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As palavras - seguramente escolhidas a dedo - de Cavaco Silva suscitam um comentário e um lembrete.
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O comentário: definir as "prioridades estratégicas" do país e os caminhos que nos hão-de libertar da "quase estagnação" económica em que temos vivido costuma ser uma tarefa dos governos, senão mesmo a sua principal tarefa.
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O lembrete: Mário Soares, quando era presidente na República na altura em que Cavaco Silva liderava um Governo social-democrata com maioria absoluta no Parlamento, também teve, a dada altura, esta tentação de mostrar ao país que os caminhos que estavam a ser trilhados pelo Executivo de então não eram os melhores para o futuro dos indígenas. Se bem se recordam, as presidências abertas do ex-chefe de Estado deram que falar, pelo significado (e impacto) político que tinham.
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A pergunta é: Cavaco Silva está a entrar em zonas politicamente perigosas, ao dizer que não lhe cumpre apenas diagnosticar os problemas, mas também apontar os "caminhos"? José Sócrates tem direito a ficar melindrado com o mais alto magistrado da nação?
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O chefe de Estado sabe que o período de três eleições que aí vem tenderá a aquecer ainda mais o clima político, que já se encontra uns graus acima do desejável. O"caso Freeport" atira a Justiça para a lama. As relações entre Sócrates e Ferreira Leite fecham a porta a qualquer acordo de fundo. O PSD mantém-se sossegado na Oposição. A crise económica tende a agudizar as tensões sociais, tão bem aproveitadas pelos sindicatos e pelos partidos mais à Esquerda, e a desesperar quem está em dificuldades. E por aí fora, numa série de (maus) sinais que o presidente da República começa a ver com séria preocupação.
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De modo que aquilo que Cavaco Silva nos quer dizer é (parece ser) isto: apesar de não lhe caber legislar ou governar, cabe-lhe defender o Estado e os cidadãos e instituições que o compõem. Ou seja: o presidente acha que os interesses de uns e outros não estão a ser devidamente acautelados. Vale o mesmo dizer que, com estes recados, Cavaco passa um atestado de incompetência ao Governo e à Oposição . Eu, por mim, agradeço-lhe a atenção. E a preocupação.
Paulo Ferreira, JN
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