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O relatório em causa teve como principal autora Susan Solomon, que foi também a coordenadora geral do estudo. Susan Solomon é investigadora da National Oceanic and Atmospheric Administration, dos EUA, e chefe do Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima das Nações Unidas.
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Este relatório acentua alguns pontos já conhecidos sobre a evolução futura do clima, mas tem o mérito de deitar para “o lixo” as objecções dos cépticos que negam que o aquecimento global, de que já estamos a sentir as primeiras manifestações, seja consequência da acção humana. Os cépticos preferem minimizar os aspectos mais assustadores da alteração do clima com as afirmações de que estas sempre existiram, que sempre se manifestaram na evolução da Terra e que acabaram sempre por serem compensadas e recuperadas. Porém, nessa altura não havia habitantes humanos. O factor humano é que faz a diferença.
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O relatório não cria factos novos do ponto de vista científico, na medida em que pouco contém de novo, mas tem o mérito de expor de maneira mais incisiva e mais clara as causas e os efeitos do aquecimento global. Eis um breve resumo dos aspectos que me pareceram mais relevantes:
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1 – O aquecimento global implicará o aumento de largura das cinturas de desertos dos hemisférios norte e sul. No que diz respeito ao hemisfério norte, o deserto do Saara prolongar-se-à sobre o sul da Europa transformando a maior parte da Península Ibérica, da Península Itálica, da Grécia e da Turquia em desertos. No hemisfério sul, o deserto australiano prolongar-se-à para leste invadindo grande parte da região hoje fértil de clima mediterrânico. Na América do Sul, o deserto do Chile estender-se-à para sul e para leste invadindo parte da Argentina.
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2 – As latitudes médias dos dois hemisférios, hoje com clima temperado, serão áreas de clima mais quente, mais húmido e com estações intermédias (Primavera e Outono) com grande instabilidade atmosférica. Haverá uma acentuação dos extremos: o Verão será muito quente e seco e no Inverno poderá haver intermitências de baixas temperaturas com queda de neve e chuvas catastróficas (sintomas que começámos a sentir, porém serão mais acentuados).
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3 – O gelo das calotes polares fundirá provocando a subida generalizada do nível do mar. Os glaciares de montanha deixarão de existir devido ao aumento da temperatura média. A cobertura de neve persistente nos picos das montanhas mais altas desaparecerá, tornando-se uma ocorrência sazonal de pequena duração de acordo com os picos de baixas temperaturas.
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Nota: A fusão do gelo das calotes polares significará a destruição dos habitats das espécies próprias, que são, respectivamente, o urso branco do Árctico e o pinguim Imperador do Antárctico, o maior pinguim do mundo. Enquanto o primeiro tem algumas possibilidades de se salvar enquanto espécie, o segundo terá poucas possibilidades de sobrevivência por pouca adaptabilidade de hábitos de vida, principalmente do ciclo reprodutivo. É previsível que no fim deste século o pinguim Imperador esteja à beira da extinção.
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4 – O aumento de CO2 (anidrido carbónico, ou dióxido de carbono [DC] como preferem chamar-lhe os anglo-saxões) na atmosfera será assimilado pelo mar, tornando-o mais ácido e aparentemente menos salgado. O aumento de acidez da água do mar implicará a morte e destruição dos corais e da maior parte do plâncton que está na base da cadeia alimentar. A escassez de pescado agravará os défices alimentares dos países pobres porque serão os menos preparados para compensar a dificuldade de capturas.
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5 – O aumento de DC na atmosfera facilitará o crescimento das árvores nas regiões em que haja regularidade de pluviosidade. Isto acontecerá nas latitudes mais altas, visto que, nas latitudes médias e baixas, os incêndios florestais e a desertificação implicarão a diminuição da cobertura arbórea e a impossibilidade de actividades agrícolas.
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6 – O aquecimento da superfície dos oceanos poderá alterar as correntes marítimas existentes criando condições novas para muitas espécies e alterando as condições de pluviosidade nos continentes. Algumas espécies, quer no mar quer nos continentes, serão extintas por incapacidade de adaptação.
