segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um país em grande...

Há qualquer coisa que nos ficou do Império e que faz com que Portugal se pense em grande. Somos um país médio, periférico e pobre (palavras que também usamos para justificar falhanços), mas jamais nos comparamos com a Eslováquia ou com a Grécia.
Somos dados às comparações com os poderosos - Espanha, França, Inglaterra, Alemanha. Queremos o mesmo que eles: um TGV, uma rede de auto-estradas para todas as cidades (que em termos europeus não passam de vilas) e o que mais seja.
Uma espécie de esquizofrenia política soma-se a esta concepção megalómana.
Cada Governo - e cada ministro mesmo dentro do mesmo Governo - tem as suas prioridades. O aeroporto passou da Ota para Alcochete. Já houve TGV para Salamanca (PSD/CDS), mas já não há.
As auto-estradas, cuja febre começou com Cavaco, são agora uma praga. Um só concelho (Albergaria) fica com cinco auto-estradas no espaço de uma dúzia de quilómetros.
Como sempre, há justificações para tudo. Para um TGV em Y ou em T ou noutra letra qualquer. Para o aeroporto ser na Ota ou na margem Sul. Para tudo há argumentos irrecusáveis, inadiáveis e inquestionáveis.
O que deveria ser alvo de um consenso interpartidário e mesmo intergeracional é, infelizmente, alvo das mais acirradas lutas políticas. E assim foi com todas as obras, desde o CCB à ponte Vasco da Gama.
Mas não vivemos um momento vulgar. Esta é uma crise que põe em causa todos os modelos em que até agora nos movimentámos. Há que repensar esses modelos e, entre eles, o das grandes obras e do seu financiamento.
Não porque o Governo tenha perdido nas Europeias a legitimidade para as fazer. Claro que não perdeu.
Mas porque assim aconselha a prudência e o bom senso.
in Expresso

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