Neste 25 de Maio, Dia de África, que celebra o nascimento, em 1963, em Adis Abeba, na Etiópia, da Organização de Unidade Africana (entretanto transformada em União Africana), três factos da semana documentam os extremos da situação continental: a procura pela Europa de uma posição num continente que desperta cobiça, os choques xenófobos que ainda ilustram a imagem africana de "pobres lutando com pobres", e a fantástica aventura chinesa que coloca crianças de África a gritarem "Ni hão! Ni hão!" ao estrangeiro branco.
A visita é a de Nicolas Sarkozy a Angola, com a França a virar uma página de 15 anos de relações turbulentas com Luanda.
A crise é a da xenofobia sul-africana contra imigrantes de países vizinhos, Zimbabwe, Moçambique, Malawi.
O livro é "Chinafrica - Pequim à Conquista do Continente Negro", um mergulho no fenómeno, que já alcança "outra escala", da presença chinesa em África.
E não deixa de ser curioso, ou trágico, que este quadro de acontecimentos projecte situações contraditórias.
Troca amável de palavras
Nicolas Sarkozy foi a Luanda para virar uma página, depois de anunciar, ao longo de um ano de presidência, uma nova visão para a política externa francesa, corajosa, descomprometida e moderna.
Em Angola trocou palavras amáveis com o Presidente José Eduardo dos Santos e anunciou uma enorme lista de projectos e intenções, incluindo uma Fundação França-Angola para suportar projectos de de-senvolvimento económico e humano. Um regresso em força da França a um dos mais sedutores espaços de negócios do mundo.
Os sul-africanos pobres perseguem, aterrorizam e matam, sobretudo na província de Gauteng, que abarca Joanesburgo, cidadãos de países que firme e amigavelmente receberam fugitivos e combatentes do apartheid, países dos homens que se enterraram profundamente nas minas da África do Sul para extrair ouro, os famosos ocupantes do "The Coal Train", cantado, em "Stimela", pelo sul-africano Hugh Masekela, os imigrantes embarcados em todas as raias a caminho das minas.
E o livro francês trás para a Europa o novo olhar africano sobre os chineses, dando-nos uma visão larga da aventura chinesa.
Fernando Jorge Cardoso, do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, discorda das teses contidas no livro dos jornalistas franceses.
Apenas um milhão de chineses
"Está completamente sobrevalorizada a ameaça chinesa em África", garante Fernando Jorge Cardoso, adiantando que a China é competidora (e tem vantagem) na área da construção, mas não nos outros campos, podendo, no entanto, ser uma ameaça para a própria África, condicionando o desenvolvimento industrial africano.
Fernando Jorge calcula que estarão em África de 800 a mil empresas e não mais de um milhão de chineses, números que não reflectem nem uma maciça invasão empresarial nem alguma estratégia de alívio da pressão demográfica na China, que, em sua opinião, "não desenvolve uma política externa para África", limitando-se o país a entrar onde existe a possibilidade de fazer negócio e os seus cidadãos a seguir os caminhos que os têm levado a todo o mundo.
A Europa continua a ter vantagem, porque é uma zona de grande desenvolvimento tecnológico e que transfere tecnologia, ao contrário do que acontece com os chineses que não o fazem.
Mas é verdade que África tem, agora, um cenário de larga diversificação das suas relações, com "a presença dos Estados Unidos e da China e com a possibilidade de se apresentarem, também, outros países, como a Índia e, sem dúvida, um dia, a Coreia do Sul". O que não deve levar o continente a recusar acordos de parceria com a Europa.
"África deve - acrescenta Fernando Jorge Cardoso - aproveitar todas as parcerias com a Europa. Seria um erro não o fazer!"
David Borges in DN
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