domingo, 21 de junho de 2009

Decisões especiais...

Um grupo de economistas acaba de vir a público propor "uma reavaliação profunda dos megaprojectos públicos no sector dos transportes, das suas prioridades e calendários". O conjunto de renomados economistas não é contra - ou sendo-o não o diz abertamente - aqueles projectos. Mas duvida da oportunidade, quer uma reavaliação.
.
Numa época de eleições, não pode evitar-se notar que a maioria destes economistas pertence maioritariamente a um mesmo partido ou com ele colabora. Será injusto notar que grande parte é do PSD, alguns ex-ministros, ao mesmo tempo que também há entre aqueles economistas gente que já lidou com o PS ou independentes que se reconhecem na área social-democrata, esteja ela representada pelo PS ou pelo PSD?
.
Também não pode deixar de se notar que entre os signatários há alguns responsáveis pelo marasmo da nossa economia, pela forma como nunca fomos capazes de igualar o crescimento europeu, gente que tendo tido o poder não logrou conduzir o país a resultados melhores do que os conhecemos há largos anos. Nem por isso, porém, o alerta destes economistas deve ser posto de lado. Gente de elevada craveira académica propõe que se estude mais, se analise melhor, se perceba bem se este é o momento para avançar.
.
Para o eleitorado que vai ser chamado a escolher um novo Governo dentro de meses, este apelo é difícil. Ele contraria o que o Governo tem como certo, ainda que, por exemplo no caso do TGV, o Governo tenha feito com que os prazos de uma decisão caibam ao próximo Governo, precisamente ao que vier a ser escolhido em próximo acto eleitoral. Contrariando o Governo, este apelo cola melhor com o que tem dito alguma oposição, nomeadamente a oposição protagonizada por Manuela Ferreira Leite que, honra lhe seja feita, foi a primeira a dizer que "não há dinheiro para nada".
.
É por isso que este apelo deverá ter um destinatário certo: o presidente da República, cuja isenção não se contesta. Um estudo patrocinado pela Presidência da República poderia e deveria mostrar aos portugueses a nossa real situação. O presidente deveria promover um grande debate nacional com gente do Governo e de todas as oposições, ser ele mesmo o árbitro desse confronto de ideias, cujo principal objectivo seria o dar a conhecer aos portugueses, antes da eleição do próximo Parlamento, a verdadeira situação do país e a oportunidade de algumas opções. Se vivemos uma crise única, deveríamos ter comportamentos especiais. E um debate desses, difícil de pôr de pé, é certo, seria um momento exemplar em que o país se poria a pensar. Depois, votaria.
.
Acresce que o próprio Cavaco Silva corre o risco, até pelo seu estilo de intervenção, de ser injustamente integrado no rol dos que fazem política partidária. O tom enigmático dos seus discursos, que necessita das interpretações que sobre eles fazem o prof. Marcelo, nas suas missas dominicais, e outros políticos que são parte interessada na própria interpretação das palavras do presidente, esse tom não é adequado ao momento presente. É preciso gente que fale claro e fale verdade. Duas pessoas podem ter, ambas de boa fé, duas opiniões. Distintas.
Mas a crise não permite erros e o cidadão eleitor precisa de ser esclarecido.
Ninguém melhor do que o presidente da República para mediar essa grande sessão de esclarecimento que este grupo de economistas aconselha e o país certamente necessita.
José Leite Pereira
in JN

Sem comentários: