domingo, 11 de maio de 2008

CULTURA GALAICO-PORTUGUESA E LUSOFONIA


MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO

Declaração de Princípios e Objectivos

O presente texto condensa e concretiza as propostas do Manifesto da Revista “Nova Águia” (novaaguia.blogspot.com) , órgão do M. I. L. Aqui se apresenta um ponto de partida, objecto de consenso entre os promotores do Movimento, destinado a ser aperfeiçoado mediante todas as críticas e sugestões, que solicitamos e agradecemos.

Ao apresentá-lo, fazemos nossas as palavras de Agostinho da Silva, cidadão luso-brasileiro cujo pensamento inspira o M. I. L., na proposta de reorganização de Portugal e do mundo lusófono que redigiu em 1974: “A comunidade a que o propomos é o Povo não realizado que actualmente habita Portugal, a Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, o Brasil, Angola, Moçambique,Macau, Timor, e vive, como emigrante ou exilado, da Rússia ao Chile, do Canadá à Austrália” –
Proposição”, in Dispersos, Lisboa, ICALP, 1989, p. 617.

1 – O Movimento Internacional Lusófono é um movimento cultural e cívico que visa mobilizar a sociedade civil para repensar e debater amplamente o sentido e o destino de Portugal e da Comunidade Lusófona.

2 - As nações e os 240 milhões de falantes da Língua Portuguesa em todo o mundo constituem uma comunidade histórico-cultural com uma identidade, vocação e potencialidade singular, a de estabelecer pontes, mediações e diálogos entre os diferentes povos, culturas, civilizações e religiões, promovendo uma cultura da paz, da compreensão, da fraternidade e do universalismo à escala planetária.

3 – Os valores essenciais da cultura lusófona constituem, junto com os valores essenciais de outras culturas, uma alternativa viável à crise do actual ciclo de civilização economicista e tecnocrático, contribuindo, com o seu humanismo universalista e sentido cósmico da vida, para uma urgente mutação da consciência e do comportamento, que torne possível uma outra globalização, a do desenvolvimento das superiores possibilidades humanas e da harmonia ecológica,possibilitando a utilização positiva dos actuais recursos materiais e científico-tecnológicos.

4 – As pátrias e os cidadãos lusófonos devem cultivar esta consciência da sua vocação, aproximar-se e assumir-se como uma comunidade fraterna, uma frátria, aberta a todo o mundo. A comunidade lusófona deve assumir-se como uma comunidade alternativa mundial – uma pátria-mátria-frátria do espírito, a “ideia a difundir pelo mundo” de que falou Agostinho da Silva – que veicule ideias, valores e práticas tão universais e benéficas que todos os cidadãos do mundo nelas se possam reconhecer, independentemente das suas nacionalidades, línguas, culturas,religiões e ideologias. A comunidade lusófona deve assumir-se sempre na primeira linha da expansão da consciência, da luta por uma sociedade mais justa, da defesa dos valores humanos fundamentais e das causas humanitárias, da sensibilização da comunidade internacional para todas as formas de violação dos direitos humanos e dos seres vivos e do apoio concreto a todas as populações em dificuldades. Para que isso seja possível, cada nação lusófona deve começar por ser exemplo desses valores.

5 – A identidade e vocação histórico-cultural da comunidade lusófona terá expressão natural na União Lusófona, a qual, pelo aprofundamento das potencialidades da actual Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, constituirá uma força alternativa mundial, a nível cultural, social, político e económico. Sem afectar a soberania dos estados e regiões nela incluídos, mas antes reforçando-a, a União Lusófona será um espaço privilegiado de interacção e solidariedade entre eles que potenciará também a afirmação de cada um nas respectivas áreas de influência e no mundo. Ou seja, no contexto da União Lusófona, a Galiza e Portugal aumentarão a sua influência ibérica e europeia, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné, Angola e Moçambique, a sua influência africana, o Brasil a sua influência no continente americano e Timor a sua influência asiática, sendo ao mesmo tempo acrescida a presença de cada um nas áreas de influência dos demais e no mundo. Sem esquecer Goa, Damão, Diu, Macau, todos os lugares onde se fale Português e onde a nossa diáspora esteja presente, os quais, embora integrados noutros estados, serão núcleos de irradiação cultural da União Lusófona.

6 - No que respeita a Portugal e à Galiza, este projecto será assumido em simultâneo com o estreitamento de relações culturais com as comunidades autónomas de Espanha, promovendo aí a cultura galaico-portuguesa e contrabalançar a influência espanhola em Portugal. O mesmo deve acontecer entre o Brasil e os países da América do Sul. Galiza, Portugal e Brasil, bem como as demais nações de língua portuguesa, devem afirmar sem complexos os valores lusófonos nas suas respectivas áreas de influência.

