sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Fisga


Por mais que se tente folgar no Carnaval – ou talvez por isso mesmo – não há volta a dar-lhe: escusamos de mudar o canal televisivo, sintonizar outra estação de rádio, trocar o jornal com o vizinho ou cliente da mesa ao lado no café que, o resultado, é sempre o mesmo. Até surdos como eu, acabam por ser obrigados a ouvir comentários ao tema de que todos falam mas ninguém explica.

Há argumentos para todos os gostos, de acordo com a simpatia política ou clientela a que pertencem os ‘comentadores’, ou autoridades judiciais a quem caberia investigar mais e palrar menos. A quem caberia salvaguardar o tão afamado segredo de justiça – que mais parece um esburacado queijo gruyère – em que todas as ratazanas metem o dente.

Para começar, foi o ministério de José Sócrates, à data dos acontecimentos responsável pela pasta do ambiente, que autorizou em tempo recorde a construção do Freeport numa zona protegida de Alcochete; e por isso, José Sócrates, encontra-se na seguinte situação:

- Um tio seu, denuncia que lhe meteu uma cunha para receber dois intermediários no negócio. Ouvido pelo ministério público, este seu tio passa a ser, formalmente, testemunha no processo;

- A polícia inglesa tem em seu poder um vídeo e e-mails dos tais intermediários em que afirmam precisar de dinheiro para pagar luvas; nalguns deles, é citado nominalmente o próprio José Sócrates e, noutros, existe a referência a um ministro designado “Pinóquio”;

- O mesmo José Sócrates, agora primeiro-ministro, começa por negar qualquer reunião com tais intermediários para, logo a seguir, afirmar que teve uma reunião mas não se recorda de ter sido a pedido do tio;

- Após alguns dias em frenéticas e sucessivas declarações – que até provocaram um insólito adiamento da reunião semanal aprazada com o Presidente da República – acabou por afirmar que se trata de uma “campanha negra”, movida por “forças ocultas”. E mais não disse. Encarregou o seu fiel ministro dos “assuntos parlamentares” de reafirmar aos quatro ventos que tudo não passa da tal campanha negra, movida por forças ocultas, sem explicar quais são e a que título as notícias VERÍDICAS são uma campanha;

- Finalmente, o Ministério Público ouve os dois referidos intermediários e constitui-os arguidos no processo Freeport;

- Como se nada disto bastasse, a comunicação social afirma que a Mãe de José Sócrates comprou, no mesmo prédio de luxo em que o filho habita, um andar ao ‘preço da uva mijona’ e… através de um off-shore.

Perante tudo isto, parece legítimo e curial retirar as seguintes ilações:

- Se os intermediários Smith e Pedro são arguidos no processo Freeport, só o podem ser pelo crime de corrupção activa;

- Assim sendo, resta averiguar quem foi o beneficiário do crime de corrupção passiva, isto é: de ter recebido as tais luvas para que o negócio se realizasse.

E convém que a Procuradoria-Geral da República não perca mais tempo – num processo que esteve parado durante os últimos 4 anos – a bem da Justiça, da presunção de inocência do primeiro-ministro José Sócrates e da imagem que o governo projecta de Portugal, enquanto dúvidas, suspeitas e suspeitos subsistirem.

No fundo, a bem de todos nós e do direito à Justiça que os portugueses merecem.

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