Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
António Aleixo
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2 comentários:
Estas "quadras sábias" como lhe chama o Zigoto encadeadas na "história de um ladrão" do Francisco Trindade explicam exemplarmente o que se passa neste país.
O tempo passa ,passa e parece que nada muda para melhor. Será má sorte, fado ou destino de ser português?
Talvez seja tudo isso, e mais os tais "brandos costumes" que nos anestesiam, minha cara Blimunda.
Mas esses, mais não são do que a passividade de quem, ao longo da história foi obrigado, para sobreviver sob a pata de tiranos, a evitar confrontos decisivos.
Olhando para a nossa História, entende-se o que digo.
Já lá vão oito séculos de obediência.
Na conquista do território, os mouros vencidos converteram-se e passaram a ser moçárabes, para evitarem pôr a cabeça no cepo.
Os judeus, travestiram-se em cristãos-novos para evitarem a fogueira da inquisição.
E, durante a ditadura salazarenta, até muitos republicanos alinharam na delação por um prato de lentilhas.
Infelizmente, não chegam três décadas de liberdade para mudar comportamentos e atitudes que se beberam no leite materno...
O Cacimbo nasceu e luta para contribuir que se consiga.
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