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Nota: A influência deste factor (temperatura do mar) tem implicações profundas que foram demonstradas quando se estudou a corrente quente El Niño no hemisfério sul. A inversão das correntes marítimas actuais produzida por aquecimento anormal da água superficial do mar teve impacto forte na fauna e flora da Ilha de Páscoa onde algumas espécies, quer marítimas quer terrestres, algumas endémicas, quase se extinguiram por ruptura da cadeia alimentar ou por impossibilidade de alteração de hábitos (alimentares, reprodutivos) de cada espécie.
7 – As alterações de temperatura da atmosfera e dos oceanos serão “em grande parte irreversíveis por mais de mil anos depois de as emissões de CO2 terem cessado completamente”, se as emissões poluidoras fossem anuladas já. Como as emissões continuarão por mais anos serão necessários mais milénios para regressar às condições de clima antes da revolução industrial.
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Nota: A originalidade do relatório reside neste ponto, porquanto todos os outros pontos eram conhecidos dos meios científicos e académicos e já não despertavam discordância. Todos os estudiosos da matéria afirmaram sempre que as alterações climáticas serão irreversíveis. Mas nunca tinha havido a coragem de arriscar um período provável de recuperação, se ela fosse exequível. Susan Solomon é a primeira, que eu tenha conhecimento, que arrisca uma estimativa temporal baseada nos seguintes patamares:
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8 – Antes da revolução industrial, o nível de DC presente na atmosfera era de 280 partes por milhão [ppm]. Hoje, é de 385 ppm, ou seja, em cerca de 200 anos aumentámos a concentração de DC em cerca de 100 ppm com aceleração acentuada nos últimos 80 anos. Segundo Solomon, se a concentração de DC atingir 500 ppm as consequências serão catastróficas com diminuição de chuvas regulares mas ocorrência de chuvadas intensas concentradas no tempo e consequentes inundações destruidoras, sintomas que começámos a sentir.
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Nota: Os exemplos vividos até agora bastam para perceber o que nos espera no futuro. Os especialistas sempre afirmaram que acima de 500 ppm a instabilidade meteorológica será tão acentuada que a actividade económica será difícil, mas a agricultura será impossível. Isto porque a actividade económica exige estabilidade e previsibilidade, sem as quais não haverá economia possível. Solomon faz a seguinte previsão: dada a aceleração de emissões de DC verificada na segunda metade do Século XX, se o ritmo de poluição se mantiver em aceleração, em 2055 atingiremos o nível de 500 ppm e em 3000 teremos atingido cerca de 600 ppm, quando os recursos alimentares serão insuficientes e os conflitos serão generalizados por falta de governabilidade. Para repor as condições iniciais de clima a partir deste nível tão elevado de DC nem três mil anos serão suficientes, porque os meios naturais de fixação de carbono (florestas e plâncton dos oceanos) estarão destruídos pelos incêndios catastróficos, pela poluição, pelo aquecimento global e pela acção destrutiva humana. Por isso é urgente começar já a inflectir a tendência e tentar estabilizar as emissões poluidoras.
Este quadro evolutivo é devido a termos criado a civilização do petróleo em que a necessidade de energia é satisfeita pela queima de combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis representam um património de carbono de que a natureza se libertou ao conseguir depositá-lo no subsolo. Durante milhões de anos esse carbono permaneceu fora da natureza para grande benefício das condições de vida na Terra, cujo clima suavizado favoreceu a evolução das espécies e criou a riqueza biológica que deu origem à nossa espécie.