7 – A construção da União Lusófona, com os seus valores próprios, exige sociedades mais conscientes, livres e justas nos estados e regiões lusófonos. Em cada um desses estados e regiões, cabe às secções locais do Movimento Internacional Lusófono, dentro destes princípios essenciais e em coordenação com as dos restantes estados e regiões, apresentar e divulgar propostas concretas, adequadas a cada situação particular, pelos meios de intervenção cultural, social, cívica e política que forem mais oportunos.

***

No que respeita a Portugal, a secção portuguesa do Movimento Internacional

Lusófono considera fundamentais as seguintes medidas:

I – Promover uma maior participação dos cidadãos na vida pública e política,

nomeadamente em torno de um grande projecto para Portugal como o da União

Lusófona, que os convoque para uma causa que transcende o imediatismo, o

economicismo e os interesses dos partidos e dos grupos em luta pelo poder.

Mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme

percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a

responsabilidade de discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação.

II - Sensibilizar os cidadãos e as instituições públicas e privadas para a

importância e vantagens do projecto da União Lusófona, a nível cultural, social,

político e económico. Promover a discussão pública desta proposta e uma cultura

da consciência lusófona e universalista que enriqueça a nossa própria integração

na União Europeia, tornando-nos parceiros activos na abertura da consciência

europeia à cultura planetária.

III - Promover para esse fim formas alternativas de intervenção cultural, social e

cívica, que permitam antecipar quanto possível a realidade desejada, sem

depender dos poderes instituídos, dentro dos quadros democráticos e legais. Sem

rejeitar os habituais meios de intervenção política, o Movimento Internacional

Lusófono apela à e apoia a constituição de grupos cívicos ou confrarias laicas que

sejam núcleos de discussão, divulgação e realização deste projecto, em Portugal e

em todo o espaço lusófono, incluindo a emigração.

IV – Libertar a nossa vida mental, social e política da actual mediocridade,

estagnação e submissão a interesses particularistas, partidários e dos grupos

económicos, repondo-a ao serviço da cultura e de uma ética do bem comum.

V – Regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado segundo modelos

que fomentem a ampla participação política da sociedade civil. Recuperar a tradição municipalista portuguesa, promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos deprevenção e controlo dos caciquismos locais.

VI – Assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a

que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum e a satisfação das

necessidades básicas das populações. Explorar as potencialidades de formas de

organização económica cujo objectivo fundamental não seja o lucro financeiro.

Oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho não um

fim em si, mas um meio para a fruição do tempo livre de modo mais gratificante e

criativo.

VII – Promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias

locais e respeitando a harmonia ambiental.

VIII - Substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás

natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica,

hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma de uma economia baseada no

petróleo e nos hidro-carbonetos.

IX - Dar prioridade, em todos os domínios da economia, da política e da

investigação, às preocupações ambientais e ecológicas. Proteger os direitos dos

animais e promover o seu cumprimento.

X - Assegurar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua

a possibilidade de opção por medicinas alternativas.

XI – Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à

educação, tornando esta e a cultura – não só tecnológica, mas filosófica, literária,

artística e científica - o investimento estratégico do Orçamento de Estado e da

governação. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não

a sacrificando a uma mera especialização profissional. Neles haverá uma forte

presença da cultura portuguesa e lusófona, bem como das várias culturas

planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona

e universal, não apenas europeia-ocidental.

XII - Promover sem inibições a cultura portuguesa e lusófona no espaço

internacional. Assegurar a tradução para inglês de textos fundamentais da nossa

cultura e publicar, em conjunto com as nações lusófonas, uma revista bilingue,

português-inglês, destinada a divulgar em todo o mundo os seus aspectos mais

singulares e universais. Estreitar relações com os lusófilos estrangeiros e com todos

os povos, culturas e movimentos que tenham características e projectos

convergentes.

XIII - Implementar o Acordo Ortográfico, importante instrumento da consciência

lusófona e da sua afirmação internacional.

XIV – Celebrar acordos com as nações lusófonas que promovam estratégias

económicas conjuntas, sobretudo a nível comercial. Facilitar e proteger, mediante

o levantamento das barreiras alfandegárias e fiscais, o comércio e a circulação de

produtos em todo o mundo lusófono, com urgente destaque para os produtos

culturais.

XV – Chegar gradualmente a um acordo que permita a livre-circulação dos

cidadãos em todos os estados da comunidade lusófona.

XVI - Criar um Programa “Agostinho da Silva” que promova a circulação dos

estudantes das nações lusófonas, de licenciatura e pós-graduação, nas

universidades do espaço lusófono, começando por Portugal e Brasil.

Se quiser aderir a este Movimento ou formar um "Núcleo MIL", envie-nos um mail para

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1 comentário:

zigoto disse...

Como diria Fernando Pessoa:
"A minha Pátria é a minha Língua".
Se por mais não fosse, e há tanto mais em causa, vale a pena consultar e divulgar o MIL e a Nova Águia.