
AOFA debate promoção do coronel Jaime Neves
por Manuel Carlos FreireHoje
A Associação dos Oficiais das Forças Armadas vai analisar o processo de promoção do coronel comando Jaime Neves a major-general, que só aguarda a promulgação do Presidente da República
O Conselho Deontológico da Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) vai analisar, segunda-feira, o processo de promoção de Jaime Neves a major-general.
"Vamos analisar o caso, a polémica que se gerou", disse ontem ao DN o presidente da AOFA, coronel Alpedrinha Pires, que requereu aquela reunião para a direcção, no dia seguinte, decidir se toma posição, em que sentido e como.
Alpedrinha Pires adiantou um outro pormenor: "No processo de reconstituição das carreiras [prejudicadas pelo 25 de Abril], havia um consenso de que não haveria promoções a oficial general". Agora, "com os problemas que existem ao nível das carreiras, com oficiais no activo por promover, haver iniciativas que levam a uma promoção sem assegurar qualificações" justifica que se pondere o que fazer, adiantou o líder da AOFA.
A promoção de Jaime Neves já foi enviada pelo ministro da Defesa ao Presidente da República, a quem cabe confirmar e promulgar. O debate interno da AOFA é mais uma expressão da polémica criada pela promoção de Jaime Neves, reconhecendo o seu mérito como militar mas feita 28 anos depois da sua saída das fileiras.
Em causa está a avaliação das consequências da medida para o prestígio do universo dos associados da AOFA, até pelos comentários de muitos oficiais e que, talvez por serem de outra geração, se mostram contrários àquela promoção, adiantou a fonte.
Entre as últimas vozes que apoiam a decisão de promover Jaime Neves está o coronel reformado Morais da Silva - o chefe do Estado-Maior da Força Aérea contra quem se revoltaram os pára-quedistas a 25 de Novembro de 1975.
"Testemunhei a sua determinação, quando foi preciso que o então Presidente da República general Costa Gomes tomasse as decisões necessárias para enfrentar a sublevação do Regimento de Pára--quedistas (...). Depois, quando ocupou o Comando Operacional da Força Aérea em Monsanto e, finalmente quando, ao Comando das Forças de Comandos no assalto ao quartel da Polícia Militar em que, apesar de recebidos a tiro e já com duas baixas fatais, conseguiu, com admirável sangue frio, evitar uma resposta que se transformaria num perda enorme de vidas", escreveu Morais da Silva.
Quem não se convence são os coronéis Vasco Lourenço e Matos Gomes: "Que dívidas tem a Pátria para que se estejam a fazer pagamentos prestações?" Brandão Ferreira, insuspeito de ligações à esquerda, também discorda. "Não faz sentido absolutamente nenhum promover [Jaime Neves] outra vez". Para este tenente-coronel, as injustiças remontam a 1974/75: "Em vez de se avaliar quem se portou bem e mal, segundo a virtude e a honra militares, não se fez nada". Pior, "elaborou-se outro erro: foram todos reintegrados, promovidos a coronéis..."
O general Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, disse ao DN que a promoção "é uma forma de corrigir um erro" cometido em 1975, data em que ela deveria ter sido feita "e não suscitava tantas críticas. Não me choca, ele esteve à altura e arriscou". Em 1995, Jaime Neves foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a medalha da Ordem Militar da Torre e Espada.
In DN
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