JOSÉ Sócrates recebeu, na noite eleitoral, um duche frio de insucesso partidário e um banho gelado de alternância democrática (evento político que pensava ter afastado do seu horizonte por muitos e bons anos). Não foram só as sondagens enviesadas a favor do voto socialista que iludiram o líder do PS.
Sócrates sabia, de antemão, que as europeias eram as eleições mais convidativas para o voto de protesto de muitos eleitores descontentes. Mas continuava iludido quanto à sua imagem junto dos portugueses, convencido de que estes o viam num pedestal sem concorrentes à altura – e de que bastava a sua intervenção mediática na campanha, coadjuvada pela máquina endinheirada do PS, para controlar quaisquer danos eleitorais preocupantes.
Viu-se o resultado: uma queda histórica do PS de 44,5% para 26,6% e a vitória do PSD com cinco pontos de vantagem. Como concluiu, certeiramente, João Cravinho: «O efeito Sócrates, só por si, já não chega».
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UM PRIMEIRO-ministro cheio de si próprio e da sua maioria não remodelou um Governo cansado e gasto porque não compreendeu a amplitude do desgaste político e eleitoral provocado por ministros já fora de prazo.
Não percebeu o efeito corrosivo dos descabidos dislates do Jamais! ou da papa Maizena, da frieza impositiva na política da Educação, da linha de orientação revanchista da dupla Alberto Costa/Ricardo Rodrigues contra as magistraturas na área da Justiça ou da incorrigível sobranceria que transpira em cada intervenção do omnipresente ministro Santos Silva.
Como explicou, sucintamente, Manuel Alegre, o resultado das europeias, para o PS, «foi um voto de castigo, uma punição de políticas da governação e de um certo estilo». Agora, a três meses e meio das legislativas, é tarde para o primeiro-ministro remodelar, para mudar as caras, dar outra frescura e nova energia política ao Governo. Demasiado tarde.
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SÓCRATES instigou a política do ‘quero, posso e mando’ numa maioria absoluta já com os piores tiques que esta potencia: autoritarismo, auto-suficiência, prepotência.
Uma maioria partidária que não resistiu à tentação controleira sobre a informação e a comunicação social, que fomentou e cultivou a dependência (quando não a submissão) dos agentes económicos e do sector financeiro ao poder socialista.
O país e a democracia respiram melhor desde a noite das eleições.
jal@sol.pt
terça-feira, 16 de junho de 2009
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