terça-feira, 1 de julho de 2008

A Justiça cá pelo sitio...

MERECER SER MERITÍSSIMO
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Só para lembrar: prosseguem os julgamentos em Palermo e na Sardenha, ou não?
Sim, na Sicília, onde ser mulher de juiz pode levar, no mercado, a escutar esta pergunta assustadora: "A senhora mora na rua X, no terceiro esquerdo, não é?"
Sim, na Sardenha, a capital dos raptos, onde os filhos dos juízes vão à escola. E, então, os juízes continuam a julgar? Pelo que eu sei dos costumes indígenas (os da minha terra), não deviam. Deviam suspender por falta de condições de segurança.
Já vi um julgamento de mafiosos em Palermo. Agora é que me dou conta do que devia ter achado estranho e me fizeram, lá, passar por natural: havia uma cabina à prova de bala e, dentro, não estavam os meretíssimos. Protegia, sim, os mafiosos.
Lembro-me, ainda (na altura não me dei conta, notícias recentes é que mo fizeram recordar): os juízes estavam de cara à mostra. Não deviam tapá-la ou esconder-se por trás de uma cortina? Não dar o seu nome à notícia pública do julgamento? Se deviam, não o fizeram. Estranho.E porque me agarro ao caso da Sicília?
Em Espanha não há juízes que processam e julgam e condenam os assassinos da ETA? Porque não se escondem?
É que os bandidos de lá é a tiro na nuca.
Porque é que o juiz Baltasar Garzón não se faz simplesmente chamar X? Ou, melhor, não suspende as suas investigações já que o Estado espanhol não lhe garante as condições normais de qualquer cidadão espanhol: andar na Gran Via, a assobiar e sem guarda-costas?
O Estado não lhe dá isso, e ele, naturalmente, suspendia as sua funções. "Não há condições", como antigamente dizia o Zé Maria do Big Brother para tratar das galinhas e dizem alguns juízes da minha terra.
Garzón não viu o Zé Maria, não se deixou influenciar, continuou a trabalhar.Claro que exigiu guarda-costas. Ele e os juízes de Palermo, da Sardenha e do País Basco não são suicidas, nem aqui os chamaria se fossem heróis tolos. Não misturam é o cu com as calças: o facto de serem alvo dos bandidos não os impede de exercer o que são. Não fecham as portas ao primeiro susto.
Combatem quem os assusta tornando-se mais eles, mais juízes. Porque o susto os convenceu ainda mais que são necessários.
As agressões do Tribunal da Feira deviam ter convencido os juízes, assim: "Olha, sou mesmo necessário." Em vez disso, suspenderam-se.Um juiz que suspende julgamentos porque durante um julgamento se cometeu um crime, é um juiz que não acredita que os julgamentos servem para combater os crimes.
E, já agora, do ponto de vista do criminoso: se um crime num julgamento acaba temporariamente com os julgamentos numa comarca, porque não mais crimes desses para prolongar a suspensão de julgamentos?
E porque não estender a táctica a todos os tribunais portugueses
Ferreira Fernandes
in DN

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