terça-feira, 27 de maio de 2008

FOI A 27 DE MAIO


A fracassada Intentona Golpista Ocorrida em Angola em 1977:
24 Anos de Omissão e de Duvidas.

O 27 de Maio de 1977 entrou para história de Angola, como um dos momentos de maior convulsão popular que o país já viveu, ultrapassando de longe os acontecimentos ocorridos no período pós eleições em 1992, neste dia um grupo de militantes do MPLA tentou sem sucesso aplicar um golpe de Estado e derrubar do poder , o regime do presidente Agostinho Neto.

Este foi liderado por Nito Alves, que lutara no MPLA desde 1961, após a primeira sublevação do movimento ter falhado. Quando se deu o golpe militar em Portugal, em 1974, ele era o líder militar e político do MPLA, na difícil e densamente arborizada região dos Dembos, a nordeste da capital - Luanda, isolada e, em conseqüência, consideravelmente independente de outros lideres, com as suas bases instaladas e refúgios fora do pais. Durante o período do governo de transição, transformou-se no líder dos militantes do MPLA nos muceques de Luanda, onde organizou os comités denominados <>, que lutaram primeiro contra os portugueses brancos, antes de se voltarem contra a FNLA e expulsá-la da cidade.

Angola conquistará a independência um ano e alguns meses antes e havia no seio do MPLA segundo os fraccionistas , uma desvirtuação dos ideais para os quais muitos militantes haviam lutado.

Houve uma grave cisão, no seio do MPLA, entre os chamados "moderados" empenhados num crescimento cuidadoso e gradual, congregados à volta de Agostinho Neto e Lopo do Nascimento, e uma fracção "radical", com Nito Alves a cabeça, que objetava à predominância de mestiços e brancos no governo.

Segundo os radicais "as pessoas brancas e de sangue misto desempenhavam um papel fortemente desproporcionado no funcionamento do governo de uma nação predominantemente negra". Porém , naquela época já existiam negros que faziam parte do poder, ate porque o presidente Neto insistia na tese de querer implantar em Angola um governo multirracial, mas alguns desses integrantes do governo viam a oportunidade de conquistar mais fatia do poder lançando abertamente um apelo racista às massas, como Nito Alves quando em um comício em dos bairros periféricos de Luanda, afirmou que " Angola, só seria verdadeiramente independente quando brancos, mestiços e negros passassem a varrer as ruas juntos".

Nito Alves era considerado por alguns como o segundo homem do poder, a seguir a Agostinho Neto, e fora nomeado ministro do Interior, quando o MPLA formou o primeiro Governo de Angola. Porém, o descontentamento de Nito Alves com a alegada orientação de Agostinho Neto a favor dos intelectuais urbanos mestiços, tais como Lúcio Lara, influente histórico e um dos principais ideólogos do partido, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Jorge, e o ministro da Defesa, <> Carreira ( morto recentemente), constituiu foco de visão no seio do Governo e, em Outubro de 1976, Nito Alves foi condenado por fraccionismo e expulso do seu ministério.

Nito Alves conservou o seu lugar no Comité Político Central do partido dos camaradas, mas espalharam-se rumores de que, juntamente com outros <>, como chamavam os seus adeptos, conspirava contra o Governo. Apareceram panfletos clandestinos em que atacavam, em termos racistas, os portugueses brancos que trabalhavam como cooperantes para o Governo Angolano.

Neto mandou então que fosse criada uma comissão de inquérito para investigar as alegações segundo as quais Nito Alves e um outro membro do comité central, José Van Dunem, comissário político das Forças Armadas Angolanas, no Sul de Angola, e outros nitistas no seio do MPLA teriam, deliberadamente, engendrado carências alimentares, de forma a gerar o descontentamento das massas. O Comité Central reuniu-se a 20 e 21 d Maio de 1977 e expulsou Nito Alves e José Van Dunem.

