fala, não é apenas de caras novas com práticas antigas. Tem de ser, forçosamente, de caras novas com prática novas. A continuarmos assim, este País não terá outra solução que não seja a de continuar a caminhar no lamaçal que causa repulsa e afasta as pessoas da fundamental participação cívica na vida pública.
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A política tem de ser um exercício vivo de cultura, de contraditório contínuo, de confronto de ideias, de programas, de projectos, de realização. Não pode perdurar no ataque pessoal, no clima de espectáculo degradante, que torna a decadência num prazer e os duelos pela honra na última linha de defesa. E, se a política precisa de rápida regeneração, o mesmo se passa com a Justiça.
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O caso Freeport tornou-se na casa orgiástica, onde não existe comentador, magistrado, advogado que não tenha a mais definitiva das verdades e a mais definitiva das razões para discutir o indiscutível. Apenas pelo prazer mórbido de insinuar, provocar, coscuvilhar sobre essa velha prostituta que é o segredo de justiça e, simultaneamente, escondendo outros segredos e outras intenções num debate aparentemente livre e de boa-fé.
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A crise que atravessamos, económica e financeira, é mais do que isso. É o fim de um ciclo maior que desnuda o vazio, a falta de ideias, a falta de imaginação e de coragem de quem nos governa e desgoverna. Chegámos à rua final das ideias feitas, dos insultos, da mesquinhez, de todas as coisas feias que a natureza humana produziu. Não admira o desinteresse dos mais jovens por esta política feita de lugares-comuns, de verborreia, sem um único conteúdo de esperança, sem a fome de utopia.
Serão seguramente os mais jovens a dar cabo disto. A terminar com esta turma medíocre que usufrui do poder como uma turma de cábulas mal comportada.
Francisco Moita Flores
in CM

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