terça-feira, 3 de junho de 2008

Esquerda em marcha

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não



O porta-voz do PS, Vitalino Canas, admite a «incomodidade» e o «desconforto» do partido pela participação do histórico socialista Manuel Alegre no comício desta terça-feira, organizado pelo Bloco de Esquerda, para debater os problemas do país.

«Há uma certa incomodidade ou mesmo incompreensão da nossa parte em relação a uma iniciativa que manifestamente é feita ou ignorando o PS ou contra o PS», referiu em declarações à TSF.

Para Vitalino Canas, o socialista Manuel Alegre mostrou uma «quebra de solidariedade» com o PS ao juntar-se ao Bloco, «desvinculando-se» dos socialistas.

Alegre reage

Confrontado com estas críticas, Alegre ripostou que «antes do Dr. Vitalino Canas saber o que era a política, já eu tinha sido preso por lutar pela liberdade».

Um comício contra as «desigualdades», as «injustiças» sociais e a corrupção em Portugal junta esta terça-feira, em Lisboa, militantes e apoiantes do Bloco de Esquerda, da Renovação Comunista, «históricos» do PS, como Manuel Alegre, socialistas da ala esquerda e sindicalistas, refere a Lusa.

Francisco Louçã, coordenador da comissão política do BE, já definiu o comício como a «maior mudança dos últimos anos na esquerda portuguesa», enquanto PS e PCP optaram por distanciar-se da iniciativa.

O líder do Bloco de Esquerda garantiu depois que a plataforma de apoio ao comício de terça-feira «não tem qualquer agenda escondida, nem é o primeiro passo para qualquer coisa que não está dita».

«Esta iniciativa não tem a ver com o calendário das eleições em 2009 mas com a ideia de mostrar que são necessárias respostas sociais face às questões mais urgentes, razão pela qual é preciso um diálogo novo para encontrar soluções», sustentou.

Interrogado sobre o motivo da ausência na iniciativa de dirigentes do PCP, o líder do BE argumentou que «não há exclusão de ninguém», porque o movimento do comício «não representa uma coligação». «Todas as pessoas contactadas assinaram o apelo. Temos pessoas da CGTP-IN e de variados sectores, que partilham um sentimento de diálogo unitário. Não estamos perante qualquer relação de partidos».

Na lista de apoiantes do manifesto de apelo à participação no comício, contam-se vários dirigentes do Bloco de Esquerda, socialistas «históricos» e da ala esquerda do partido, assim como renovadores comunistas, mas nenhum dos actuais membros da direcção do PCP.

«Vindos de sensibilidades e experiências diferentes, junta-nos neste apelo [o facto de] partilharmos os valores essenciais da esquerda em nome dessa exigência. É tempo de buscar os diálogos abertos e o sentido de responsabilidade democrática que têm de se impor contra o pensamento único, a injustiça e a desigualdade», lê-se no apelo.

Para os subscritores deste apelo, «34 anos volvidos [do 25 de Abril], apesar do muito que Portugal mudou, o ambiente não é propriamente de festa. Novas e gritantes desigualdades, cerca de dois milhões de portugueses em risco de pobreza, aumento do desemprego e da precariedade, deficiências em serviços públicos essenciais como na saúde e educação», apontam os promotores da manifestação no seu diagnóstico sobre a sociedade portuguesa.

Ainda de acordo com os subscritores do manifesto, «a corrupção e a promiscuidade entre diferentes poderes criaram no país um clima de suspeição que mina a confiança no Estado democrático. Numa democracia moderna, os direitos políticos são inseparáveis dos direitos sociais. Se estes recuam, a democracia fica diminuída», advertem.

Da parte dos socialistas, além de Manuel Alegre, subscrevem o documento os fundadores do PS José Neves, Carolina Titto de Morais, o primeiro líder da JS e ex-deputado José Leitão, o resistente anti-fascista Edmundo Pedro, a deputada Teresa Alegre e o ex-dirigente Joaquim Sarmento.

Pelo lado do Bloco de Esquerda, o apelo é assinado por Francisco Louçã, Luís Fazenda, Mariana Aiveca, João Teixeira Lopes, João Semedo, José Manuel Pureza, entre outros.

Em relação aos membros da Renovação Comunista estão no manifesto Carlos Brito, Paulo Sucena, Cipriano Justo, Carreira Marques, Paulo Fidalgo (actual porta-voz).

Apoiam ainda o manifesto a vereadora em Lisboa do Movimento de Cidadãos, Helena Roseta; nomes da música como o de António Manuel Ribeiro (UHF) ou de Pacman (ex-mandatário da candidatura de Alegre a Presidente da República); assim como vários professores universitários, casos de Abílio Hernandez, António Nóvoa, Carlos Sá Furtado, Cláudio Torres, o ex-secretário de Estado José Reis, Jorge Bateira e Jorge Leite e Luís Moita.

In Portugal Diário

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