O Tribunal de Haia pediu ao Governo português informações sobre o ex- -vice-presidente da República Democrática do Congo (RDC), Jean-Pierre Bemba, que foi detido sábado em Bruxelas, soube o DN junto de fonte oficial do MNE. O Governo tinha aceitado em 2007 o pedido de Bemba para residir em Portugal, dado que tinha um visto Schengen, colocando como condição que não tivesse actividade política. Mas, oficialmente, o Estado português afirma que não prestava segurança pessoal a Bemba.
Calmo, discreto e muito reservado. Não fosse o aparato provocado pela segurança pessoal (à civil) a cargo de meia dúzia de elementos do Corpo de Intervenção da PSP, a que se juntavam, pelo menos três da sua própria segurança, na majestosa vivenda, com primeiro andar e rodeada por arvoredo, junto a um campo de golfe, onde se instalou, no dia 11 de Abril de 2007, no lote 13, na Avenida Ayrton de Senna, num ambiente de luxo e sossego, na zona da Quinta do Lago, perto de Almancil (Loulé), a presença do político da RDC, Jean-Pierre Bemba, teria passado despercebida por completo, nomeadamente entre residentes e frequentadores de restaurantes, contaram, ao DN, vários populares.
A poucos quilómetros, no aeroporto de Faro, o seu avião privado foi visto durante dois ou três meses num determinado local; mais tarde seria mudado para outro, desconhecendo-se qual o motivo da manobra. Bemba "saía e voltava, utilizando sempre a zona VIP do aeroporto" e da forma mais discreta possível, foi dito ao DN.
"Isto era um bom refúgio para ele, pois entre tanta gente com carros vistosos na Quinta do Lago não passava, à partida, de mais um residente ou turista endinheirado. Só mesmo os seguranças que lhe rodeavam a casa é que acabavam por transmitir a ideia de que estava ali alguém importante. Mas nem isso incomodava outros habitantes ou quem passava na zona", sublinharam.
Jean-Pierre Bemba deixou o refúgio da Quinta do Lago em direcção ao seu país onde, segundo o seu porta-voz, iria assumir a liderança da oposição. Uma viagem que terminou em Bruxelas. Um mandado de captura emitido, sexta-feira, pelo Tribunal Penal Internacional acabaria por levar à detenção de Bemba em Bruxelas, onde possui uma residência. Sobre o antigo dirigente da RDC recaem acusações de crimes contra a humanidade, praticados na República Centro- -Africana em 2002 e 2003.
Ontem à tarde, junto à referida vivenda, além de um ou outro carro que passava na zona, não se via vivalma, apesar de estar estacionado intramuros um jipe Nissan branco.
Alguém estava, porém, na casa, de onde Jean-Pierre Bemba saiu recentemente. É que pelo menos há cerca de um mês, a segurança pessoal (que acompanha normalmente ministros e o Presidente da República) deixou de ser vista por ali, tal como a viatura caracterizada que fazia a rendição do pessoal.
"Quando saia de casa, andava sempre acompanhado por dois ou três seguranças. Em alguns restaurantes que frequentava na Quinta do Lago e em Vale do Lobo, era normalmente acompanhado por uma senhora loura, e um desses elementos ficava perto da mesa dele, outro junto à entrada, o que dava logo nas vistas, enquanto o terceiro andava pelo exterior", lembrou quem o presenciou por diversas vezes nesses estabelecimentos.
Bemba, que tanto era visto de fato e gravata, como em T-shirt, deliciava--se sobretudo com peixe fino, marisco e bom vinho à mistura. Mudava de carro, como quem troca de camisa, ao ponto de ter conduzido, entre outras viaturas de topo de gama, pelo menos um jipe Nissan Pathifinder branco, de matrícula belga, um Mercedes preto e um Porsche da mesma cor.
"O carro da segurança pessoal, que seguia na traseira, circulava tão junto ao dele, que se Bemba tivesse de efectuar uma travagem brusca, colidiriam um com o outro. Uma vez viu-o parado num semáforo na zona de Vilamoura e quando acendeu o sinal verde, arrancaram de imediato a uma velocidade tal, que, caso tivesse surgido, entretanto, algum obstáculo, só por milagre não haveria acidente", lembrou um residente no Algarve, que ficou a conhecer o ex-vice-presidente do Congo pela comunicação social.
Já a mulher e os seus quatro filhos (dois rapazes, aparentando 12 a 14 anos e duas meninas na "casa" dos sete e oito anos) eram vistos a sair da moradia num monovolume para ir às compras ou, simplesmente, passear.
As crianças divertiam-se, por vezes, a andar de bicicleta. Na maior parte do tempo em que permaneceu no Algarve, Jean-Pierre Bemba preferia a privacidade da sua vivenda, onde normalmente nem aparecia à janela. Apesar de ter ali perto a praia do Ancão, ninguém se lembra de o ver a banhos de mar ou a apanhar sol.
In DN
Sem comentários:
Enviar um comentário