sábado, 21 de junho de 2008

Doutoramentos...

Tribunal absolve coronel Vasco Lourenço em caso polémico

Em causa, críticas a autor de tese que acusa oficiais de fugir à Guerra Colonial
A tese de doutoramento aprovada com distinção (2005) na Universidade de Évora, acusando a generalidade dos oficiais dos quadros permanentes (QP) do Exército de fugir à Guerra Colonial (1961-1974), está a gerar uma onda de indignação em diversos círculos castrenses.Dois factos ocorridos este mês tiraram a polémica tese da penumbra: no passado dia 4, o Tribunal de Évora absolveu o presidente da Associação 25 de Abril num processo movido pelo autor da tese, Manuel Godinho Rebocho (sargento-mor pára-quedista, na reforma), por causa das críticas feitas pelo coronel Vasco Lourenço. A 10 de Junho, o coronel Morais da Silva terminou a análise da tese - concluindo que, pelos "erros e conclusões sem fundamento bastante, não dignifica a Universidade de Évora".Na origem da polémica está a tese de doutoramento sobre "A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975". O autor sustenta que os oficiais dos quadros permanentes fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos dos QP. Entre outras afirmações polémicas, diz: "Porque os oficiais dos anos 60 fugiram da guerra, não reuniram as características de elites (...). Em função disso, o Exército desmoronou-se; a cadeia de comando partiu-se; o Exército venceu-se a si próprio; a Academia Militar falhou na selecção e na formação psicológica das futuras elites militares, as quais não desempenharam as suas funções em obediência aos valores próprios e exigíveis a um Exército" (página 488). Vasco Lourenço, referido directamente na tese, insurgiu-se quando Manuel Rebocho o convida para assistir à defesa da tese (19 de Setembro de 2005). "Não me ouviu, deturpa o que se passou [na Guiné, com o então general Spínola] e convida-me?", contou ontem ao DN o presidente da Associação 25 de Abril. Além de escrever ao autor, Vasco Lourenço transmitiu também o seu protesto à Universidade de Évora e ao júri, observando que "talvez não tivesse sido ouvido previamente por o [doutorando] ter noção da malévola deturpação do que se passou na Guiné".Manuel Rebocho, que o DN não conseguiu contactar, considerou-se ofendido e apresentou queixa em tribunal contra Vasco Lourenço, que foi absolvido. O presidente da Associação 25 de Abril vai agora pedir uma tomada de posição ao Exército e à Academia Militar, que "conden[a] por permitir que uma tese destas, sem suporte científico, seja aprovada".Este ponto surge como pilar central da crítica do coronel Morais da Silva, cujo passado militar o fez sentir-se "enlameado" com a tese - que leu para "desmontar" os argumentos do autor. "Caracterizar um universo de centenas de capitães QP (...) a partir do desempenho de dois elementos desse universo mostra que o autor nada conhece sobre Teoria da Amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica", escreveu aquele oficial.Lembrando que Vasco Lourenço foi "comandante das forças que anularam a sublevação de 25 de Novembro de 1975, iniciada pelas tropas pára-quedistas e em que [Manuel Rebocho] participou", Morais da Silva adiantou: "O que o autor faz nesta tese relativamente a este oficial é (...) insuportável num doutoramento!"
In DN

2 comentários:

zigoto disse...

Este sargento, que até é "doutor", deve ter ficado cacimbado.
Os oficiais, não só combateram na guerra colonial durante 13 anos, como foram capazes de não a perder - como aconteceu em situações semelhantes a exércitos mais poderosos (por exemplo: os franceses na Indochina e Argélia, e os americanos no Vietname) - como foram capazes de terminar com meio Século de ditadura e devolver a soberania ao povo português; devia agradecer-lhes a possibilidade que teve de viver em democracia e... "doutorar-se".
Mas, a responsabilidade maior da sua "tese" pertence a quem a acolheu, ou seja:
a universidade de Évora e respectivo júri que a aprovou.

Por este caminho, essa universidade não vai longe.

Anónimo disse...

Ó Zigoto, um júri de doutoramento que consegue juntar o Prof. Adriano Moreira e uma sua ex-aluna , como catedráticos na Universidadede de Évora, só podia dar isto...E mais não digo,pois conheço bem os dois: Um , um excelente professor, a outra devia ter ficado à sombra do CCB. Não joga a bota com a perdigota como diria o outro.