sábado, 15 de março de 2008

MALHAS QUE O IMPÉRIO TECE

FOI HÁ 47 ANOS

A 15 de Março de 1961 eclodiu no norte de Angola uma vaga de terrorismo desencadeado pela UPA – União dos Povos de Angola – em que foram massacradas centenas de colonos portugueses incluindo mulheres e crianças.

O que parece ter apanhado de surpresa a opinião pública era, afinal, há muito previsível. Contudo nada foi feito para evacuar ou proteger esses colonos indefesos. Atente-se nesta breve cronologia da contagem decrescente para o início das hostilidades e respectivas reacções:

1961

Janeiro/Fevereiro - Revolta de cultivadores de algodão, na Baixa do Cassange, em Angola. As forças armadas portuguesas esmagam a revolta, provocando entre os camponeses um número muito elevado de mortos.

Janeiro, 20 - John Kennedy toma posse do cargo de presidente dos Estados Unidos.

Janeiro, 22 - O capitão Henrique Galvão, em dissidência com Salazar, apodera-se do navio Santa Maria.

Fevereiro, 4 - Ataque às prisões de Luanda com o objectivo, que falharia, de libertar os presos políticos. Esta data marca geralmente o início da luta armada do MPLA em Angola, embora a relação desses acontecimentos com a actividade deste movimento seja por vezes questionada, considerando-se ter sido dirigido por Neves Bendinha, da UPA, e pelo cónego Manuel das Neves.

Fevereiro, 6 - Expedições punitivas nos muceques de Luanda.

Março, 10 - Angola debatida no Conselho de Segurança da ONU. Rejeitada moção para o estabelecimento de uma subcomissão para elaborar um relatório sobre a situação no território.

Março, 15 - Início, por parte da UPA, da rebelião no Norte de Angola, da qual resulta o massacre de mais de 800 europeus e a destruição e rapina de numerosos bens. As represálias, nas quais desempenhará importante papel a Força Aérea, causarão milhares de vítimas.

Março, 22 - Lançada ao mar a viatura do cônsul norte-americano em Luanda, por colonos que se manifestavam contra os EUA.

Março, 27 - Manifestação anti-americana em Lisboa.

Abril, 4 - A Assembleia Geral da ONU aprova uma moção a favor da autodeterminação de Angola.

Abril, 4 - O primeiro contingente a ser enviado para Angola por via marítima embarca no cais de Santa Apolónia.

Abril, 13 - Tentativa de golpe de Estado chefiada por Botelho Moniz. Salazar assume a pasta da Defesa e fala na televisão: «Andar rapidamente e em força.» Adriano Moreira é indigitado como novo ministro do Ultramar.

Abril,18 - Fundação, em Casablanca, da CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas).

Maio, 1 - Desfile em Luanda do primeiro contingente de soldados expedicionários portugueses, desembarcados neste dia.

Após os massacres, Salazar decidiu não negociar nem sequer cumprir as resoluções das Nações Unidas e escolheu a guerra.

Começava a guerra colonial que se prolongou por treze penosos anos.

Os documentos reproduzidos a seguir demonstram que há muito se esperava o início da luta armada com vista à independência das colónias que o Estado Novo, contra os ventos da história, se recusava a aceitar.

Documento já desclassificado no Arquivo Histórico Militar

Clique nestes anexos para ampliá-los










O trágico balanço de uma guerra que podia e devia ter sido evitada

Documentos publicados pela CECA, Comissão de Estudo das Campanhas de África, do Estado Maior do Exército


Resta sublinhar que não foram contabilizados os mortos civis - de ambos os lados da barricada - nem os feridos, e os mutilados física e psicologicamente.
Também é incalculável o prejuízo material e a sangria de jovens refractários e desertores que preferiram emigrar "a salto" do que ir defender o mito da "pátria una e indivisível" que o autismo da ditadura alimentou até à madrugada libertadora de 25 de Abril.

Clique na fotografia e anexos para ampliá-los.

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