Clique na imagem
Foto de Álvaro Fernandes
Corri terras e mares
Corri terras e mares. Resta-me agora
a arte de dar voz à voz de um povo.
Cantar? Pudessem as palavras semear
um sonho. E à gente endurecida
sarar sua surdez e vil tristeza.
Houve um olhar ao sul. E mais ao sul
metade desse olhar perdi-o ao sol
da vã quimera de estar chegando o Dia.
Assim, à voz do mar, perdia a terra
quem no mar, à voz da terra, se perdia.
Desejo de um império ou império do desejo
de dar um nome ao mar e naufragar depois?
Que muito do seu sal (mais tarde alguém dirá)
foram lágrimas choradas na aventura
de irmos mais além, e o mais além ser cá.
Agora, velho e só, aguardo a morte.
Resta-me o Livro. E a arder na noite escura
serão minhas palavras o sinal.
Que se dissipe enfim o nevoeiro
na hora em que se cumpra Portugal!
Manuel Alberto Valente
Sem comentários:
Enviar um comentário