Contrariando as teses do seu cabeça de lista às eleições europeias, o eng. Sócrates anunciou o "apoio patriota" do PS à recandidatura do dr. Durão Barroso. Orgulhoso com as "posições diferentes" que existem no partido, o eng. Sócrates não deixou, no entanto, de sublinhar que só não entende este "apoio patriota" quem tiver "uma mentalidade sectária", como parece ser o caso do seu cabeça de lista.
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Esta gloriosa divergência animou uma série de comentários certeiros sobre o "provincianismo" de um primeiro-ministro que submete toda a ideologia a uma espécie de retórica piegas e oportunista, sob pretexto do que o que é nacional é bom. Por este andar, ainda vamos ver o partido socialista defender os heróis mais improváveis, desde que sejam portuguesinhos como nós e mereçam meia dúzia de linhas em qualquer gazeta internacional.
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Para já, limitamo-nos a verificar o suicídio estratégico de uma campanha laboriosamente engendrada que dava como adquirida a "especificidade" destas eleições. Na apresentação da sua candidatura, o dr. Vital Moreira anunciou, com a merecida pompa e circunstância, que concorria contra os acólitos do "neoliberalismo" europeu, tentando solenemente distanciar-se de todos os sarilhos domésticos e dos bons ofícios deste Governo. A sua luta, por uma Europa diferente, não se compadecia com pequenas querelas partidárias que visavam, antes de mais, distorcer o verdadeiro objectivo destas eleições, transformando--as ilegitimamente numa primeira volta das legislativas. Infelizmente, a Europa que o dr. Vital Moreira, na sua cruzada contra o "neoliberalismo", procurava derrubar, recebeu, agora, o apoio declarado do partido em nome do qual ele decidiu avançar.
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Por outras palavras, o dr. Vital Moreira que ia ser eleito contra os "rostos do passado" que, como o dr. Durão Barroso, se deixaram seduzir pelos excessos do mercado e pelas aventuras do sr. Bush, transformou-se, de repente, por obra e graça do destino, no candidato oficial de um partido que apoia precisamente tudo aquilo contra o qual ele, na sua candidatura, garantiu que se ia candidatar. Esta saudável "diferença de posições", como diz o eng. Sócrates, não esconde o que verdadeiramente é: uma irresolúvel contradição que retira qualquer legitimidade política aos objectivos que o dr. Vital Moreira definiu para concorrer em nome do PS e do socialismo europeu.
O "rosto do passado" que o socialismo europeu tinha como adversário é o mesmo que o PS do eng. Sócrates procura agora recuperar.
Constança Cunha e Sá
in CM
terça-feira, 14 de abril de 2009
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