O perfil da personalidade mais carismática da história de Condeixa traça-se entre a figura extraordinária de cabeleira leonina, porte hercúleo e de veio erudito e a proximidade natural e afável com a arraia-miúda. Entre a bonomia, a alegria contagiante, a gargalhada sempre pronta e tonitruante e a luta afincada e nem sempre risonha pela prosperidade cultural e material da terra. Entre uma generosidade sem limites, a que não estorvava a míngua de recursos e a riqueza do exemplo e do legado deixados. Entre o homem e a obra.
João Augusto Antunes nasce em Coimbra, em 1863. O relativo desafogo económico dos pais possibilitou-lhe uma formação superior: conclui o curso de Teologia, obtém ordenação sacerdotal e prossegue estudos na faculdade de Direito. Vem para Condeixa, na qualidade de Conservador do Registo Predial, e exerce funções religiosas enquanto coadjutor do pároco da vila e capelão da casa Ramalho.
Detentor de uma cultura excepcional, dedicado à pintura e, acima de tudo, musicólogo de reconhecido mérito, converteu operários e trabalhadores rurais da terra em cantores-corais, constituindo o primeiro orfeão popular do país. A primeira audição do assim designado Orfeão dos Trabalhadores e Artistas de Condeixa teve lugar na Igreja-Matriz de Condeixa-a-Nova, em 1903, ao que se seguiram inúmeras apresentações por todo o país que colheram rasgados elogios da crítica.
Preocupado com a orientação profissional dos jovens do concelho (na sua maioria desprovidos de qualquer instrução) e desejoso de despertar talentos artísticos desconhecidos, instituiu uma Escola de Desenho Industrial que em larga medida custeava.
A alcunha de "Padre-Boi", com que ficou popularizado, adveio-lhe da compleição física avantajada e de um apetite voraz; proliferam os episódios caricatos sobre a sua gula impenitente que terá mesmo motivado a sua aproximação ao rei D. Carlos, numa sua visita a Condeixa. O monarca, que para além dos interesses gastronómicos, rapidamente encontrou outras afinidades com o douto João Antunes, distinguiu-o, mais tarde, com a nomeação de Capelão da Casa Real.
Apesar de profundamente devoto, o seu modo de vida algo boémio e a prole numerosa que sempre assumiu (prova inequívoca dos seus deslizes profanos) suscitaram conturbação na Igreja, tendo-lhe valido diversas admoestações do Bispo.
A morte sobreveio em 1931, pondo termo a uma vida de entrega à comunidade que lhe granjeou a admiração, o respeito e a saudade de quantos o conheceram e de quantos, hoje, se revêem na sua obra.
In página da C.M. de Condeixa-a-Nova
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