sábado, 29 de março de 2008

JOGOS OLÍMPICOS EM PEQUIM


ROBERT MÉNARD APELA AO BOICOTE DA CERIMÓNIA DE ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS
Robert Ménard tem uma nova causa. O fundador e secretário-geral dos Repórteres sem Fronteiras quer boicotar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.
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Ménard foi, aliás, um dos três manifestantes que perturbaram o acender da chama olímpica, na passada segunda-feira, na Grécia. Um protesto contra a violação dos direitos humanos na China, em particular no Tibete. Nesta entrevista à EuroNews, Robert Ménard diz que misturar política com os Jogos Olímpicos se torna inevitável, especialmente quando é a China que está em causa.
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Pergunta: Um boicote à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim é, verdadeiramente, a melhor solução para uma manifestação contra a violação dos direitos humanos na China, e sobretudo no Tibete?
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Robert Ménard: Não é a melhor solução. É a menos má. Não se vai regularizar o problema dos direitos humanos no Tibete e na China agora, em quatro meses. Há anos que os países democráticos e os grandes países ocidentais se deveriam ter fechado mais à China. Ao mesmo tempo, agora estamos perante um acontecimento importante e parece-nos que reivindicar que os chefes de Estado e de Governo não estejam presentes nas três horas e meia que durará a cerimónia de abertura é o mínimo, o mínimo!
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Perg: Porquê apenas um boicote da cerimónia e, não se pode efectuar um boicote total?
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RM: Porque não é possível pedir aos desportistas algo que é impossível para eles. Hoje, pedir aos jovens e às jovens, após meses, após anos de preparação para estes jogos, para não irem, é inadmissível. Não são eles os responsáveis por isto. A responsabilidade é, em primeiro lugar, do Comité Olímpico Internacional, pois foi ele que votou e designou Pequim. É ele que tem que assumir as suas responsabilidades. E os políticos, homens e mulheres, porque esta decisão [de realizar os Jogos em Pequim] é uma decisão política.
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Perg: Mas quando fala em assumir as responsabilidades, quer dizer o quê exactamente? Por exemplo, Jacques Rogge, o presidente do Comité Olímpico Internacional, disse que o Comité está envolvido numa diplomacia silenciosa com a China.
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RM: Ele goza com toda a gente, Jacques Rogge. É um mentiroso. Há meses que lhe entregámos, não apenas nós, mas organizações de defesa dos direitos humanos de todo o mundo, uma lista com quatro dezenas de nomes de pessoas que estão presas, e lhe pedimos para a transmitir às autoridades chinesas. Jacques Rogge não o fez. Jacques Rogge não consegue nada, porque ele não pede nada. Ele diz: eu sou organizador de espectáculos desportivos, não me podem pedir para falar de direitos humanos, eu não faço política. Mas a decisão de ir a Pequim, é uma decisão política.
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Perg: Se a França não participar na cerimónia de abertura, mas o fizerem a Alemanha, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, que se dizem contra um boicote... a França sózinha, o que é que pode mudar verdadeiramente?
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RM: No nosso espírito, não se trata apenas de o pedir a Nicolas Sarkozy. Por que é que é importante a posição de Sarkozy? Porque no próximo mês de Agosto, na altura dos Jogos Olímpicos, é ele que presidirá à União Europeia. Por conseguinte, ele será o representante de 27 países europeus. Aí, ele vai ter uma reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros de toda a União, dos 27 países europeus. Espero que eles venham a tomar uma posição comum. Espero que toda a Europa junta fale alto e forte. Não podemos explicar que os direitos humanos foram inventados na Europa pelos europeus e esquecê-los quando é incómodo. Evidentemente, os nossos governos não desejam fazer isso. Os nossos Governos estão obcecados com uma coisa, os negócios com os chineses e as suas empresas com o mercado chinês.
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Perg: Quer que os responsáveis políticos boicotem a cerimónia de abertura. E os jornalistas, na sua opinião, o que devem fazer?
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RM: Todos os jornalistas devem pedir autorização para ir a Lhassa, no Tibete. Todos devem pedi-la. Haverá 20 mil jornalistas no terreno, para pedir e ir, porque o seu trabalho é ir ao lugar onde é mais difícil. Eu não consigo imaginar que um jornalista digno desse nome se contente com uma ida a Pequim. Não é possível. Essa é a primeira coisa. Há um determinado número de jornalistas, a quem vou pedir para levarem uma mensagem: "Eu não sou ingénuo". Certamente, eu estou aqui pela actualidade, resultados desportivos, pela competição e por tudo, mas ao mesmo tempo eu sei em que país estou.
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Perg: Eu li num artigo que disse que o problema das ONG é que têm relações incestuosas com a esquerda, mas considera-se apolítico na sua abordagem a esta questão?
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RM: Nós não somos cães de guarda. Eu não tenho mais simpatia por um regime, por uma ditadura de direita ou uma ditadura de esquerda. Eu e os Repórteres sem Fronteiras somos capazes de nos mostrar igualmente intratáveis com o senhor Castro, quando ele põe 25 jornalistas na prisão, e com Bush, quando o seu exército dispara sobre os jornalistas, no Iraque. Eu não digo que o senhor Castro e o senhor Bush sejam a mesma coisa. Evidentemente que não. Eu não tenho um espírito selectivo. Há ditaduras boas e ditaduras más? Claro que não. Eu estou escandalizado pela Arábia Saudita próxima dos americanos, como pela China comunista, da mesma maneira.
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Perg: Senhor Ménard, a minha última questão: e o senhor, vai a Pequim?
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RM: Eu não posso mais ir a Pequim. Correram comigo em Agosto passado. Eu manifestei-me numa rua, em frente da sede do Comité de Organização de Pequim, e eles prenderam-nos, expulsaram-nos do país. Eu tentei voltar, há uns meses, por Hong Kong. É uma pena que não o tenha trazido, porque vos poderia mostrar que me puseram no passaporte um carimbo com o qual não poderei jamais entrar na China. O Governo chinês não é eterno. Eu também não, mas espero poder voltar à China, a uma China democrática"

