terça-feira, 27 de maio de 2008

DE MAL A PIOR


Presidente Mbeki receia um regresso aos tempos do regime do 'apartheid'

"Os actos vergonhosos de alguns mancharam o nome da África do Sul", disse ontem o Presidente Thabo Mbeki na sua primeira mensagem à nação desde o início da violência xenófoba que fez mais de 50 mortos nas últimas duas semanas. O chefe do Estado afirmou ainda recear que o comportamento "desumano" das pessoas que atacaram imigrantes um pouco por todo o país possa fazer o após regressar ao tempo do apartheid, o regime segregacionista que foi abolido em 1994. Para os media sul-africanos, a culpa do que definem como "limpeza étnica" é precisamente de Mbeki e da sua política externa e de imigração.

"Nunca desde o nascimento da nossa democracia vimos actos tão desumanos", declarou Mbeki à rádio e televisão públicas SABC. O Presidente garantiu que estes actos xenófobos "contradizem tudo o que a nossa libertação do apartheid representa". Mbeki prometeu também só descansar quando os responsáveis por esta violência xenófoba estiverem atrás das grades.

Os ataques contra imigrantes, que muitos sul-africanos acusam de lhes roubarem os empregos, já fizeram mais de 35 mil deslocados. A maioria deixou a sua casa nos subúrbios pobres de Joanesburgo e encontrou refúgio em esquadras ou igrejas. Os ataques começaram nos bairros de lata da capital económica da África do Sul, mas já alastraram a sete das nove províncias do país.

O líder do Congresso Nacional Africano (ANC, no poder), Jacob Zuma, esteve ontem nos bairros de lata em torno de Joanesburgo. O favorito às presidenciais do próximo ano apelou à paz e ao diálogo para "resolver os nossos problemas".

Um dos mais ferozes críticos do Governo, Moeletsi Mbeki (o próprio irmão do Presidente), acusou ontem os responsáveis da África do Sul de não quererem admitir que a violência é resultado do fracasso das suas políticas externa e de imigração.

A imprensa de domingo também não se coibiu de apelar à demissão de Mbeki. "Limpeza étnica à sul-africana" era a manchete do Sunday Independent, ilustrada por uma fotografia de uma jovem moçambicana embrulhada num cobertor e sentada num colchão no meio de um terreno baldio, com o olhar perdido no vazio.

O Sunday Times comparava os assassínios, incêndios e pilhagens ao "estado de emergência".

In Dn

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