Na nossa busca incessante de energia abundante e barata, nós desenterrámos esses combustíveis fósseis, queimámo-los para produzir energia e, por consequência, libertámos o carbono de novo na atmosfera. Mas esse carbono, que estava excluído do ciclo do carbono, tem agora menos possibilidade de ser reciclado pela natureza porque os agentes recicladores são agora menos abundantes: as florestas foram saqueadas pelo homem e as poucas que restam serão destruídas pelos incêndios catastróficos provocados pelo aquecimento global, e o plâncton dos oceanos é agora muito menos abundante e está em regressão devido ao aquecimento do mar e à poluição dos oceanos. A irreversibilidade do aquecimento é a hipótese mais provável. A natureza necessitará de muitos milénios para recuperar as condições climáticas iniciais, se alguma possibilidade houver de recuperação. Entretanto, provavelmente, a espécie humana será também aniquilada.
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Nota: A originalidade do relatório reside neste ponto, porquanto todos os outros pontos eram conhecidos dos meios científicos e académicos e já não despertavam discordância. Todos os estudiosos da matéria afirmaram sempre que as alterações climáticas serão irreversíveis. Mas nunca tinha havido a coragem de arriscar um período provável de recuperação, se ela fosse exequível. Susan Solomon é a primeira, que eu tenha conhecimento, que arrisca uma estimativa temporal baseada nos seguintes patamares:
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8 – Antes da revolução industrial, o nível de DC presente na atmosfera era de 280 partes por milhão [ppm]. Hoje, é de 385 ppm, ou seja, em cerca de 200 anos aumentámos a concentração de DC em cerca de 100 ppm com aceleração acentuada nos últimos 80 anos. Segundo Solomon, se a concentração de DC atingir 500 ppm as consequências serão catastróficas com diminuição de chuvas regulares mas ocorrência de chuvadas intensas concentradas no tempo e consequentes inundações destruidoras, sintomas que começámos a sentir.
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Nota: Os exemplos vividos até agora bastam para perceber o que nos espera no futuro. Os especialistas sempre afirmaram que acima de 500 ppm a instabilidade meteorológica será tão acentuada que a actividade económica será difícil, mas a agricultura será impossível. Isto porque a actividade económica exige estabilidade e previsibilidade, sem as quais não haverá economia possível. Solomon faz a seguinte previsão: dada a aceleração de emissões de DC verificada na segunda metade do Século XX, se o ritmo de poluição se mantiver em aceleração, em 2055 atingiremos o nível de 500 ppm e em 3000 teremos atingido cerca de 600 ppm, quando os recursos alimentares serão insuficientes e os conflitos serão generalizados por falta de governabilidade. Para repor as condições iniciais de clima a partir deste nível tão elevado de DC nem três mil anos serão suficientes, porque os meios naturais de fixação de carbono (florestas e plâncton dos oceanos) estarão destruídos pelos incêndios catastróficos, pela poluição, pelo aquecimento global e pela acção destrutiva humana. Por isso é urgente começar já a inflectir a tendência e tentar estabilizar as emissões poluidoras.
Este quadro evolutivo é devido a termos criado a civilização do petróleo em que a necessidade de energia é satisfeita pela queima de combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis representam um património de carbono de que a natureza se libertou ao conseguir depositá-lo no subsolo. Durante milhões de anos esse carbono permaneceu fora da natureza para grande benefício das condições de vida na Terra, cujo clima suavizado favoreceu a evolução das espécies e criou a riqueza biológica que deu origem à nossa espécie.
Na nossa busca incessante de energia abundante e barata, nós desenterrámos esses combustíveis fósseis, queimámo-los para produzir energia e, por consequência, libertámos o carbono de novo na atmosfera. Mas esse carbono, que estava excluído do ciclo do carbono, tem agora menos possibilidade de ser reciclado pela natureza porque os agentes recicladores são agora menos abundantes: as florestas foram saqueadas pelo homem e as poucas que restam serão destruídas pelos incêndios catastróficos provocados pelo aquecimento global, e o plâncton dos oceanos é agora muito menos abundante e está em regressão devido ao aquecimento do mar e à poluição dos oceanos. A irreversibilidade do aquecimento é a hipótese mais provável. A natureza necessitará de muitos milénios para recuperar as condições climáticas iniciais, se alguma possibilidade houver de recuperação. Entretanto, provavelmente, a espécie humana será também aniquilada.
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