Milhares nas ruas de Compostela contra ofensiva do castelhano
Vinte e cinco mil pessoas manifestaram-se ontem em Santiago de Compostela, na Galiza, em defesa da língua galega, criticando a alegada tentativa estatal de impor o uso do castelhano naquela região autónoma espanhola.
"O que nós exigimos, acima de tudo, é o reconhecimento da condição internacional da nossa língua, que é falada por centenas de milhões de pessoas no mundo, quer como língua nativa, como é o caso dos galegos, quer como língua oficial de oito Estados", disse, à Lusa, Alexandre Banhos Campo, um dos principais mentores desta manifestação.
"A nossa língua não é regional nem dialectal, mas sim internacional. O galego é o português da Galiza, e o que nós queremos é que o galego se confunda com o português, mantendo, obviamente, as suas especificidades próprias", acrescentou.
Alexandre Campo, responsável da Associação Galega da Língua, recordou que o Norte de Portugal e a Galiza foram "o berço da lusofonia", frisando que "o português original era a língua que se falava no século IX entre as cidades do Porto e Santiago de Compostela". Por isso mesmo, reiterou a necessidade de "o galego se confundir com o português", mantendo, no entanto, as suas especificidades próprias.
"No Rio de Janeiro fala-se de uma forma diferente da que se fala em Lisboa, mas ninguém duvida que são as duas português", frisou o activista galego.
A manifestação de ontem, que decorreu sob o lema "Pelo direito de vivermos em galego", juntou cerca de 500 associações, sindicatos e movimentos, tendo bloqueado por completo, durante quase duas horas, o trânsito no casco velho de Santiago de Compostela.
"A situação do galego é muito difícil, muito crítica, mas nós não vamos desistir da luta", garantiu Carlos Callón, da Mesa pela Normalização Linguística, outro dos organismos que liderou esta manifestação.
" Lusa, Callón disse que a Galiza "discrimina e persegue" quem opta por falar galego, referindo como exemplo o caso de uma juíza "que foi denunciada" porque escreveu uma sentença na língua daquela região autónoma. Garantiu que há quem seja despedido ou não consiga um emprego porque fala galego, que há crianças a não serem atendidas pelos pediatras pela mesma razão e que pessoas são "gozadas" no banco por não se expressarem em castelhano.
"O mais grave, e o mais preocupante, é o que acontece nas escolas, com as crianças com menos de seis anos, que pura e simplesmente não ouvem uma palavra de galego", acrescentou.
O castelhano e o galego são línguas oficiais de Espanha, mas em 2004 foi aprovado o chamado Plano de Normalização Linguística, a que Alexandre Campo prefere chamar "plano de substituição linguística".
"O que nós assistimos é a uma deriva de substituição linguística, uma brutal imposição do castelhano em tudo quanto é serviço público, para tornar o galego desnecessário e o reduzir a uma língua falada apenas em casa, em família. As autoridades e administrações públicas discriminam e perseguem aqueles ou não aceitam esta deriva. E isto nós não podemos tolerar", afirmou.
Os dados estatísticos mais recentes indicam que 90% dos galegos com mais de 65 anos falam português da Galiza, mas essa percentagem é muito reduzida entre os que têm menos de 20 anos.
Vítor Pereira, Jornalista da Lusa in DN
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