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Ainda sobre a decisão de realizar os Jogos Olímpicos na China, no passado dia 26 de Março a Comissão de Assuntos Exteriores do Parlamento Europeu ouviu o Presidente do Parlamento Tibetano no exílio, Karma Chophel, expôr com clareza as propostas da “via do meio” defendida pelo Dalai Lama e pelas estruturas tibetanas sobre a forma negociada e pacífica para resolver a crise do Tibete, que ameaça toldar a organização dos Jogos Olímpicos em Pequim.
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O representante tibetano foi explícito ao defender que não devia haver boicote aos Jogos Olímpicos, que a China não devia ser isolada e que o objectivo dos tibetanos não era a separação da RP China, mas antes alcançar um estatuto de autonomia que garantisse direitos humanos e liberdades básicas (incluindo liberdade religiosa) aos tibetanos e lhes facultasse auto-governação no seu território.
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Antes da reunião com o representante do governo tibetano no exílio, o plenário do PE debateu se deveria haver boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, ou não. Foram discutidas as difíceis condições vividas pelo povo tibetano no seu próprio país, com manifestações racistas das autoridades chinesas sobre a população local que se estendem às vizinhas províncias chinesas onde existem minorias tibetanas.
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Foi consensualmente afirmado que o PE deseja ver os direitos humanos e as liberdades respeitadas tanto no Tibete, como na China, onde tantos estão na prisão só por ousarem expressar as suas opiniões - como Hu Jia, logo após ter falado com os parlamentares europeus, em Novembro passado, através de video-conferência. O boicote dos Jogos Olímpicos em Pequim seria muito conveniente para aqueles que, no governo chinês, contam com a indiferença do mundo para continuar a oprimir quer chineses quer tibetanos. Em vez disso, estas olimpíadas podem ter um forte impacto na sociedade chinesa e produzir efeitos benéficos no progresso dos direitos humanos e na liberdade no Tibete e na China.

3 comentários:

PH disse...

Sou contra um boicote total dos jogos, mas acredito que não ir a cerimonia de abertura seria um protesto interessante. Estou fazendo uma lista com as autoridades que já declararam que não irão.

zigoto disse...

OK.Meu caro ph.
Quando tiver a lista mande.
Já fui ao seu blogue que acho muito interessante.
Saudações amigas

PH disse...

Aí estáLista das autoridades e celebridades que não irão aos JO.

Abraço.