domingo, 9 de março de 2008

O PRINCÍPIO DO FIM


Acabaram-se as facilidades.

Habituado a fazer exames por fax enviado ao professor e a projectar mamarrachos que metem medo ao susto, José Sócrates obteve uma maioria absoluta que lhe caiu nas mãos em virtude das trapalhadas santanistas, convencido que fora eleito para mandar.

Aliás, o traço mais evidente da sua narcísica personalidade é exactamente estar convencido de que nasceu para mandar. Se ao menos tivesse feito o serviço militar, ter-lhe-iam explicado que dirigir, governar, comandar [em suma] consiste em mandar com. Isto é, saber ouvir e estabelecer consensos mínimos; e mais: incorporando no método para alcançar os seus objectivos os contributos válidos daqueles que concretizam e a quem são dirigidos os seus propósitos.

Juntando a essa notória deficiência a ausência de uma alternativa credível na oposição do chamado “arco governamental” – ou seja no PSD – convenceu-se que detinha o poder absoluto e podia fazer o que lhe desse na real gana. Para tanto tem contado com o beneplácito da “cooperação institucional” de Cavaco Silva, pesem diversos sinais de descontentamento da sociedade e dos mais diversos quadrantes socioprofissionais e ideológicos - incluindo do seu partido -, o tal “mal difuso” a que já se referiram o General Garcia Leandro e a SEDES. Mas como esses não vão a votos, ignorou-os e meteu a cabeça na areia, convencido que lhe bastaria reduzir temporariamente os impostos em 2009 para obter nova maioria absoluta.

Acreditou que a anestesiada e obediente maioria parlamentar de que dispõe era suficiente para mandar a seu bel-prazer e convenceu ministros a imitarem o seu exemplo de autoritarismo e arrogância. Nem por se ver obrigado a apunhalar pelas costas o infeliz Correia de Campos – que na véspera de ser demitido jurava a pés juntos que estava no Ministério da Saúde de pedra e cal – lhe serviram de lição. Até hoje, ou melhor: até à manifestação de professores que ontem desaguou no Terreiro do Paço, qual maremoto afogando a intransigência das políticas de educação em curso.

Daqui para a frente Sócrates vai precisar do Instituto de Socorro a Náufragos para não afogar num mar de destroços o seu ministério. E nem a prestimosa corporação de bombeiros conseguirá apagar o incêndio que a sua casmurra auto-suficiência ateou.


2 comentários:

Anónimo disse...

Acabaram-se as facilidades diz muito bem! Para quem não sabe ouvir nem dialogar parece-me que só se é ouvido através da berraria de rua e com a dimensão que se viu no sábado.E eu acho(isto não é um país de achistas?)que a procissão ainda vai no adro.

antoni115 disse...

Isto já não vai lá nem com os socorros a naufragos..espero que o ruido ensurdecedor dos professores, mesmo nos momentos de silêncio,aliado a outros buzinões da sociedade portuguesa,arrefeça os ânimos reformistas do engenheiro da Maçada..infelizmente vamos aguentá-lo mais 4 anos, mas felizmente sem a maioria absoluta que o faz cantar de poleiro..aí quero ver o patego espernear e a
deitar contas à vida, sem saber como dirigir o barco..sai-lhe a arrogância e prepotência pelo sitio onde as costas mudam de nome..