
Aveiro: «Elevação a cidade não se justificava»
Historiador considera que foi acto político
Aveiro não justificava ser cidade e foi-o por razões políticas, defende o historiador Amaro Neves no dia em que se comemoram 250 anos sobre a assinatura, por D. José I, da elevação a cidade, refere a Lusa.
Amaro Neves descreve Aveiro de há 250 anos como uma pequena vila muralhada, de feição medieval, ainda que de carácter burguês, devido às actividades salineiras, piscatórias e mercantis, mas que se encontrava decadente devido ao assoreamento da Ria.
A elevação a cidade, sustenta, «foi justificada por um pseudo-atentado contra o rei, já que não há provas seguras de que o atentado tenha existido», de que seria tido como principal responsável o duque de Aveiro.
Cortada a cabeça do duque, havia que granjear a simpatia das pessoas tuteladas pelo duque de Aveiro. Entendeu o rei que essa seria uma forma de compensação, mas diria mais. Foi também uma atitude delimitadora da Diocese de Coimbra, porque para Aveiro ser cidade passaria também a ser sede de diocese, como veio a sê-lo.
«A maior parte do território da nova diocese foi retirado à de Coimbra e era a parte mais rica», conclui.
Aveiro ascende à categoria de cidade num período de acentuado decréscimo demográfico, em que a barra natural de ligação do Rio Vouga ao Oceano se assoreava e deambulava para sul, dificultando a passagem das embarcações mercantis.
Emigração em massa para Brasil
A Ria, sem saída franca das águas para o mar, tornava-se num enorme charco, propício às epidemias e definhando as actividades económicas. «As pessoas fugiram em grande número, nomeadamente para o Brasil. Por algum sal, por alguma pesca, a zona da beira-mar, fora de muralhas, ainda conseguia ter alguma prosperidade, mas todo o casario do coração da vila, que é hoje o centro da cidade, ficou ao abandono durante quase 100 anos», descreve o historiador.
Amaro Neves explica assim o facto de poucas edificações de há 250 anos ainda hoje subsistirem, mais do que com a pobreza dos materiais, numa zona onde a pedra vinha de fora.
«Quando se dá o retorno da população com a abertura da barra, a maior parte dos edifícios eram escombros e as muralhas estavam decadentes. Havia construções nobres de boa qualidade arquitectónica, como o Palácio dos Tavares, que depois foi o Paço Episcopal, ou o Palácio de D. Brites Lara, mas não eram muitas, até porque havia desde tempos remotos a proibição de que os nobres fizessem a sua casa-sede em Aveiro», explica.
Contrariando a tendência de empobrecimento da vila, assiste-se ao enriquecimento de várias casas religiosas, visível nas talhas barrocas das suas igrejas, fosse por legados e heranças, a que não será alheio o declínio demográfico, fosse pela gestão empreendida.
Amaro Neves salienta que as casas conventuais «tinham todo o interesse em serem boas administradoras do património herdado» e «quase todas possuíam marinhas e ligações à actividade da pesca, pelo que se pode dizer que tinham uma empresa bem montada».
Relembrar Aveiro desse tempo e assinalar a elevação a cidade é o que pretende a Câmara Municipal, através de um conjunto de iniciativas que tem este sábado um dos seus principais momentos numa sessão solene.
Durante a cerimónia será feita uma alocução histórica sobre «Aveiro: Identidade e Memória» por Inês Amorim e apresentado o projecto do «Memorial da Fundação da Cidade. Porta do Sol», pelo arquitecto Siza Vieira.
In Portugal DiárioAveiro não justificava ser cidade e foi-o por razões políticas, defende o historiador Amaro Neves no dia em que se comemoram 250 anos sobre a assinatura, por D. José I, da elevação a cidade, refere a Lusa.
Amaro Neves descreve Aveiro de há 250 anos como uma pequena vila muralhada, de feição medieval, ainda que de carácter burguês, devido às actividades salineiras, piscatórias e mercantis, mas que se encontrava decadente devido ao assoreamento da Ria.
A elevação a cidade, sustenta, «foi justificada por um pseudo-atentado contra o rei, já que não há provas seguras de que o atentado tenha existido», de que seria tido como principal responsável o duque de Aveiro.
Cortada a cabeça do duque, havia que granjear a simpatia das pessoas tuteladas pelo duque de Aveiro. Entendeu o rei que essa seria uma forma de compensação, mas diria mais. Foi também uma atitude delimitadora da Diocese de Coimbra, porque para Aveiro ser cidade passaria também a ser sede de diocese, como veio a sê-lo.
«A maior parte do território da nova diocese foi retirado à de Coimbra e era a parte mais rica», conclui.
Aveiro ascende à categoria de cidade num período de acentuado decréscimo demográfico, em que a barra natural de ligação do Rio Vouga ao Oceano se assoreava e deambulava para sul, dificultando a passagem das embarcações mercantis.
Emigração em massa para Brasil
A Ria, sem saída franca das águas para o mar, tornava-se num enorme charco, propício às epidemias e definhando as actividades económicas. «As pessoas fugiram em grande número, nomeadamente para o Brasil. Por algum sal, por alguma pesca, a zona da beira-mar, fora de muralhas, ainda conseguia ter alguma prosperidade, mas todo o casario do coração da vila, que é hoje o centro da cidade, ficou ao abandono durante quase 100 anos», descreve o historiador.
Amaro Neves explica assim o facto de poucas edificações de há 250 anos ainda hoje subsistirem, mais do que com a pobreza dos materiais, numa zona onde a pedra vinha de fora.
«Quando se dá o retorno da população com a abertura da barra, a maior parte dos edifícios eram escombros e as muralhas estavam decadentes. Havia construções nobres de boa qualidade arquitectónica, como o Palácio dos Tavares, que depois foi o Paço Episcopal, ou o Palácio de D. Brites Lara, mas não eram muitas, até porque havia desde tempos remotos a proibição de que os nobres fizessem a sua casa-sede em Aveiro», explica.
Contrariando a tendência de empobrecimento da vila, assiste-se ao enriquecimento de várias casas religiosas, visível nas talhas barrocas das suas igrejas, fosse por legados e heranças, a que não será alheio o declínio demográfico, fosse pela gestão empreendida.
Amaro Neves salienta que as casas conventuais «tinham todo o interesse em serem boas administradoras do património herdado» e «quase todas possuíam marinhas e ligações à actividade da pesca, pelo que se pode dizer que tinham uma empresa bem montada».
Relembrar Aveiro desse tempo e assinalar a elevação a cidade é o que pretende a Câmara Municipal, através de um conjunto de iniciativas que tem este sábado um dos seus principais momentos numa sessão solene.
Durante a cerimónia será feita uma alocução histórica sobre «Aveiro: Identidade e Memória» por Inês Amorim e apresentado o projecto do «Memorial da Fundação da Cidade. Porta do Sol», pelo arquitecto Siza Vieira.
In Portugal Diário
1 comentário:
Há coisas que neste País nunca mudam.
A que propósito Sócrates foi "elevado" a primeiro-ministro e Durão Barroso a Presidente da Comissão Europeia?
O pior de tudo é que ainda existem eleitores a pensar em reconduzi-los.
É obra...
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