Falhei! Falhámos!" Dramático, numa infelicidade de intempérie, Ângelo Correia crucificou-se no Congresso do PSD. Mas logo acusou a intriga permanente, o mal-dizer constante, a sombra pesada do rancor como factores determinantes para a enfermidade da alma do partido. Foi um momento trémulo, lacrimoso, pungente. As câmaras das televisões percorreram as faces dos ilustres, e os ilustres apresentavam as faces com o decoro espiritual recomendado pela grave circunstância.
Pedro Passos Coelho quis saber qual o projecto, qual o programa, qual a doutrina, qual a estratégia que a Dr.ª Manuela Ferreira Leite possuía para resgatar a pátria dos malefícios do "socialismo moderno" de José Sócrates. A pátria ficou muito reconhecida, e até lhe saltou uma furtiva lágrima, com as estremecidas preocupações do desenvolto Passos. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite, impassível, fechada, fatigada, gótica, na escura profundidade das suas cogitações parecia nem sequer ouvir.
Levemente rouco, místico, lívido, surgiu na noite o fatal Santana. Os jornalistas, muito animosos, agitaram-se com intenso regozijo. "Agora é que é!" O Congresso decorrera morno, lento, pesaroso. E o velho animador da congregação nunca se deixara substituir, nem entregara os créditos em mãos alheias. Falou em ética política, como se ele próprio constituísse uma garantia da verdade, uma força da consciência e, de certo modo, um instrumento da justiça. A plateia, ante a sumária execução, sorriu e aplaudiu.
O rosto da dr.ª Manuela Ferreira Leite, esse, permanecia o que tem sido: um enigma íntimo. Aliás, a substância do seu discurso (que Pacheco Pereira aplaudiu, frenético, com transporte e unção) foi o gélido resultado de uma assustadora ausência de ideias. Qualquer módica alegria de grupo fica ensombrada pelo mal-estar provocado por esta inexistência de empatia. A senhora nada disse de novo, nada acrescentou ao que já se sabia. Como nos comunicou António José Teixeira, naquele registo fúnebre que se lhe reconhece, a Dr.ª Manuela Ferreira Leite é irmã gémea do Dr. Cavaco. Quer dizer: cria uma atmosfera de frigorífico.
Ao imbricar para a "esquerda", na vaga afirmação do "social", a chefe do PSD lança a linha nas águas que pertenceriam aos socialistas. Estes, inclinando-se para a "direita" tinham pescado no lago dos "sociais-democratas." Não há redenção possível para as duas agremiações. O seu discurso cuneiforme desenvolve um absurdo clima de bocejo, falso e letal. As diferenças entre o PSD e o PS são nulas. E, além de não empolgarem ninguém, nenhum dispõe de querer político nem de vontade moral.
Veja-se aquela gente do conclave de Guimarães. É a imagem devolvida da falta de paixão, da carência de vontade, da vacuidade de convicções, da ignorância rotativa. A alegria dos cemitérios.
Baptista-Bastos in DN
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