quinta-feira, 16 de abril de 2009

Canção dos Xutos transformada em manifesto contra Sócrates...

Quem conhecer a discografia dos Xutos & Pontapés sabe que o cariz de intervenção e alerta social marcaram sempre presença nas letras das músicas. Mas os membros desta banda nunca quiseram vestir a roupagem de “líderes de uma revolução política”, nem apoiam, enquanto colectivo, qualquer partido político, assegura Zé Pedro, guitarrista dos Xutos. Por isso, é com alguma surpresa que o grupo assiste à euforia em torno da canção “Sem eira nem beira”, que integra o novíssimo álbum Xutos & Pontapés, disco de originais que foi lançado na passada semana.
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O Sem eira nem beira não foi escrito a pensar neste Governo. Mas este é o Governo que temos e a letra encaixa como uma luva no momento político e económico. E nem precisava de ter a referência ao "senhor engenheiro" para, no final de cada estrofe, vir à memória de muitos o nome de José Sócrates.
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E num momento em que o primeiro-ministro parte fragilizado pelo caso Freeport para a longa maratona de três eleições, esta música dos Xutos & Pontapés, que já está a ser transformada por muitos numa espécie de manifesto contra o Governo, é mais um problema para o PS.
Porque amplia de forma inimaginável o que dizem muitos críticos do executivo; porque vai chegar onde a oposição não chega e com bastante mais força e porque não pode ser metida no bolo da estratégia de vitimização, das calúnias, das campanhas negras e das forças ocultas.
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Quando José Sócrates intensificar a campanha eleitoral, já os Xutos & Pontapés andarão pelo país em digressão, em concertos de milhares de pessoas. Sempre que se ouvir Sócrates a tecer loas às suas políticas, vai ouvir-se também cantar, de norte a sul do país, que, se "nada fizer", "isto não vai mudar" e que é preciso "encontrar mais força para lutar".
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E lutar contra quem? A letra do Sem eira nem beira é clara: contra os que "dão milhões a quem os tem/aos outros um 'passou--bem'"; contra os que querem "tramar, enganar, despedir, e ainda se ficam a rir", contra os que não assumem que já andaram "a roubar, a enganar o povo que acreditou".
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É possível ler isto e não pensar na classe política em geral e no Governo em funções em particular no momento de crise em que vivemos? Não.
in Público
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Sem eira, nem beira
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A canção tornou-se um hino que exprime a revolta.
Eis a letra:
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Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou-bem
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Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar/Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acredita
rQue esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
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Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir/Encontrar
Mais força para lutar...
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(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
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É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar/A enganar
o povo que acreditou
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Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...
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(Refrão)
(...)
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão

1 comentário:

zigoto disse...

Não se trata de "Os Vampiros" do Zeca Afonso, mas tem um significado importante:
Os Xutos não recearam cantar uma "letra" muito explícita.
E mais: significa que (voltaram) as bandas de música para jovens (e não só) que não se conformam e protestam.
Neste ano de todas as eleições, resta saber quem pega, ou não, neste tema.
Estaremos de volta ao canto de intervenção em que "a cantiga é uma arma"?
Não tarda a termos a resposta.