sábado, 18 de abril de 2009

"Retratos de Abril – 35 anos depois"






“Retratos de Abril – 35 anos depois” é o título do livro de fotografia de Veríssimo Dias, silvicultor, biólogo e fotógrafo, nascido em Angola a 19 de Abril de 1945, actualmente a residir em Lisboa. O livro foi apresentado ontem, 17 de Abril, pelas 18h:30m na sede da Associação 25 de Abril em Lisboa. A obra inclui textos de Eduardo Lourenço e Mário Soares, 103 retratos actuais de militares de Abril e o retrato de Celeste Martins, a mulher que ofereceu cravos por não ter cigarros e inscreveu na história o sobrenome da revolução da liberdade.


Vasco Lourenço, Veríssimo Dias, Homem Cardoso, Eduardo Lourenço e Mário Soares, apresentaram o livro e em cada discurso foi possível perceber a comoção e a homenagem grata aos actores que na madrugada de 1974 protagonizaram os actos que tornariam livre a nação portuguesa. Libertação sonhada por eles próprios e por todos os portugueses que viveram conscientemente os anos da ditadura.


Na introdução do seu livro, Veríssimo Dias estabelece uma comparação entre aquilo que considera que é a essência de um retrato - a captação da luz interior e o indizível silêncio da alma dos retratados – e o mesmo silêncio pleno de conteúdos que cada um dos militares de Abril pode ter a revelar. O autor realizou o seu trabalho no plano das duas dimensões clássicas da fotografia, como refere no final do seu intróito. Pela fresta espreitou o mundo e pelo espelho deixou que se reflectissem a sua essência de fotógrafo, de pessoa que vê porque acredita. Foi assim que pôde entrar na alma dos militares com a honra, o decoro e o respeito que tais homens merecem e, deste modo, os congelou para a eternidade, sentindo-se por isso, também ele, um militar de Abril a tentar contribuir para um mundo mais fraterno e mais justo.




A obra de Veríssimo Dias mereceu o aplauso dos oradores e dos presentes, tendo sido considerada um documento essencial no conjunto da bibliografia sobre a Revolução de Abril e, deste modo, um excelente instrumento para todos os que no futuro quiserem interpretar e explicar o presente através dos acontecimentos de um passado que estará cada vez mais distante, mas nunca será apagado ou esquecido.


No final da cerimónia de lançamento dos Retratos de Abril subimos ao restaurante da Associação 25 de Abril para um jantar convivial e comemorativo dos 35 anos da Revolução e desta obra magnífica que tivemos o prazer de adquirir e trazer para casa luminosamente autografada pelo seu autor num fim de tarde em Abril.


Depois do repasto mudámo-nos para o bar de armas e bagagens, sendo as armas os exemplares dos livros recém-adquiridos e as bagagens os nossos olhos perscrutadores e ansiosos por descobrir e interpretar o tal silêncio que o fotógrafo nos revelou estar repleto de teores. Ainda levámos as palavras na ponta da língua e os dedos mortinhos por afagar a macieza do papel couché. Na verdade, um momento de muita honra e comoção. Afinal, tínhamos entre nós um dos famosos capitães. Um homem que sempre nos guia e nos elucida nas várias incursões ao cerne dos acontecimentos e nos ajuda, também ele, a ver porque acreditamos.

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Texto de Graça Brites
Fotografias de Victor Camiller com Nikon DX60 de Zigoto


2 comentários:

Blimunda disse...

Uma bela e oportuna obra passados 35 anos da revolução dos cravos. Bela porque o autor nela se empenhou com toda a sua arte, oportuna porque o tempo passa... e cada vez são menos os testemunhos vivos daquele dia 25 de Abril.
Parabéns ao Veríssimo pelo seu empenho no "Retratos de Abril-35 anos depois".

zigoto disse...

Embora tivesse reparado num camera man da RTP, que se fartou de filmar - e ter sido a única televisão presente - o certo é que desconheço quaisquer reportagens publicadas hoje nos meios de comunicação social portugueses.
Felizemente, encontravam-se entre nós dois autores de O Cacimbo: Graça Brites e Victor Camiller.
A excelente reportagem que fizeram e aqui fica publicada - além do meu agradecimento - merece o seguinte comentário:
Por mais que fascistóides e apaniguados tentem apagar da História o 25 de Abril, nunca o conseguirão.
Aliás, e com as atitudes que têrm tomado - e a que decidiram chamar crise - convém que ponham as barbas de molho.
Julgo que quando forem chamados à responsabilidade do que se passa no mundo, não haverá capitães de Abril nem cravos nos canos das espingardas.