Conforme se vai conhecendo a dimensão mais profunda e dramática da crise que está a atravessar o sistema económico mundial, de forma crescente vai emergindo um clima de desorientação que coloca o País à beira de um ataque de nervos.
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As últimas previsões do Banco de Portugal foram uma espécie de cataclismo. Multiplicaram-se as análises de especialistas, que cada vez são menos especialistas e mais palpitadores de boletim do totoloto desdizendo hoje aquilo que disseram ontem, multiplicando a confusão, revelando a efemeridade das suas próprias previsões e a vacuidade das suas análises. Para alimentar ainda mais este estado de demência económica e financeira, a política entrou na fase superior da hipocrisia.
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Como bem sublinhava Emídio Rangel, é de um mau gosto, para não dizer insultuoso, o prazer sádico com que alguma oposição saboreia, e se apraz, com esta terrível situação, suportando-se nas leituras simplistas e populistas de que o Governo é o culpado de tudo.
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É contra esta mediocridade que se deve compreender o último discurso de Cavaco Silva. Embora muitos empresários não tenham gostado, embora o Governo tenha sido zurzido, e o espectro político em geral, a verdade é que a situação é de tal maneira complicada que não vai lá com meras operações de cosmética, com maquilhagem estatística, com a cultura do subsidiozinho que fez de Portugal um país de subsidiodependentes. De esquemas. De cunhas. De intercessões milagrosas junto deste ou daquele ministro.
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A chulice da riqueza pública é a maior doença nacional. A fonte produtora de caciques, clientes e serventuários. De negócios menos claros, de investimentos que resultam em catástrofes. E é por aqui que tem de começar a reforma que nos permite emergir desta crise. Procurando a transparência, a coragem de ser responsável por grandes vitórias mas também pelas grandes derrotas. Ou seja, acabar de vez com a politiquice de feirante e casuísmo que hoje domina a vida pública portuguesa. O País precisa de mudar. E rapidamente. Ou então este furacão que está a devastar as economias europeias vai transformar-nos nos pedintes mais tesos, embora espertalhaços, quando os ventos da reanimação começarem a soprar. E nestes tempos, mais do que o palpite vale a sensatez.
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Mais do que soluções milagrosas ou previsões catastróficas, é fundamental saber transformar o medo em coragem, a desorientação em serenidade e determinação.
Ou não restará País com decência para os nossos filhos.
Francisco Moita Flores
in CM
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