sábado, 17 de maio de 2008

D. BEATRIZ E A CRISE DE 1383 - 85

A rainha D. Beatriz de Portugal (ou D. Brites de Portugal, Coimbra, 1372 - Madrigal, 1410) foi filha do Rei D. Fernando I de Portugal e de sua mulher, a rainha D. Leonor Teles. Foi a última soberana da Casa de Borgonha, reinando através de regência interposta, tal como sucedeu mais tarde a D. Pedro IV, sendo brevemente destronada pela Revolução de 1383-85 tal como este o foi por seu irmão D. Miguel.

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A herdeira legítima

No início de 1383, a infanta D. Beatriz era a única descendente do rei moribundo, depois da morte prematura dos seus irmãos mais novos D. Pedro em 1380 e D. Afonso em 1382. Como herdeira do trono, o seu casamento dominava a agenda política em Portugal e era objecto de intriga e manipulação das várias facções.

D. Fernando arranjou e cancelou o casamento de Beatriz por diversas vezes, até finalmente, por motivos militares, optar pela primeira escolha da sua mulher, o rei João I de Castela. Viúvo desde o ano anterior de uma princesa aragonesa, João de Castela encontrou vantagens políticas na união e exigiu o casamento no quadro da assinatura da paz. A cerimónia teve lugar a 17 de Maio de 1383, na cidade fronteiriça de Elvas. D. Beatriz tinha apenas 11 anos.

Crise de 1383-85

Batalha de Aljubarrota

O rei D. Fernando morre pouco depois, tuberculoso, a 22 de Outubro. De acordo com o tratado de casamento assinado por Portugal e Castela, a Rainha Mãe, D. Leonor Teles de Menezes, mandou aclamar sua filha como Rainha e assumiu a regência do reino, em nome dela. Este facto não era, no entanto, do agrado dos portugueses em geral, uma vez que implicava uma união pessoal com o reino de Castela.

Apoiado na burguesia lisboeta e em sectores da aristocracia tradicional, João, o Grão-Mestre de Aviz iniciou uma revolta nesse mesmo ano, iniciando-se a chamada crise de 1383-1385, ou Interregno. No ano seguinte D. Beatriz I dá à luz um bébé, Miguel, que ao contrário do que costuma ser afirmado, era apenas herdeiro da Coroa portuguesa. D. João de Castela tinha outros dois filhos varões mais velhos, nascidos de anterior casamento, que aliás viriam a dividir entre si as coroas de Aragão, para o secundogénito, e de Leão e Castela, para o primogénito.

D. João I de Castela invade Portugal para defender os direitos de D. Beatriz e D. Miguel, mas é derrotado na batalha de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385.

Fim da pretensão à coroa portuguesa

D. João I, Mestre de Avis, é universalmente reconhecido como rei de Portugal depois de aclamado nas Cortes de Coimbra. Aqui se evidenciou o Doutor João das Regras, que elaborou textos que procuraram retirar a legitimidade não só a D. Beatriz, como aos infantes D. João e D. Diniz. A partir de então, D. Beatriz I deixa de ser rainha de Portugal e torna-se apenas rainha consorte de Castela.

Quando D. Beatriz enviuvou, foi-lhe concedido um convento, junto a Toro, aonde residiu e aonde está sepultada em magnífico mausoléu. Faleceu em 1410, em Madrigal (Castela).

Rainha de facto, depois de jure, depois riscada da lista

Por razões de conveniência política do regime saído da Revolução de 1383, não é tradicionalmente ensinada como rainha reinante de Portugal, pois o mesmo teria sido reconhecer o seu melhor direito à Coroa, sobre D. João I e seus sucessores. É um caso análogo ao de D. António I, prior do Crato, e mesmo ao de D. Miguel I, que só muito recentemente começou a ser ensinado como rei de Portugal. É também muito paralela a sua história à de D. Joana, rainha legitima de Castela destronada militarmente no século seguinte, rainha consorte de Portugal, a Excelente Senhora ou Beltraneja, tal como tratada na historiografia do país vizinho.


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