Mostra foi ontem inaugurada e está patente até dia 19 de Outubro.
Baptista-Bastos estreou-se na escrita com 14 anos. As palavras liam-se a página infantil do Diário Popular, jornal onde permaneceria durante mais de duas décadas, e completam este ano o seu 60.º aniversário. O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, recorda o percurso daquele que apelida de "Prosador do Mundo". Nas palavras de Baptista-Bastos, "não é nada mais que uma homenagem às palavras".
Fotografias que o próprio desconhecia, a carteira profissional de jornalista correspondente a 1956/57 ou um exemplar da tradução búlgara de Um Homem Parado no Inverno. "Esta é uma viagem ao passado, que explica quem sou e de onde venho." Baptista-Bastos apresenta assim uma exposição que não recorda o percurso de um neo-realista - "essa não é a minha identidade", assegura - mas reconhecendo que, nesse universo letrado, encontrou primeiras e fundamentais referências: "Carlos de Oliveira, Alves Redol, Fernando Namora ou Aquilino Ribeiro. Foi com eles que me formei. Como diria a Maria Velho da Costa, todos devemos algo aos neo-realistas."
O título de "Prosador do Mundo" justifica-o pelas viagens que realizou para conhecer nomes distintos, de Orson Welles a Luchino Visconti. Mas a iconografia e as memórias que são expostas contam pormenores de um Baptista-Bastos com Portugal como objecto central do seu pensamento. De tal forma que reconhece: "Este país deu-me muito mais do que eu alguma vez lhe ofereci."
Os livros e as traduções, a primeira crítica de cinema ("sobre A Leste do Paraíso, no Século Ilustrado", lembra), as reportagens ("com guerras e outras tragédias pelo meio"), a sua passagem pelo Almanaque (com José Cardoso Pires, Vasco Pulido Valente, Luís de Sttau Monteiro ou Alexandre O'Neill) e mesmo a relação com personalidades políticas - Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro entre os mais relevantes. Em resumo, "gente que marcou em definitivo a fisionomia da pátria". E uma mostra que apresenta os resultados "perigosos e fascinantes dos investigadores", incluindo o disco Sinal do Tempo, de 1973 (com a gravação de crónicas) e um livro de poesia, "provavelmente o pior de sempre", admite o seu autor. A exposição estará patente até 19 de Outubro.
In DN de 11 Maio 2008
Criado em 1990, a partir da actividade de um Centro de Documentação sobre o movimento neo-realista português, o projecto do Museu do Neo-Realismo evoluiu inicialmente em torno da área arquivística e bibliográfica. Porém, cedo enriqueceu e diversificou o seu património, desenvolvendo um vasto conjunto de colecções museológicas, com destaque para espólios literários e editoriais, arquivos documentais (impressos e audiovisuais), acervos iconográficos, obras de arte, bibliotecas particulares e uma biblioteca especializada na temática neo-realista.
Vocacionado para o estudo e disponibilização de fontes documentais sobre o Neo-Realismo, o Museu tem vindo a promover uma prática continuada de investigação e divulgação dos seus conteúdos, correspondendo, através de uma acção pedagógica e didáctica adequada, ao público heterogéneo que o visita.
O Museu do Neo-Realismo tende hoje a ultrapassar as fronteiras da sua vocação temática original para se situar, cada vez mais, no território das ideias e da cultura do século XX, relacionando assim outras correntes literárias, artísticas e de pensamento. Esta nova amplitude temática tem ajudado a clarificar de modo crítico o eco produzido pelo Neo-Realismo junto de várias gerações de escritores, artistas e intelectuais portugueses.
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