segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Textos de filosofia política (20)



A TECNOCRACIA TEM ALGUMA COISA A VER COM A BUROCRACIA NA EX-UNIÃO SOVIÉTICA?

Os três patamares – Estado/Burocracia/Sociedade Civil – que constituíam o cenário global onde o funcionalismo público desempenhava o «simples» papel de intermediário e que Marx considerara definitivo, reduziram-se no curso da revolução e da implantação do sovietismo a dois patamares: Estado/Sociedade Civil. Nos dois patamares em que a revolução desaguou, o Estado e a burocracia confundem-se a ponto do binómio Estado/Sociedade Civil se tornar equivalente a: Burocracia/Sociedade Civil. A burocracia passa então a ser entrevista como o Estado ou Poder.
A imagem de «dois patamares» alterou os termos da dialéctica em que Hegel, Marx e todos os outros predecessores pesquisaram os fundamentos e as propriedades sociológicas da burocracia, bifurcou-se em duas direcções muito diversas:
1) Uma assume que a burocracia se tornou poder por usurpação e que não dispõe de alicerces sociais para o manter. É uma camada oportunista que aproveitou o atraso económico e cultural das massas da URSS para colocar a sociedade sob a sua férrea liderança sem que o seu domínio corresponda ao teor socialista das relações de produção. Nestas condições, a elevação da consciência política geral e da unidade entre proletários e camponeses basta para apear do poder os burocratas. Esta concepção mantém o essencial das teses de Marx sobre as origens do poder, sobre a falta de autonomia da burocracia e sobre a sua essência parasitária. Nesta tese alinharam os principais expoentes da governação e do pensamento do mundo soviético e dos seus seguidores, incluindo Lenine e Trostky.
2) A outra, que «junta» homens oriundos das mais diversas sensibilidades teóricas e extrações ideológicas, desde marxistas a maquiavélicos, acentua ora o carácter de classe ora de elite da nova burocracia, baseados principalmente no facto de que o controlo dos meios de produção é suficiente para formar uma nova classe e para conferir um poder tão natural e sólido a quem o detém como a titularidade de qualquer capacidade socialmente importante, incluindo a posse dos meios de produção. (CONTINUA).

Valter Guerreiro

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