quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

COMO CHÁVEZ CONSEGUIU O QUE QUERIA

Finalmente, foi à segunda tentativa que Hugo Chávez conseguiu aprovar a legislação que permitirá manter-se na presidência da Venezuela o tempo que ele quiser, ou deixarem.

Os seus "tics" de linguagem, provocadores e populistas, não enganam ninguém. Mas suponho que os venezuelanos também não estão enganados e que quiseram apenas dar-lhe uma oportunidade para demonstrar com clareza o que ele é capaz de fazer.

De facto, algumas coisas foram feitas até agora. O sistema de saúde foi generalizado e é acessível aos que mais precisavam dele, os mais pobres. O ensino foi renovado e ampliado com a construção de novas escolas principalmente nos locais onde elas eram mais necessárias. As novas escolas trouxeram um incremento grande da população escolar a nível nacional. As famílias numerosas têm agora subsídios de alimentação e de renda de casa, uma necessidade há muito desejada mas que só há pouco tempo foi instituída pelo governo de Chávez. Só por esta medida, o número de família abrangidas pela pobreza extrema foi reduzida para cerca de metade.

Tudo isto pago com a única fonte de rendimento da Venezuela: o petróleo que, ao preço actual de 40 dólares o barril, não permitiu que o governo fizesse mais. Chávez já avisou que teria feito mais se tivesse meios para isso e que os venezuelanos teriam de esperar por melhores tempos, quando o petróleo cheguar aos 70 ou 75 dólares, para que as reformas e a actualização de infraestruturas continue de acordo com o programado. Mesmo assim, o que está feito é uma novidade absoluta e pela primeira vez o "povão" está agradecido. Chávez apresenta obra: prometeu e fez, ao contrário do normal dos políticos anteriores que prometiam e, depois de eleitos, ficavam amnésicos. Nós, portugueses, também sabemos o que isso é.

Não admira, portanto, que tenham votado nele de forma maciça, principalmente os mais pobres, que naquele país são alguns milhões. É a maneira que têm de manifestar a sua gratidão. É caso para pensar que é mais um ditador que chega ao poder por eleições democráticas. Este exemplo demonstra como essa possibilidade existe.

Uma promessa feita foi combater a corrupção, que é institucional e epidémica, e que é a única coisa que funciona impecavelmente na Venezuela. Conhecia-a pessoalmente, por isso sei do que falo. Outra luta prometida, consiste em acabar com a indústria dos raptos e com o banditismo em geral, ambas actividades "económicas" que não beneficiam o país. Ainda por cima, o crime aumentou radicalmente depois de Chávez ter alcançado a presidência. Outra promessa não concretizada foi a generalização do ensino secundário até ao 12º ano (ou equivalente da Venezuela), que ainda não foi concretizada. Outras promessas: construção de casas sociais para acabar com a enorme cintura de bairros da lata que cercam Caracas e as grandes cidades do país; generalizar o ensino profissional; generalizar e melhorar a qualidade do sistema público de saúde; melhorar o sistema de estradas; criar um sistema de ensino de qualidade, generalizado e gratuito; etc..

Para chegar a tantas e tão gigantescas necessidades bem pode Chávez desejar o petróleo a 90 dólares.

Uma incógnita que permanece em aberto é o que fará o "amigo americano". Tendo Chávez eleito "a América" como inimigo público de estimação, e havendo agora uma nova administração americana, é de esperar que Chávez dê ao vizinho do norte o benefício da dúvida e modere os "piropos" com que saudava o anterior inquilino da Casa Branca. Por outro lado, se continuar a desenvolver o seu projecto de coligações regionais para conter o "poder colonial yankee" na América do Sul, poderá colher más reacções do novo inquilino. Mas não creio que Obama tome medidas de retaliação e, ao contrário, tome medidas de contenção junto da CIA para que se mantenha à distância. De qualquer maneira, as coligações com Cuba, Colômbia, Equador, Guatemala e outros países da região não terão "massa crítica" para criar limitações ao poder americano, mesmo estando Chávez a morar no "quintal" da América. Obama faz bem se se mantiver arredado de tais minudências, que, no fundo, não passam de mero folclore político de esquerda, ou do esquerdismo de cariz populista para "agitar as massas" internas.

Entretanto, os migrantes portugueses a viver na Venezuela estão, numa atitude de dúvida e de prudência, a preparar as coisas para uma mudança de emergência, se necessário. Muitos têm negócios próprios que Chávez ameaçou nacionalizar. Nunca se perde nada em planear a retirada estratégica a tempo.

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