Artur Virgílio Alves Reis nasceu, em Lisboa,
no ano de 1898. Na juventude ambicionava ser engenheiro, mas o pequeno negócio de cangalheiro que o pai possuía tornou-se menos rentável e os seus sonhos foram por água abaixo. Um dia, em Sintra, no cartório do notário Benjamim Neves, conseguiu que este lhe fizesse uma pública forma de um diploma por ele forjado que o habilitava com um curso de engenharia de uma faculdade que não existia na universidade de Oxford.
Destruiu o original do diploma e passou a usar a pública forma para fazer prevalecer a sua condição de engenheiro, reconhecido pelo Ministério da Instrução Pública de Portugal como equivalente a um curso que tivesse sido frequentado no nosso país.
Assim, com apenas pouco mais de 18 anos de idade, estava a candidatar-se a cargos de engenharia para as colónias, nomeadamente para Angola. Não lhe foi, no respectivo Ministério, reconhecida a condição de engenheiro civil, mas, dada a falta de engenheiros, contratou-se Alves Reis para um cargo equivalente.
Seria «técnico de engenharia». Era um engenheiro que não era engenheiro, como, aliás, em Portugal, muitos anos mais tarde, passou a haver alguns!
Independentemente da falsificação dos documentos que lhe abriram as portas da colónia de Angola o certo é que ele mostrou competência nos diferentes cargos para que foi, provisoriamente, sendo nomeado. O Governador-Geral chegou mesmo a nomeá-lo, a título definitivo, para o alto cargo de «engenheiro director das obras públicas» da, então, província; não podia, porque não tinha a equivalência a engenheiro civil formado por qualquer das diferentes escolas de engenharia nacionais! Contudo, as suas proezas nas ousadas decisões que foi tomando deram-lhe crédito e credibilidade.
Na terra de cegos quem diz que tem um olho é rei!
Regressado a Lisboa, entrou pelo mundo dos negócios e, onde se lhe fechava uma porta por causa da legalidade de então, ele escancarava outra através de uma falsificação, uma burla, uma solução menos recomendável, mas quase sempre não imediatamente detectável.
Era um homem d’avant-garde, isto é, era um homem do final do século XX ou, melhor dizendo, um homem do começo do século XXI, cheio de iniciativas.
Só que as suas iniciativas ainda não tinham respaldo nos “mecanismos” sociais, políticos e económicos do seu tempo! Dir-se-ia, usando a língua de Churchill, estava fora do seu timing.
Alves Reis, para resolver um problema de financiamento de importações e exportações de Angola, para lá explorar uma mina, conseguiu dar o golpe de mestre: fundou um banco com recurso à emissão de uma série de notas de quinhentos escudos, perfeitamente verdadeiras, fabricadas no local onde se fabricavam as que o Estado mandava fazer. Ele só teve de falsificar os documentos de encomenda, sobrepondo-se ao Estado português! E os negócios prosperaram de imediato e com grande fulgor.
Claro que a falcatrua foi descoberta quando as autoridades competentes mandaram fazer uma nova emissão de notas do mesmo valor e da mesma série.
O banco foi, de imediato, à falência e Alves Reis e os seus cúmplices tiveram de responder pela negociata que, de errado, só teve, como já disse, a falta de oportunidade temporal. Se fosse hoje, o Banco Angola e Metrópole teria sido nacionalizado, Alves Reis teria respondido perante uma comissão parlamentar, poderia, eventualmente, ser preso, mas, garantidamente, com as delongas da Justiça, nunca chegaria a dar entrada na penitenciária, como lhe aconteceu para cumprir oito anos de prisão maior celular, seguidos de doze anos de degredo. Foi posto em liberdade em 1945 e veio a morrer dez anos mais tarde.
Cometeu as irregularidades criminais do tempo da democracia e foi condenado no tempo da ditadura. Afinal, Alves Reis viveu fora de época… Bastava-lhe ter nascido setenta anos mais tarde e teria tido à sua disposição outros mecanismos de apoio à fraude: offshores, empresas falidas, paraísos fiscais, fundos comunitários e outras oportunidades que os entendidos conhecem bem. Há, todavia, uma realidade que se mostra inalterável: Portugal é, em todos os tempos, só por si, um paraíso para os vigaristas!
Luís Alves de Fraga
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