segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eleições e ilusões...

A Páscoa tem destas coisas. Arranjam-se uns dias de descanso, com tolerâncias de ponto pelo meio, e a malta pira-se para a santa terrinha ou para as habituais praias algarvias na tentativa legítima de esquecer o mais possível um quotidiano cheio de incertezas e de muito medo. Sim, medo.
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Não, não é medo dos processos do senhor presidente do Conselho contra colunistas e jornalistas, em que avança com chorudos pedidos de indemnização que as empresas de comunicação social terão de reflectir nas contas que apresentam aos seus accionistas. Não, não é medo de perder lugares, mordomias, prebendas e outras coisas mais que os partidos políticos destinam a uma mão-cheia de serventuários que andam por aí a fingir que isto é uma democracia a sério. Não, não é medo das medidas fascizantes, como as classificou e bem Manuel Alegre, de um bando de chefes e chefinhos da administração pública que andam por aí a regular saias, decotes, perfumes e roupa interior.
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Não, não é medo de uns higieno-fascistas que aprovam leis sobre o sal no pão e que por este andar vão legislar sobre a dieta alimentar dos indígenas, as horas de deitar e de acordar, a quantidade de álcool que podem beber e a doçaria que devem comer e a que horas do dia. Não, não é medo de magistrados que acham normalíssimo andar a dar recados do senhor presidente do Conselho e do senhor ministro da Justiça a colegas que investigam um caso em que o senhor engenheiro civil está envolvido. Não, não é medo de magistrados que há muito perderam a vergonha na cara e não se demitem nem são demitidos dos cargos que ocupam. Não, não é medo destas tristes e miseráveis realidades.
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O medo de muitos indígenas que por fatalidade vivem neste sítio pobre, hipócrita, manhoso e cada vez mais mal frequentado é bem diferente. É o medo de não terem futuro, é o medo de filhos e de netos continuarem a não ter futuro devido a políticas erradas, a políticas assassinas, a políticas que inevitavelmente vão levar o sítio para o abismo com um endividamento externo incomportável que será pago, e bem pago, por várias gerações.
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Mas o medo no sítio não é de hoje, é ancestral, é um medo salazarento, um medo de romper com um passado triste e um presente muito miserável, um medo de mudança, um medo reaccionário, um medo de incomodar e zangar. Um medo presente nas eleições e que impede os indígenas de usarem os votos para pôr em sentido a clique instalada no poder.
António Ribeiro Ferreira
in CM

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