O COMUNISMO EM MARX (CONTINUAÇÃO)
São as características dos ambientes organizacionais e atributos do trabalho em sistema capitalista descritas anteriormente que põem o ser e o fazer em antítese. Com efeito, a necessidade de vender a força de trabalho redunda na alienação do ser em benefício de um fazer que tende a adulterar o homem, violentando-o física e espiritualmente no presente e comprometendo as suas possibilidades de realização no curso do tempo.
A pessoa que o trabalhador é, não só se não cumpre no exercício do trabalho como se sujeita a um processo de degradação que pode comprometer a sua emancipação no futuro.
O modo de produção capitalista é dinamizado por cadeias de interacções nucleares entre os proprietários dos meios de produção e os donos da força de trabalho, intensamente favoráveis aos primeiros.
As interacções que preenchem o núcleo social do sistema produtivo capitalista são complexos jogos de poder onde a supremacia do capitalista sobre o proletário se afirma de forma vital. São relações de produção que marcam o domínio directo do capital sobre o trabalho e promovem o poder burguês sobre a sociedade inteira.
Assim, em Marx, o ser que a história inapelável tem vindo a esboçar desde o alvorecer dos tempos e que realizará no comunismo, é perturbado, pervertido e adiado, porque a natureza e os fins do fazer em sistema capitalista são autoritariamente decididos pelos detentores do capital em função de interesses pessoais necessariamente redutores.
A existência, que segue um curso inscrito na natureza das coisas, vive de um tempo mutilado em que os homens se perdem de si, alienando-se. Este é um tempo pré-histórico porque nele os homens não são livres de decidir sobre os seus destinos. Este tempo que começa nas sociedades arcaicas é, depois, sociologicamente marcado pelas sociedades de classes.
A revolucionária chegada ao comunismo marcaria o início da história onde o homem, finalmente devolvido a si, comanda desalienadamente a sociedade num tempo de plenitude. No determinismo histórico de Marx a estrada do tempo conduz o homem da exploração para a sua ausência, do encarceramento para a liberdade e da alienação para a consciência redentora imbricada no homem novo.
O trabalho vivido como coacção e realizado pelo homem mercadoria transformar-se-á numa actividade progressivamente desalienada no período pós capitalista da ditadura do proletariado até se libertar de todos os grilhões na sociedade comunista.
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