Seis dias mais tarde, tiveram inicio as tentativas de golpe de Estado, quando as tropas nitistas atacaram a prisão de São Paulo, em Luanda, e outros pontos chave com morteiros e espingardas automáticas. Foram mortos dez líderes superiores do Governo e militares, incluindo três membros do Comité Central, e o ministro das Finanças, Saydi Mingas. Os cubanos não se mantiveram neutros. Aliaram-se ao Presidente Agostinho Neto e, os fraccionistas tomaram ainda vários pontos estratégico de Luanda sendo o mais importante a Rádio Nacional que serviu por algumas horas como o principal meio propagandistico dos nitistas na qual era efusivamente pedido que o povo saísse as ruas em apoio aos camaradas Nito Alves e Zé Van Dunem que teriam sido expulsos " injustamente " do comité central dos camaradas, a Rádio Nacional de Angola foi retomada, por volta do meio-dia com ajuda das tropas cubanas que usaram entre outros equipamentos militares tanques de guerra, os nitistas fugiram para os muceques, com alguns reféns.

Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto um recolher obrigatório desde o nascer ao pôr do Sol, com barreiras de rua por toda a cidade. Cubanos, em tanques e carros blindados, guardavam os edifícios públicos. A 31 de Maio, Agostinho Neto proferiu um emotivo discurso, durante o qual afirmou que os resistentes tinham adeptos em algumas províncias e em organizações de massas, tais como a Juventude do MPLA, a Organização da Mulher Angolana, (OMA), a Divisão Militar das Mulheres e a Polícia Militar.

Embora Agostinho Neto Inicialmente mostrasse que alguma clemência seria adaptada em relação aos golpistas, preparava-se para breve uma repressão em massa. Os comissários do MPLA e comités directivos em oito províncias, que tinham sido nomeados por Nito Alves, foram afastados. Foram presas milhares de pessoas ( algumas, anos mais tarde viriam a integrar importantes cargos dentro do governo angolano) e milhares de nitistas foram demitidos dos seus empregos.

Inicialmente os líderes do golpe escaparam; contudo, José Van Dunem foi capturado em Junho. Nito Alves foi capturado em Julho, quando Agostinho Neto anunciou, em público, a formação de um tribunal militar especial para julgar os que fossem presos por cumplicidade na tentativa do golpe. A investigação oficial sobre o golpe referia-se ao sucesso de Nito Alves, um campeão na defesa de laços mais estreitos com Moscovo e visitante assíduo da Embaixada Soviética, na forma de iludir Estados <>.

Os Soviéticos falharam por não terem avisado com antecedência Agostinho Neto das intenções de Nito Alves e o embaixador soviético foi, em consequência, obrigado a partir discretamente, os soviéticos tinham grande interesse em dividir o MPLA com a finalidade de tirar dividendos para aumentar o seu poder em Angola e por consequência na região Austral de África.

Os trabalhos do Tribunal Militar Especial (criado pela pressão de varias famílias que escreviam para o presidente Neto, em busca de dados dos seus familiares), foram levados a efeito em segredo e os veredictos e sentenças nunca foram anunciados oficialmente. Não se sabe quantos mais casos foram apresentados ao Tribunal e quantos sumariamente foram tratados pela polícia de segurança.

A 1 de Agosto de 1977, Agostinho Neto revelou que alguns líderes do golpe haviam sido fuzilados, quando afirmou, com veemência, durante uma cerimónia pública <> Em 1978, o escritor australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, incluíam José Van Dunem, o ministro do Comércio Interno, David Aires Machado, Sitta Valles (a mulher de José Van Dunem), dois comandantes superiores de exército do MPLA, Jacob João Caetano (popularmente conhecido como <> e Ernesto Eduardo Gomes da Silva <> (um dos juízes no julgamento dos mercenários britânicos), assim como outros líderes importantes do MPLA.

A revolta nitistas reduzira o Comité Central do MPLA a um terço - três assassinados na tentativa de golpe, cinco conspiradores executados posteriormente, e dois suspensos por não terem revelado o seu conhecimento prévio das intenções dos golpistas. Este fato levou a que Agostinho Neto passasse a exercer um controle mais severo no seio do partido. Quando o MPLA levou a efeito o seu congresso, de 4 a 11 de Dezembro de 1977, Lúcio Lara anunciou planos para o substituir por um novo partido de vanguarda das classes trabalhadoras, o MPLA – Partido dos Trabalhadores. Isso, afirmou Neto, faria com que Angola se aproximasse cada vez mais de um governo marxista. O partido devia fortalecer a participação dos trabalhadores e exercer o controle absoluto sobre todas as instituições estatais, segundo a doutrina clássica leninista.

Caetano Pinto Falcão
Editor Executivo da Muangolê Notícias


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